sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O contexto maior de Veríssimo

Ao final do texto, disponibilizado o link para o texto de Luis Fernando Veríssimo, originalmente publicado no jornal O Globo, mas reproduzido no site do GGN, que inspirou esse meu texto. Sempre vale a pena ler Veríssimo.
No texto, Veríssimo nos fala sobre a importância de analisar a situação política atual com uma visão de longo prazo ou, como ele denomina, sob uma perspectiva de "contexto maior".
Veríssimo, como sempre, um sábio. Curioso é alguém tentar desmerecer a erudição evidente dele. Talvez haja um quê de inveja nesse desdém. E, desde logo, é bom esclarecer que erudição e sapiência não estão relacionadas e que uma não é condição necessária da outra, mas Veríssimo detém ambas as qualidades.
Quanto à visão de longa duração, o contexto maior de Veríssimo, é absolutamente necessária para que saibamos escolher nossas boas batalhas. Infelizmente,há em geral uma clara opção, da parcela mais afortunada de nossa sociedade, da visão de curtíssimo prazo, além de dificuldade em relacionar assuntos e interesses que, num primeiro momento, aparentam não ser coincidentes, como a pauta das manchetes da imprensa e a luta pelo poder de verdade (poder de verdade, repito e enfatizo).
Por conta dessa característica, certamente um elemento cultural ancestral, algumas coisas simplesmente não são vistas e, ainda que comunicada por um observador mais atento, são levadas à conta de inacreditáveis.
Assim, não adianta falar em um projeto político de habilitação econômica, educacional e cultural de uma considerável parcela da população, projeto esse que causa o desconforto que conduz o stablishment a combatê-lo ferozmente. Isso não é captado, sendo classificada jocosamente de teoria da conspiração.
Não se percebe que a conspiração é totalmente desnecessária, pois há uma ideologia comum estabelecida que serve como convergência natural de entendimentos e comportamentos.
Quando se fala em números e estatísticas de fontes confiáveis que revelam avanços, a reação vem em forma de discursos de manipulação e incredulidade. Por outro lado, qualquer acusação, por mais inacreditável que seja, é aceita a partir de argumentos de senso comum. Funciona assim: se todos os jornais dizem que Lula é corrupto, a notícia de que Lulinha é dono da Friboi é verdadeira e não importa a apresentação de provas em contrário.
Inversamente, esse mesmo senso comum idiota (na acepção original da palavra) induz à descrença de que os projetos em andamento, que fomentam o desenvolvimento social e que, por isso mesmo, remetem a resultados em médio prazo - dez, vinte anos -, tais como bolsa-família, Prouni, Fies e tantos outros, nada disso importa em comparação com as manchetes diuturnas sobre corrupção.
E não adianta falar em corrupção sistêmica, que esteve em todos os governos (inclusive no do sociólogo), em avanço fenomenal no combate à corrupção, na liberdade de atuação da Polícia Federal, da Procuradoria e da Justiça, que finalmente estão levando criminosos poderosos, pela primeira vez nessa magnitudade, à cadeia. É perda de tempo falar que há um interesse geo-político em relação ao petróleo, que já justificou uma invasão a um país soberano, como o Iraque, para o controle de sua economia, e que pode explicar o que estão fazendo agora com a Petrobras. Não invadem o Brasil porque o Brasil não é o Iraque. Aqui a abordagem é diferente: a guerra é underground, quem age são os assassinos econômicos, através da manipulação de biografias e da corrupção do mercado. Para alguns, nada disso importa, só o senso comum produzido pelas manchetes.
Contexto maior? Piada. A visão é estreita, não chega à esquina.
Assim como tivemos que aguardar um operário chegar à presidência para este país começar a mudar onde efetivamente importa, coisa que os vários presidentes acadêmicos antes dele não conseguiram, tomara os pobres, sem educação formal, na sua simples condição de eleitores, continuem a nos iluminar com a sabedoria popular e a realizar o que os formados em faculdade não conseguem: enxergar a ligação entre o imediato e o futuro, isso que é o contexto maior de que nos fala Veríssimo.

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