domingo, 6 de abril de 2014

A Bíblia II - Adão e Eva



Segundo narra a bíblia judaica, em seu livro Gênesis, após criar tudo na terra, nos mares e no céu, inclusive “monstros marinhos”, Deus criou o primeiro homem.
O homem, todavia, não foi criado aleatoriamente, da mera imaginação do arquiteto divino, como parece ter ocorrido com todas as demais coisas. Sendo o homem uma criação especial, merecedora de maior atenção, ele disse “façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.
O que exatamente significariam esses plurais: “façamos” e “nossa”? Seriam vários os deuses e não somente um? Ou seria um plural majestático e nada modesto? Não se sabe. A resposta pode estar mais à frente, como veremos.
Criado o primeiro homem, Deus a ele ordenou que comesse de tudo o que havia no paraíso, menos os frutos da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, porque, se assim o fizesse, ele “certamente” morreria. Assim, ficou ciente o primeiro homem de que o seu pai, criador e amoroso, instituiu, para o ato de comer o fruto da árvore do conhecimento, a pena de morte.

Estando o homem solitário no paraíso, Deus percebeu que ele necessitava de alguém para auxiliá-lo, uma espécie de criada, e então, fazendo-o cair um sono pesado, tomou-lhe uma das costelas e criou a mulher.
É certo que há misoginia na quase totalidade do relato bíblico, que subalterniza o papel da mulher colocando-a como ajudante do homem, não sendo, pois, de estranhar que a mulher, ao contrário de Adão, tenha sido criada com matéria retirada do corpo do homem e não do ambiente.
Isso, porém, encontra provável explicação na possibilidade de que Eva não tenha sido, de fato, a primeira mulher a ser criada. Alguns teólogos defendem a ideia de que outra mulher tenha tido essa honra, uma de nome Lilith.
Deus teria criado Lilith no mesmo processo criativo que gerou Adão, a partir do mesmo barro e com a mesma semelhança com Deus. A possibilidade surge a partir da leitura de Genêsis, onde se lê que Deus criou “o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (1:27). Ou seja, foram criados juntos, homem e mulher, à imagem e semelhança de Deus.
Segundo relatos extra-bíblicos e integrantes da mesma mitologia arcaica que originou a bíblia, Lilith mostrou-se independente demais ao não aceitar a condição que lhe foi imposta de subalterna do homem. Não queria ser inferior ao homem, nem nas atividades do dia, nem nas da noite, pois não aceitava que sempre ficasse embaixo de Adão na hora do sexo.
Dada a sua rebeldia e independência, Lilith foi afastada de Adão, criando Deus a segunda mulher, Eva, esta a partir do próprio corpo de Adão. A afirmação de Adão - “Esta é agora osso dos meus ossos...” parece confirmar isso, pois dá a entender que ele quis dizer “a primeira não provinha de mim e, por isso, não poderia ser minha ajudante, esta agora sim”.
Alguns teólogos afirmam que a serpente que tentou Eva, na verdade, seria uma metáfora para a própria Lilith. Isso pode ser corroborado pela transformação que Deus operou na serpente após ela ter tentado Eva a comer o fruto proibido, pois somente após esse episódio a serpente passou a rastejar sobre o próprio ventre. Antes disso, portanto, a serpente devia possuir pernas ou patas, como todos os demais animais, inclusive o ser humano.
Aqui é interessante chamar a atenção de que Deus ordenou que eles fizessem sexo (Gen:1:28), formando “uma só carne” para “frutificar e multiplicar”, e, em princípio, não criou roupas, pois Adão e Eva estavam nus e disso “não se envergonhavam” (Gen:2:25).
Como se vê, no princípio dos tempos o sexo e a nudez eram atos divinos, autorizados pelo criador.
Entretanto, como se sabe, os rebeldes Adão e Eva desobedeceram à ordem divina e comeram o fruto proibido. Um ponto curioso quanto a esse trecho é que, apesar de Deus ser onisciente, demonstrou não saber previamente que suas crias iriam comer da árvore do conhecimento. Tampouco depois da violação praticada pelo casal Deus aparenta saber o que elas haviam feito e que fora Eva quem colhera o fruto, o comera e estimulara Adão a fazer o mesmo.
