O
partido que lidera o golpe, o PMDB forneceu um total de 59 votos
favoráveis ao golpe e dois contra. O PMDB do Rio colaborou com nove
votos a favor do processo e dois contra. Um massacre.
O
"líder do governo", Leonardo Picciani encenou, de modo
pouco convincente, o papel de homem fiel ao governo do qual é líder,
votando contra o impeachment, logo após ter orientado seus liderados
a votar a favor.
No
dia 08 de dezembro de 2015, em texto publicado no blog, esse
resultado foi previsto, inclusive em relação ao desembarque maciço
do PMDB.
O
texto não foi bem aceito, muito provavelmente, e de modo
compreensível, porque não era o momento para pessimismos, ainda que
fundados em realidade patente e cristalina (talvez ainda não seja). Eis o link:
http://marciovalley.blogspot.com.br/2015/12/o-impeachment-passara-dilma-perdera.html
e o trecho que previa o comportamento do PMDB no golpe:
"(PSDB e PMDB)
Estarão juntos, sem dúvida alguma, no impeachment da Dilma.
É ingenuidade supor
que parte do PMDB se manterá fiel à Dilma. Se ocorrer, será com
pequena porção de seus integrantes. A maior parte dos peemedebistas
votará pela abertura do processo e, depois, pela cassação, pois é
da natureza do escorpião picar quem o está salvando.
O PMDB
historicamente se aproveita dessas oportunidades. Foi assim com
Sarney, foi assim com Itamar e será assim com Temer. É um partido
ciente de que não conseguirá a presidência diretamente, em
eleições. Assim, não pode se dar ao luxo de perder oportunidades
nas quais consiga concorrer à vice-presidência e, conseguindo-a, de
trabalhar para defenestrar o presidente eleito e se apropriar do
poder. Não será dessa vez que deixará a oportunidade passar.
Engana-se quem pensa
que o PMDB do Rio fechará com Dilma. No máximo, manterá as
aparências, o discurso falso de apoio, mas, a dimensão da chance
real presente já foi avaliada. Trabalharão por Temer. Os
peemedebistas cariocas possuem a mesma, talvez pior, natureza
escorpiônica inerente ao partido. O Rio de Janeiro é dominado pelo
PMDB, com figuras como Picciani, Paulo Melo, Sérgio Cabral, Moreira
Franco e outros do mesmo naipe. É preciso ser insano politicamente
para dar um voto de confiança ao PMDB do Rio."
Tal
predição em nada se altera agora que a questão passa para o
Senado: o impeachment passará e Dilma cairá. Por bem-vinda que seja
a declaração de Lewandowski, de que a tipificação do crime de
responsabilidade poderia ser reanalisada pelo STF, a composição
pusilânime do tribunal superior não irá contrariar o julgamento no
mérito quanto à configuração do inexistente crime de
responsabilidade.
Do
PSDB, com cem porcento de votos a favor do processo, e do PMDB, com
noventa porcento, não se poderia esperar atuação outra que não
fosse à do escorpião que pica e envenena o povo que os elegeu: é
sua natureza pervertida inelutável e esse é o vexaminoso papel que
lhes cabe na história, como herdeiros da trajetória golpista da
extinta UDN.
Fica,
todavia, o travo amargo pela conduta desonrosa que se propôs
desempenhar o PSB, partido que se pretende socialista e que, todavia,
se filiou ao golpismo mais abjeto, votando a favor do impedimento de
Dilma sob o pálio do combate à corrupção e assim conduzindo Temer
e Cunha ao poder, políticos que são, como todos sabemos, os mais
puros e honestos desse país.
Destaca-se,
ainda que em atuação bastante superior à do PSB, o lamentável
desempenho de parcela considerável do PDT, com um terço de seus
deputados votando pela continuidade da farsa.
Essa
batalha, a do impedimento, está perdida. E, repetindo as conclusões
do texto escrito em dezembro, não haverá guerra civil em defesa do
PT. Ocorrerão fortes manifestações no calor da vitória golpista,
que irão entretanto amainar pouco a pouco e em pouco tempo. Em dois
ou três meses Temer se sentirá confortável até para viajar e
deixar o Cunha na interinidade presidencial. Será um belo espetáculo
de hipocrisia que, claro, passará em branco pelos jornalões.
E
ante o massacre praticado há treze ininterruptos anos pela mídia,
será muito difícil que o PT vença a eleição presidencial de
2018. Considero uma façanha se Lula conseguir se candidatar sem
antes ser condenado por alguma coisa, qualquer coisa. Talvez nem devesse vir candidato a presidente.
Seja
isso pessimismo ou realismo, é o que se pode esperar do lamentável
momento histórico que atravessa nossa política.
Porém,
o que pode, em análise precipitada, ser entendido como revés, pode
vir a se revelar como enorme oportunidade para a recuperação de
nossas esquerdas.
