Milhões
de pessoas, fieis ou não da Igreja Católica, aclamam, com justiça,
a sabedoria e a humildade do Papa Francisco I.
Indiretamente,
a fala de Sua Santidade transmite uma lição aos críticos do
bolsa-família, contumazes na construção de discursos racionais,
porém sofistas, que fundamentam uma posição negativa em relação
à continuidade de um programa que transfere um quase inexpressivo
auxílio financeiro em benefício da parcela mais miserável da
população brasileira.
Assim
nos fala o Papa:
"O futuro exige
de nós uma visão humanista da
economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a
participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a
pobreza. Que ninguém fique privado do necessário e que a todos
sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a
via a seguir".
Papa Francisco I.
Poderia
ter dito o santo homem, com o mesmo significado, que a fome de hoje não se resolve
com políticas do amanhã. Que não existem problemas de pobreza
temporários. Que, na verdade, nada disso é importante quando a
miséria se expõe, escancarando sua face horrenda, desumana.
Frente
à miséria real, atual e crua, a primeira medida humanitária que se
impõe é estabelecer uma relação de fraternidade com os
necessitados, como orienta o próprio Papa, concedendo, ou no mínimo
não se opondo a que se conceda, a ajuda necessária emergencial,
proporcionando-lhes a restauração de um mínimo de dignidade.
No
caso do bolsa-família, não se trata sequer de altruísmo
individual, do tipo de generosidade realizado às custas do próprio
bolso, mas de mera concordância com a utilização de pequeníssima
fatia da arrecadação dos impostos que todos pagam, não somente os
que se opõem ao benefício, para aliviar apenas em parte o
sofrimento de quem tem muito pouco ou mesmo nada.
E
a concordância deve ser independente de qualquer outra providência
política possível, paralela e útil, como educação, emprego e
saneamento básico. A educação é ótima e altamente recomendável,
mas não resolve o problema da barriga roncando agora.
A
História registrada da civilização humana conta com milhares de
anos, durante os quais a fome e a miséria jamais se afastaram da
humanidade. Esse foi, é e aparentemente sempre será o preço a
pagar por uma sociedade fundamentalmente ancorada na divisão de
classes, um modelo de sociedade profundamente desequilibrada que a
humanidade adotou em seu início e da qual jamais se desvencilhou.
Ainda
que se admita a persistência nesse modelo comprovadamente deletério,
não cabe insistir em negar à ralé os mais básicos dos direitos,
como à vida, à alimentação e à moradia. A correta assertiva do
Papa funda-se na evidência de que nossa civilização já alcançou
um nível de avanço cultural e intelectual que não mais é
compatível com a existência de bilhões de pessoas passando as mais
horríveis necessidades.
Eis
o mistério da fé finalmente desvendado pelo Papa. A fé na
humanidade que reside dentro de cada um de nós. A fé de que o
inferno não necessariamente precisa ser concretizado na miséria
ainda durante a existência.
Enfim,
a fé de que é possível um mundo mais fraterno e, justamente por
isso, mais justo e igualitário.
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