De fato, Deus indaga de Adão se ele havia ou não comido do fruto proibido, respondendo Adão que sim, ele havia comido. Estaria Deus fingindo nada saber, para poder demonstrar sua indignação?
Outra coisa interessante é que a pena de morte instituída por Deus para a infração jamais se abateu sobre o casal. Adão viveu por 930 anos (Gen:5:5). Teria sido um blefe divino para intimidar Adão? Deus usaria de artifícios verbais para alcançar resultados?
Como pena alternativa à morte, o Pai criador, sempre amoroso, condenou Adão a trabalhar todos os dias, com esforço e suor, para conseguir comer. Eva foi condenada a sofrer dores horríveis de parto e a ser dominada pelo marido. Ambos foram condenados também a não mais viver eternamente. Então, Deus deu-lhes roupas para vestir e expulsou os filhos do paraíso.
Qual a intenção de Deus ao obrigar o casal a usar roupas, até então dispensáveis? Não se sabe.
Em Gen:3:22, tem-se novamente a uma espantosa declaração do próprio Deus: “Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal”.
O homem é como um de “nós” disse Deus. Novamente um misterioso plural. Seria apenas majestático e auto-enobrecedor, uma espécie de egolatria divina? Ou existiriam vários deuses?
Expulsos do paraíso, Adão e Eva tiveram vários filhos e filhas (Gen:5:4), mas somente três deles, Caim, Abel e Seth mereceram ter seus nomes descritos na bíblia. Seth foi o terceiro filho e somente foi concebido para compensar Adão e Eva pela perda de Abel, assassinado pelo próprio irmão, Caim.
No episódio bíblico fratricida, Deus revela a mesma ignorância, possivelmente fingida, apresentada quando Adão comeu o fruto proibido.
Deus procura por Abel e não o encontra em lugar algum. Sem disposição para dar três pulinhos em nome de São Longuinho, resolve indagar de Caim se sabia o paradeiro do irmão, o que permite entender que Caim, quanto a isso, seria capaz de saber mais do que o próprio Deus. Ocorre que, nesse momento de dúvida divina, Abel já estava morto, Caim o matara.
Sendo onisciente, certamente Deus saberia, mesmo antes do nascimento dos filhos de Adão e Eva, que um irmão mataria o outro, bem como que o primeiro homicídio decorreria de o próprio Deus demonstrar mais afeição por um do que pelo outro. Tudo perfeitamente evitável, pois. Ainda assim, ocorreu, segundo registra a bíblia.
Por ter matado Abel, Deus amaldiçoou Caim, que a partir dali seria “fugitivo e vagabundo”. Contudo, também essa maldição, como já ocorrera no caso da pena de morte para Adão, revelou-se um blefe. Ao contrário, Deus passou a protegê-lo. Primeiro, deu a Caim um sinal distintivo, divino, para que ninguém o matasse (Gen:4:15). Depois, permitiu a Caim obter amplo sucesso na vida, inclusive tendo fundado uma cidade, batizada de Enoque em honra do próprio filho. A bíblia nada fala sobre o número de anos que Caim teria vivido, tampouco sobre a possível causa de sua morte. Pelos seus feitos, porém, supõe-se que tenha vivido muito, como era comum naqueles tempos.
Adão viveu novecentos e trinta anos. Seu filho, Seth, novecentos e doze anos, e o filho dele, Enos, novecentos e cinco anos, o filho deste, Cainã, novecentos e dez anos, seu filho, Maalaleel, oitocentos e noventa e cinco anos. Maalaleel gerou Jerede, que morreu com novecentos e sessenta e dois anos, que gerou Enoque.
O caso de Enoque é um pouco diferente, pois seu tempo de vida total não é descrito na bíblia. Sua permanência na Terra foi curta, somente trezentos e sessenta e cinco anos, mas ele não morreu, pois Deus o tomou para si. Aparentemente, foi levado direto para o céu.
