terça-feira, 8 de julho de 2014

A manchete como caminho, verdade e luz


É preciso pôr fim ao pensamento rasteiro de parcela considerável da população brasileira que sustenta que tudo no Brasil é pior do que em outros lugares do mundo. É preciso extirpar do sentimento pátrio esse complexo de vira-lata capaz de distorcer a visão ao ponto extremo da autodepreciação, do autoenquadramento como cidadãos de terceira classe do mundo. Muitas coisas no Brasil são piores, outras porém são melhores.
O Brasil é um país continental, imenso , e inegavelmente possui muitos problemas, alguns de difícil solução. Todavia, são problemas que também afetam, em maior ou menor grau, os países mais desenvolvidos do planeta.
Por exemplo, o sistema brasileiro de saúde pública não é excelente, talvez não possa sequer ser considerado bom, mas existe. Nos Estados Unidos o sistema de saúde pública é praticamente inexistente, ou seja, o pobre não assistido por plano de saúde está virtualmente morto se precisar de assistência médica.

Existem no Brasil 13 milhões de analfabetos, o que significa 8,7% da população. Na Alemanha, país altamente desenvolvido, são 7,5 milhões de analfabetos, nove porcento da população.
São 22 milhões de miseráveis brasileiro, cerca de 11% da população, contra 46 milhões de miseráveis americanos, alcançando quase 15% da população.
A corrupção política é um fato na política em todos os países do mundo e o Brasil nisso nada tem de diferente.
Enfim, os brasileiros têm seus problemas e os estrangeiros, os deles.
A pessoa que pisa ou incendeia a bandeira do Brasil em uma manifestação pública, que fala mal do Brasil em qualquer ambiente público, inclusive nas redes de relacionamento, em nada auxilia o país a enfrentar os problemas que ela própria denuncia.
Uma pessoa assim pode imaginar ser politicamente inteligente, mas, ao fim e ao cabo, é apenas um ingênuo, talvez um idiota (na real acepção da palavra). Não é capaz de distinguir entre pensamento e ação; nação e representação; governo e Estado; político sujo e política; desejo e realidade; interesses ocultos e revelação.
Brasileiro que queima a bandeira e xinga o Brasil demonstra, apenas, o seu complexo de inferioridade por ser brasileiro. Nutre um íntimo desejo de ser europeu ou americano, amargurando-se por ter nascido no Brasil.
Verdadeiros patriotas jamais xingariam o próprio país, pois amam o local em que nasceram. Ama o seu país, não em virtude de um governo, mas apesar dele.
Quem deseja o bem da nação e não concorda com o governo, xinga o governo, não o país, nem rasga a bandeira. Ao entender que o governo age em desacordo com os interesses da república, maneja o instrumento democrático, o voto, para mudar os mandatários.
Um patriota, mesmo no extremo de uma revolução, busca mudar o governo porque ama o seu país. O real patriota não compara, em demérito, seu país com nenhum outro. Os que se sentem inferiores, com certeza. Os ingênuos. talvez.
Para os que nutrem complexo de inferioridade nacional, a paz jamais virá, nem que fossem europeus, pois a inferioridade neles reside, não no país.
Quanto aos ingênuos, para eles a manchete de jornal é a representação da verdade; a sentença judicial, a materialização da justiça; e o aprendizado que vem do berço é, sem tirar, nem pôr, a expressão da verdade absoluta.
Um pensador pontificou que de nada adianta o sábio tentar tirar alguém da escuridão, se esse alguém não é um iniciado na luz. O não iniciado jamais acreditará que exista luz, a escuridão sempre foi sua realidade cotidiana.
Para o ingênuo, a palavra do sábio que está à sua esquerda é apenas mais uma opinião sem valor, que em nada difere daquela proferida pelo outro ingênuo que está à direita.
Um outro pensador, com maior profundidade, afirmou que o maior truque do demônio consiste em fazer o ingênuo acreditar em sua inexistência. Efetivamente, mesmo após quinhentos anos de números ruins de governos escolhidos por doutores, o ingênuo não consegue perceber doze anos de números bons no governo de eleitos pelos semi-analfabetos. Para os ingênuos, os números sempre estarão errados, pois estão em desacordo com as manchetes. Para eles, a manchete é o caminho, a verdade e a luz.

É comparável a uma religião, pois não se vê, mas se acredita firmemente. Eis o mistério da fé.

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