Os
adeptos do jogo de sinuquinha sabem bem o que é uma sinuca de bico.
É quando a bola branca se encontra posicionada de tal forma que
impede que a bola do jogo seja atingida diretamente. Nesse caso, o
jogador tem que utilizar a tabela, ou seja, atingir sua bola em dois
ou mais toques. É sempre uma situação difícil de sair, mas não
impossível, dependendo muito da habilidade do jogador. Jogadores
pouco habilidosos tendem a perder a jogada, enquanto jogadores
experientes conseguem usar bem a tabela e sair da dificuldade.
Fica
a indagação: Dilma é uma jogadora habilidosa? Conseguirá usar a
tabela e sair da dificuldade do processo de impeachment?
O
tempo dirá, mas os primeiros sinais são de que sim, ela aparenta
ser habilidosa.
Essa
conclusão é extraída de seus pronunciamentos na ONU e, logo após,
em coletiva para a imprensa internacional.
Na
ONU, colocou-se como estadista, proferindo pronunciamento que jamais
poderia ser qualificado de provinciano e em desespero de causa
própria. Falou 95% do tempo sobre o tema da cúpula e, em 5% ou
menos, sobre os graves problemas internos, apenas ligeiramente, sem
menções diretas e adjetivações. Perfeito.
Nem
a urubóloga (para usar o termo criado pelo PHA para a Míriam
Leitão), nem o Ataulpho (idem, para o Merval) puderam criar
factóides sobre o discurso. Tiveram que aceitar a adequação da
fala de Dilma na ONU. Merval ainda tentou se aproveitar da ausência
da palavra "golpe", no discurso de Dilma, para lançar a
ideia de que ela desistira da estratégia de qualificar de golpe o
processo em curso, adotando a velha tática do "diga o que
disser meu inimigo, suas palavras serão deturpadas". Se ela
tivesse denunciado o golpe, seria criticada por isso; como não
disse, capitulou, segundo o "imortal". Não seria ele o
Merval, escorpião puro, se não agisse assim, aproveitando brechas
para lançar do próprio rabo o veneno da desonestidade intelectual.
Todavia,
na coletiva internacional, Dilma não deixou barato.
Sua
ironia em relação ao temor dos golpistas em relação ao que ela
poderia falar em seu discurso na ONU foi um golpe certeiro: os
golpistas não temem ser golpistas, temem ser desmascarados perante a
opinião pública internacional. Além disso, advertiu os ministros
do Supremo sobre a liturgia que o cargo exige quanto a falar somente
nos autos, notadamente nos casos em que possivelmente terão que
julgar. É isso... Já imaginou um desses ministros sendo reconhecido
e comparado a um golpista de republiqueta de bananas? Como venderão
suas palestras? E... céus! O que constará da Wikipédia em seus
verbetes?
E
mais, Dilma não somente ratificou a tese do golpe, como adiantou o
que fará caso o impeachment passe: irá solicitar ao Mercosul
sanções contra o Brasil, acionando a "cláusula democrática",
que foi adotada contra o Paraguai após o impeachment do presidente
Fernando Lugo em 2012. O caso contra o então presidente paraguaio é
em muitos aspectos similar ao que ocorre agora no Brasil. Lá, como
aqui, apregoava-se a licitude do impeachment, a aprovação pelo
Congresso, a normalidade dos procedimentos e a sustentação jurídica
dada então pelo equivalente paraguaio ao STF. Deu no que deu. O
Paraguai se viu totalmente fora da geopolítica, retornando à
normalidade diplomática somente após as eleições democráticas
seguintes.
Isso
significa que, na hipótese do impeachment passar e Temer assumir, é
muito provável que o Brasil seja excluído do Mercosul até janeiro
de 2019, quando o próximo presidente legítimo será empossado.
Claro,
isso não significa exatamente que, internamente, o golpe não
passará e Dilma não será afastada, mas será um elemento bastante
importante para ser utilizado nas próximas eleições presidenciais.
Não se tratará mais somente da escolha de um dos candidatos. O povo
escolherá entre candidatos democratas e golpistas, plenamente ciente
de que o mundo inteiro, e principalmente o Mercosul, se a sanção
for aprovada, considerou o impeachment um golpe, tanto que alijou o
país do seu significado geopolítico durante mais de dois anos, com
as perdas econômicas e de prestígio daí decorrentes.