Enoque foi pai de Matusalém, que viveu novecentos e sessenta e nove anos, e foi o pai de Lameque, setecentos e setenta e sete anos, por sua vez pai de Noé, que viveu novecentos e cinquenta anos. Noé tinha seiscentos anos, um garotão, quando enfrentou o dilúvio.
E por ai vaí, enumerando a bíblia várias vidas longérrimas. O que se conclui do relato bíblico, aparentemente, ao menos no início dos tempos, é que, longe da pena de morte, a imortalidade de Adão no paraíso foi convolada em uma vida muito, muito longa na Terra, para si e para seus descendentes. Isso continuou até que, finalmente, resolveu Deus limitar a idade dos seres humanos a cento e vinte anos, ainda um pesadelo para a previdência social. Trata-se de um limite que algumas pessoas, até hoje, teimam em não respeitar, principalmente certos japoneses longevos. A bíblia, todavia, não prevê a punição cabível para quem ultrapassar cento e vinte anos. Talvez sejam enviados para o inferno. Isso é um problema, porque o suicídio também é pecado, não existindo alternativas para quem desejar obedecer ao mandamento bíblico de não passar dos cento e vinte anos.
A bíblia, em Genêsis:6:2, abre uma possibilidade de politeísmo. Assim está escrito: “Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram”.
Poderia a bíblia estar se referindo aos homens, quando diz "filhos de Deus". Claramente não, pois logo a seguir emenda com as filhas dos homens, de modo que existem duas categorias distintas: os filhos de Deus e as filhas do homens. O texto não faria sentido caso se considerasse que a referência era aos "filhos dos homens", caso em que bastaria dizer que os homens viram que as mulheres eram formosas. Além disso, de um modo geral os seres humanos não são descritos em Gênesis como filhos. Nesse livro, em nenhum momento Deus chama o homem de “filho”. Em princípio, ele é apenas o criador, como o relógio é uma criação do relojoeiro mas não seu filho, no sentido estrito da palavra.
Em geral, filhos de um deus são também deuses ou minimamente semideuses. Ao lado disso, indaga-se: quem é a mãe desses filhos de Deus? Possivelmente uma deusa, embora talvez não seja necessário uma mãe. Afinal, trata-se de Deus todo-poderoso e não sabemos nada sobre o sexo dos deuses. Pode-se afirmar com segurança, entretanto, que ao menos os filhos de Deus possuem um propósito sexual, pois acharam as mulheres formosas e as tomaram para si, nelas gerando seus próprios filhos (Gen:6:4).
No entanto, ainda que sejam frutos de geração espontânea ou criados a partir do nada, são filhos de Deus, no plural. O panteão divino, assim, tinha Deus, seus filhos e talvez uma mãe, o que implica politeísmo.
Abra-se um parênteses para destacar que a bíblia sugere que os filhos de Deus são estupradores, o que parece sugerir ao afirmar que se permitiram escolher uma mulher e fazer dela sua à força (“tomaram para si”), como se escravas sexuais fossem. Claro que é possível que "tomar para si" diga mais do pretendeu o escritor bíblico original.
Da relação sexual entre os filhos de Deus e as filhas dos homens gerou-se uma descendência nobre. Dela nasceram homens diferentes, melhores dos que a descendência exclusivamente humana. Segundo a bíblia, ele “eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama”. Em quê, exatamente, esses filhos de Deus seriam diferentes dos seres humanos que os faria mais valentes e mais famosos? A bíblia não diz, possivelmente seriam gigantes, o que em princípio torna valentia e coragem desnecessárias, salvo se se entender, analogamente, que o poderio militar americano seria muito valente e corajoso se invadisse a Somália.
Posteriormente, Deus, apesar de onipotente e onisciente, percebe que o homem é mal e, incrédulo quanto à própria perfeição, arrepende-se de ter feito o homem. Deus, pois, não sabia que o ser humano se tornaria mal, o que diz alguma coisa sobre a intensidade de sua onisciência. Além disso, parece sofrer uma crise depressiva em função daquilo que criou, arrependendo-se, o que também sinaliza algo sobre sua perfeição.
