segunda-feira, 28 de julho de 2014

A obra humana, valor e urgência




É importante que todas as pessoas com forte autocrítica ou que se sintam incompreendidas em suas ideias e que, por isso, não se deem o devido valor, mitigando o próprio talento ou se sentindo infelizes com as críticas alheias, saibam que algumas personalidades de valor histórico inquestionável não foram compreendidas em vida, somente tendo o devido valor reconhecido postumamente.
E a razão disso é que estavam à frente de seu tempo.
Seus contemporâneos não dispunham da habilidade necessária para compreensão de sua obra, de seu pensamento. Faltava-lhes a condição visionária.
Van Gogh, cujas telas hoje possuem valor inestimável, somente vendeu uma delas quando vivo. Suicidou-se pobre e tomando-se por um fracassado.

Nietzsche confortava-se do insucesso na publicação de seus livros na consideração de ter nascido póstumo.
Leibniz, um dos maiores filósofos e matemáticos da história, morreu esquecido, sem gozar do devido reconhecimento das pessoas de sua época.
Kafka, merecidamente considerado um dos mais influentes escritores do século XX, não vendeu um único livro em vida.
As obras musicais de dois grandes compositores, de qualidade indiscutível, Franz Schubert e Johann Sebastian Bach, somente foram reconhecidas depois de suas mortes.
A quase totalidade da poesia da americana Emily Dickinson ganhou notoriedade após cerca de vinte anos de sua morte.
Outros exemplos poderiam ser dados.
Portanto, não esmoreça, não se deixe abater. Assim como ninguém deve satisfações sobre a forma como decidiu viver a vida, desde que no rumo do bem, tampouco necessita explicar a obra produzida, seja arte, seja pensamento.
A arte e o pensamento devem ser apenas materializados, encontrando por si mesmos a fortuna que lhes foi reservada. Resigne-se, contudo, com a possibilidade de que não seja agora, nem tão cedo.
No fundo, quando a obra emerge na alma do autor, deve ser entendida como um fim em si mesma, cujo valor há de ser relegado a um segundo plano, sem muita importância.
A obra humana honesta e natural é como uma gestação, cuja urgência é o nascimento e não as características do nascituro.
O destino inexorável do autor é pari-la e colocá-la em sua condição de existência, ainda que surjam dúvidas sobre o valor do que virá.

Obs: A imagem é da tela "A vinha encarnada", única obra vendida por Van Gogh em vida.

Nenhum comentário :

Postar um comentário