A
confirmação do impeachment pelo Senado, se ocorrer, será, talvez,
a maior propaganda política para o PT nas próximas eleições.
A
verdade é que se os golpistas tivessem simplesmente esperado
democraticamente pelas próximas eleições, é muito possível que
os eleitores, já naturalmente cansados pelo longo tempo do governo
petista, viessem a escolher uma nova opção partidária (Marina?
Ciro? Talvez. Aécio, Serra ou Alckmin? Jamais).
A
vacina antidemocrática do golpe, aparentemente, salvou o PT de suas
próprias contradições.
O
PMDB, com ou sem impeachment, tem pouca ou nenhuma chance em eleições
para presidente, com seus principais líderes e candidatáveis sempre
expostos aos próprios currículos pouco invejáveis.
Quanto
ao PSDB, principal ator do golpe, será difícil para seu
constrangido candidato, seja quem for, convencer o eleitorado do
compromisso democrático dos tucanos. Eles se identificaram
espontaneamente com Malafaia e Bolsonaro. Perdeu, mano...
Para
a Marina, sem qualquer identidade política sólida, sustentada por
partido sem expressividade e com a imagem associada à de uma
alpinista política, cujo maior compromisso é com o próprio ego e
vaidade, as chances são remotas. Basta o seu candidato a ministro da
economia falar para suas chances se pulverizarem. Claro que se pode
recordar Collor, com perfil semelhante em sua época e que venceu. O
problema é que o custo da vitória resultou em seu impeachment.
Fazer
prognósticos é sempre um risco, mas o futuro parece ser bastante
previsível: o senado aprovará o impeachment; Temer assumirá; o STF
se verá amarrado aos entendimentos pusilânimes do passado e, como
meio de salvar os egos, agirá como Pilatos; o afastamento será
visto internacionalmente como um golpe contra a democracia; o Brasil
ficará isolado internacionalmente e Temer somente será recebido sem
reservas em Washington; a economia ficará ainda pior; percebendo a
enrascada em que se meteram, o congresso tentará passar uma emenda
para tornar o país parlamentarista; a emenda não passará, mas,
ainda que passe, o PT retornará em 2018.
É
arriscado, mas é possível dizer que, em 2018, pode não ser Lula o
candidato vitorioso do PT, mas Haddad.
Esse
é talvez um panorama muito possível para o futuro de curto prazo do
nosso país.
O
escorpião golpista, afoito, envenenou-se a si próprio e, com isso,
salvou o PT de seu próprio veneno.
Marcio, analise perfeita, no meu entender, embora eu seja menos otimista em prognosticos para o futuro. Acho que ainda haverao de tentar tornar Lula inelegivel para 2018. Depois de mais de uma decada afastada do poder, a republica cafe com leite nao deixara barato. Imagino que tentarao algo, talvez quem sabe mudar o sistema de votacao ( ha discussoes a respeito) para voltarmos a ter votos em cedulas, coisa que propicie artimanhas para favorecer a direita. Tem interesses geopoliticos enormes em jogo. Sabe o que acho, para terminar? O Brasil e estrategico para implantacao de um capitalismo mais selvagem ainda, com direitos trabalhistas minguando e salarios idem. Dando certo aqui, implantam o modelo em toda a America Latina, espalhando-o mundo afora em economias mais debilitadas. Bj, amigo.
ResponderExcluirPrezado Marcio Valley, bom dia
ResponderExcluirNão podemos esquecer o efeito midiático, que por omissão de Lula e Dilma, avalizam esse golpe. Ora, que futuro podemos pensar com a informação monopolizada que ainda recebemos? São perguntas simples que solapam nosso frágil conceito de democracia. Indago, porque Dilma não deu um golpe no golpe, chamando as Forças Armadas, mandando fechar o congresso e o stf, prendendo todos os golpista? Já que não é possível diplomacia com fascistas, que se use a força. Desculpe o radicalismo, mas em qualquer país sério, isso já teria acontecido (Rússia, China e até em alguns da Europa e USA).
Abração
Mário Mendonça