Deus mostra-se tão arrependido e furioso com a maldade humana, que resolve punir não somente o homem, mas todas as criaturas da Terra.
Punir, no caso, é um eufemismo, pois o que ele resolve mesmo é destruir completamente tudo o que existe na Terra, com exceção de Noé, sua família e um par de cada animal. Deus passa a nutrir um ânimo de matar todos os humanos e animais, inclusive répteis e aves. É um caso clássico dos justos pagando pelos pecadores.
Está longe de ser um exemplo de sabedoria, mas assim está escrito.
Ao contrário do que se poderia supor, a arca de Noé não necessitava ser um colosso apenas porque iria comportar um casal de todos os animais do planeta. Claro que, fosse algo não divino, essa arca deveria ter o tamanho de um país pequeno, porque, além de carregar os animais, deveria transportar todo o material necessário para a manutenção da vida por cento e cinquenta dias (Gen:7:24). Haja alfafa e ração.
No caso de Deus, todo-poderoso, porém, isso não seria necessário. Podemos imaginar uma arca do tamanho de um bote salva-vidas, ou até menor, caso em que os animais poderiam miraculosamente ser reduzidos ao tamanho de uma formiga assim que nela embarcassem, o que dispensaria um colosso de navio. A intervenção divina também poderia tornar a alimentação e ingestão de água desnecessárias durante um certo tempo. Enfim, a arca poderia ter as dimensões descritas na bíblia e responder bem ao chamado divino.
Nada disso está na bíblia, mas é uma hipótese. Talvez Noé e os seus apenas não tenham notado a redução, cegados pelo poder de Deus.
Entretanto, é impossível entender, senão movido por fé absolutamente cega, o motivo que conduziria Deus a transferir todo esse trabalho para Noé. Por que não adotar o modus operandi utilizado, por exemplo, com Sodoma, onde Ele se limitou a mandar Ló sair da cidade com sua família? Não houve ordem divina para o cumprimento de nenhum exaustivo e inútil trabalho. Após a saída de Ló, Deus deu vazão a toda sua ira, arrasando a cidade com seus milhares de habitantes.
No caso do dilúvio, bastaria a Deus simplesmente dizimar toda a vida na Terra, mantendo à salvo apenas Noé, sua família e um casal de cada animal.
Depois do dilúvio catastrófico, novamente Deus mostra-se arrependido do que fez, conclama Noé a uma nova aliança, prometendo nunca mais produzir um evento sanguinário do tipo. Segundo a bíblia, Deus costuma se arrepender das destruições e matanças que seu temperamento instável e explosivo provoca. Isso tudo se encaixa em sua perfeição absoluta e seus poderes de onisciência e onipotência de uma forma que jamais será possível ao ser humano compreender.
Claro que, após essa promessa, tivemos coisas como as grandes guerras e ditadores como Hitler, Stálin e Mao Tsé Tung, além de destruições como as de Hiroshima e Nagasaki, eventos que provavelmente, juntos, devem ter matado bem mais pessoas do que o dilúvio, mas esses acontecimentos, aparentemente, não foram obra de Deus, embora onipotente, onisciente e onipresente. Parece que, quando alguns homens malvados se reúnem para combinar malvadezas grandiosas, como as destruições de Hiroshima e Nagasaki, Deus, presente no evento, decide permitir a matança de milhares ou milhões de inocentes, tudo em nome de respeito ao livre-arbítrio. Claro que os inocentes mortos, bebês e crianças inclusive, irão para o céu e seus assassinos, que morreram velhos, ricos e poderosos, para o inferno. É um bom consolo. É?
Cabe aqui lembrar que os representantes de Deus na Terra não se destacam por condenar autores de grandes destruições e genocídios, mas costumavam considerar pecado excessivo a prática de amassar e produzir poções, "fornicação" ou apenas desdizer o que diz a bíblia, e torturava e queimava na fogueira quem assim procedesse.
Claro que práticas divinas como a de Sodoma ou do dilúvio não podem ser compreendidas por seres humanos. Para nós, imperfeitos que somos, parece ingenuamente que, sendo Deus onipotente, não haveria necessidade alguma de exterminar tantas vidas, humanas, animais e, não se esqueçam, até mesmo vegetais.