A
falsa esquerda, como PSB, PPS e PV perderam os escrúpulos e, com
eles, foi-se completamente qualquer pífia credibilidade que ainda
resguardassem. Irão disputar com o PSDB, PMDB, DEM e quetais os
eleitores de direita ou de inclinação fascista.
A
esquerda ideológica, como PSol e PC do B, sai fortalecida, ainda
mais admirada pelos antigos simpatizantes e recebendo novas adesões.
É muito provável que aumentem suas bancadas.
O
PT eventualmente poderá vir a perder a presidência, ganha, porém,
a possibilidade de ser livrar dos filiados oportunistas e de obter
maior densidade no esmaecido viés ideológico dos tempos idos.
Também poderá ampliar sua base parlamentar.
E,
assim, isso é o mais importante, as esquerdas autênticas, em seu
conjunto, possivelmente com o PT na liderança, poderão trabalhar as
campanhas e alcançar uma dimensão inédita no parlamento.
O
parlamento é o ambiente democrático por excelência e foi deixado
de lado como elemento de ambição política pelo PT, seduzido pelo
enganoso canto de sereia do executivo federal. O resultado dessa
inapetência pelo legislativo ficou evidente no julgamento de hoje: o
Congresso encontra-se dominado por bancadas de interesse, como os
religiosos, principalmente protestantes pentecostais que a todo
momento invocavam histericamente o nome de Deus para votar contra o
povo, pelos patrimonialistas oligárquicos com o peso dos sobrenomes,
como Maias, Piccianis e Cabrais, e pelas bancadas corporativas.
Segundo
o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), em
contagem otimista, as eleições parlamentares anteriores conduziram
à Câmara dos Deputados 30 deputados representantes de empresas de
segurança, 52 votando em nome de igrejas evangélicas e outros 190
da área corporativa.
Vale
reproduzir trecho do texto "Eleição de 2018: atenção ao
legislativo", escrito em outubro de 2015:
"As eleições
passadas para o legislativo, em 2014, produziram o congresso
certamente mais obscurantista das últimas décadas e possivelmente o
pior da história do Brasil. Congresso que se apresenta com uma
tessitura política engendrada a partir de um conservadorismo que se
poderia considerar honesto, mas é manchado ao se aliar, por mero
oportunismo político, à pior espécie do conservadorismo
fundamentalista religioso e à fatia mais abjeta do patriamonialismo
político.
Tem-se, pois, nada
mais, nada menos, do que 272 deputados federais inclinados ao
conservadorismo, ao obscurantismo e à redução dos direitos e
liberdades individuais. Como são 513 deputados federais que formam a
Câmara dos Deputados, isso significa que 53% de sua composição é
hoje formada por políticos que atuam na contramão dos avanços
civilizatórios.
O horror, o horror!
Um congresso dessa
qualidade precisa ser urgentemente defenestrado e renovado.Impõe-se
ampliar o número de parlamentares com ideias arejadas sobre a
questão social, não somente em relação à mitigação da
desigualdade de renda e riqueza, importante por óbvio, mas também
quanto a questões sensíveis envolvendo direitos das minorias, como
os preconceitos em geral e notadamente o racial, direitos
homoafetivos, a questão do aborto e outros. São assuntos que, com
essa composição congressual, somente serão colocados em pauta com
o objetivo de cassar conquistas, jamais para avançar.
Com um congresso
abjeto, como o atual, de pouco ou nada adianta conquistar a
presidência. Fica-se amarrado à lógica fisiologista de produzir
governabilidade a qualquer custo, com a única alternativa de lutar
contra a sanha oposicionista e sucumbir, pois, sem maioria no
Congresso e sem o apoio da imprensa, não há chance de vitória.
Está
faltando conferir peso e força à bancada do povo no Congresso,
papel histórico das esquerdas.
Lula, se candidato a deputado federal, seria facilmente eleito e levaria pelo menos mais uma meia dúzia com ele para o Congresso, fortificando a bancada.
Lula, se candidato a deputado federal, seria facilmente eleito e levaria pelo menos mais uma meia dúzia com ele para o Congresso, fortificando a bancada.
Além
dessa possibilidade de ganho de qualidade no legislativo, é muito
possível que a ausência da esquerda no poder executivo federal seja
breve. Os governos petistas apontaram um caminho de dignidade para a
população, caminho esse que não possui mais retorno. Será muito
difícil para partidos de inclinação liberal atender às
necessidades de um povo cada vez mais exigente em relação às suas
demandas coletivas e individuais.
As
ocorrências políticas desse momento, portanto, não devem ser
interpretadas como um derrota da esquerda, mas como um freio de
arrumação do sistema.
O
povo estará atento. Aparentemente, o escorpião picou-se a si
próprio e nem percebeu.
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