Sou
um monstro de fome insaciável. Mato toda vida que encontro mesmo sem
fome atual, movido pelo temor de estar faminto amanhã.
Aceito
a companhia de outros monstros de minha espécie, mas só para formar
um bando que me garanta maior facilidade na exploração do mundo,
para auxiliar-me no morticínio das vidas à minha volta.
Ocupo
todos os lugares que posso e, para isso, desalojo quem e o que lá se
encontrava antes de mim, se necessário, arranco suas raízes, dou
fim à sua vida.
Não
tenho nenhum outro compromisso com qualquer semelhante, mesmo os que
aceitei no meu bando, que não seja o de explorar a sua força em meu
favor; quando se torna inútil, abandono-o imediatamente, sem
remorsos. As fraquezas alheias somente servem para o meu proveito,
para lucrar, para guardar.
Se
preciso da água do vizinho e ele reluta em me dar, mato-o e tomo
posse da nascente e até da própria terra. A terra existe para me
servir.
O
que realmente importa para mim é minha sobrevivência e a de minha
cria.
O
meu altruísmo é uma espécie de egoísmo bumerangue, com intenção
de retorno. O amor que demonstro pelas coisas à minha volta, pela
humanidade, é disfarce. Na verdade, verbalizo o sentimento dirigido
a mim mesmo como se fosse para o outro.
Não
tenho pudor em passar por cima de nada em nome de minhas pretensões.
Os seres não importam, as ações em meu benefício, sim.
Quando
quero algo para mim e necessito do trabalho alheio, minto e digo que
é para o bem comum. Sempre dou um jeito de impor sacrifícios aos
outros seres que eu mesmo não tenha que suportar.
Se
tenho um trabalho a fazer, empurro-o para quem puder, mas não hesito
em desfrutar das honras que dele vierem. É para um futuro melhor,
digo com a cara mais lavada do mundo.
Faço
críticas ferozes a comportamentos dos outros que eu mesmo gosto de
praticar.
Minhas
pretensas amizades e amores, são meras escadas para o meu futuro.
Meus
pronomes prediletos são eu, me, mim, meu e minha. Fora do "eu",
"nós" é apenas sinônimo para trabalho em grupo que me
interessa, "tu" é um objeto para uma intenção e "eles"
são possibilidades de alguma vantagem.
Passo
a vida a rondar o mundo, farejando oportunidades, mineirando
fragilidades, abusando das ingenuidades, violentando as
naturalidades.
Como
líder, como chefe, como governante, sempre sou de forte instinto.
Sou como um animal qualquer, como um leão, um jacaré.
Esse
é o monstro que sou, um monstro humano.
Por
definição, eu minto.
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