Bastaria a Ele querer e os seres humanos, que em sua onisciência ele sabe previamente que pecariam e seriam mortos por Sua ira, simplesmente mudariam de comportamento dali em diante. Ele poderia, ainda, teletransportá-los diretamente para o céu ou para o inferno (a indagação "o inferno existe?" fica para outro ensaio). Isso pouparia a vida de animais e plantas inocentes, mortos no dilúvio por culpa dos erros humanos. Porém, Sodoma, Gomorra e o dilúvio estão relatados na bíblia para provar que, certamente, os desígnios de Deus são realmente bastante misteriosos. Não são exemplos de misericórdia, mas é assim que conta a bíblia.
Depois disso, vem a torre de Babel e toda a confusão criada a partir da multiplicação das línguas, mas isso é outra história. Por ora, fica-se por aqui.
O início do primeiro livro da bíblia, Gênesis, revela ser impossível atribuir qualquer credibilidade à confusa narrativa bíblica se considerada em sua perspectiva literal.
Desde a criação de tudo que existe em seis dias, o que inclui monstros marinhos, até as sucessivas menções à existência de mais de um deus e de vários filhos de Deus que mantiveram relações sexuais com as filhas dos homens, evidencia-se que, nessa parte, a bíblia deve ser tomada como o que é, uma salada cosmogônica atávica, criada a partir da junção de diversos relatos mitológicos oriundo de civilizações e culturas diferentes, e costurada de forma pouco eficiente, não capaz de produzir uma homogeneidade consistente com um relato tido por sagrado, perfeito e imutável.
O Deus presente nesse início bíblico é um Deus confuso, vingativo, irado e sem equilíbrio emocional, que não tem fé no próprio poder ilimitado e que se arrepende de quando em quando de suas criações e decisões, o que não faz sentido se considerada Sua perfeição. A matança indiscriminada tampouco é um bom exemplo de perfeição, misericórdia e amor infinitos.
Isso significa que os relatos não possam, de forma nenhuma, ter fundamento divino? Para quem acredita em Deus, claro que não. Para quem Nele crê como onipotente é possível acreditar que houve um início dos tempos e que esse início possui relatos similares em diversas civilizações, multiplicidade essa que somente aumentaria sua credibilidade.
Porém, desmistifica a bíblica, primeiro, como uma revelação divina exclusiva dos judeus e, posteriormente, dos cristãos.
Devem ser considerados relatos inerentes à mitologia humana da criação, que não integram o acervo cultural de um determinado povo, mas de vários.
Segundo, mitiga o poder da bíblia como possuidora de uma palavra sagrada, inabalável criticamente. Suas palavras são o que são, a tentativa de homens, ao longo dos séculos, de registrar no papel, ou outros materiais mais duráveis, os relatos que, antes, eram transmitidos geração após geração de forma oral.
Terceiro, nulifica a bíblia como documento de moral e ética indiscutível, dados os comportamentos nela descritos que, de tempos em tempos, são considerados impraticáveis publicamente. Na atual cultura ocidental, por exemplo, não seria bem visto um homem ter várias esposas ou, ainda, ter filhos com a criada de sua mulher estéril. Poucos defenderiam alguém sacrificar seu filho a um Deus ou um Deus que faz uma brincadeira desse tipo, a título de “teste de fé”. Quem seria capaz de defender David, quando faz sexo com a mulher de seu subordinado e manda este para morrer na frente de batalha a fim de facilitar a sua vida sexual?
Não há dúvida de que a bíblia é um livro interessante, com relatos incríveis e que vale a pena ser lido. Exatamente como merecem ser lidos, por exemplo, Crime e Castigo ou O Senhor dos Anéis.
Contudo, para disseminação de exemplos de comportamentos vinculados ao bem e à bondade, existem livros melhores.

Recomenda-se, dentre vários outros, A Origem da Desigualdade dos Homens ou o Tratado Sobre a Tolerância.

Leia também: A Bíblia I

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