Mal
o árbitro apitou o fim do jogo em que a seleção brasileira foi
destroçada pela seleção alemã, já se iniciaram as vinculações
descabidas entre futebol e política.
Numa
dessas críticas, os alemães são elogiados e o governo brasileiro é
atacado por, supostamente, manter os brasileiros pobres sem ânimo
para o trabalho, dando-lhes o peixe ao invés de ensiná-los a
pescar.
Non
sense total. A questão deveria ser restrita ao futebol, com
comparações entre a preparação da seleção alemã e a da seleção
brasileira. O governo brasileiro não possui qualquer ingerência na
indicação da comissão técnica, na escalação dos jogadores e em
seu treinamento. Tanto a Fifa, como a CBF, são entidades privadas
que visam o lucro.
A
crítica oportunista e descabida, que deseja falar mal da laranja
atacando a banana, objetiva obviamente denegrir o programa
bolsa-família.
Parafraseando
o técnico Felipão, existem dois tipos de críticos do
bolsa-família: o ignorante e o mal-intencionado.
O
mal-intencionado não acredita no que fala. Pelo contrário,
reconhece a importância do programa assistencial e sabe que ele será
mantido pelos próximos governantes, seja de que partido for, o que
anula o seu efeito "voto de cabresto". Pretende, com sua
crítica, apenas propagar a ideia de um governo ruim em benefício de
seu candidato. Em geral são adeptos do neoliberalismo, como por
exemplo os simpatizantes do PSDB.
É
inútil tentar convencer os mal-intencionados, uma vez que má-fé
não tem remédio que venha de fora, só de dentro. Há que consertar
a alma, não a inteligência.
Tampouco
merece atenção um tipo especial de ignorante: o que é movido por
sentimentos egoístas e pequenos. Esse não se importa em ter ciência
de que o miserável, a partir da modesta renda obtida com o
bolsa-família, poderia se ver capacitado a dispensar de catar em
lixeiras ou lixões o alimento necessário à sobrevivência. É
pessoa que entende que dignidade é para quem pode, não para quem
quer. Esse tampouco possui salvação.
Quanto
ao ignorante ingênuo, ou seja, aquele que não conhece, não comeu ,
mas não gostou,para esses há salvação. A ignorância é um vício
pontual, capaz de se desfazer rapidamente com o conhecimento adequado
sobre cada ponto até então desconhecido.
Desconhecer
a finalidade do instituto não é um grande problema. A questão é
que uma grande parcela dos ignorantes não se esforça para
visualizar a totalidade do programa, ou seja, os interesses e os
objetivos que estão em jogo. Além disso, não se sente inclinada a
realizar pesquisas sobre o assunto, compará-lo com outras
iniciativas do gênero.
A
ignorância já se revela pelo entendimento de que o bolsa-família
seja algo como uma "jabuticaba" brasileira, coisa que
somente existe aqui, no Brasil.
Programas
de transferência de renda existem na quase totalidade dos países
europeus. Nossa classe média deslumbrada, na condição de turistas
vira-latas, costuma admirar os europeus. Não enxergam que a classe
média europeia não possui o hábito de criticar o estado de bem
estar social. Claro que não, eles não são idiotas. Somente idiotas
esbravejam contra direitos vinculados ao espírito de generosidade
humana. Idiotas que não dependem dessa generosidade, frise-se, e que
não entendem a dinâmica do funcionamento da sociedade. Adoram a
sociedade europeia pouco violenta e não vinculam essa ausência de
violência à ausência de pobreza extrema ou menor intensidade na
desigualdade social.
Interessante
destacar que não há país europeu que dê tão pouco aos
necessitados como é o valor do bolsa-família, que paga, por
beneficiário (que é a criança), R$ 77,00 por mês, cerca de U$ 33
dólares.
Já
que falamos na Alemanha, tomemo-la como exemplo. Lá, uma pessoa
desempregada possui direito a receber cerca de 350 euros por mês, o
que corresponde a quase mil reais, ou seja, a treze bolsas-família.
O beneficiário não necessita comprovar, como aqui, que o filho está
na escola. Se for um casal, o cônjuge também recebe o auxílio, com
mais 80% do valor recebido pelo outro, o que eleva a quantia para
algo em torno de 660 euros mensais, alcançando um valor
correspondente a quase 23 bolsas-família por mês.
Não
bastasse isso, o cidadão alemão necessitado ainda possui direito a
um auxílio-moradia para alugar residências de 45 a 60 metros
quadrados, acrescendo-se a essa metragem um quarto por cada filho.
E
mais: o Estado ainda paga um plano básico de saúde para todo alemão
que não puder custeá-lo, no valor de 150 euros mensais.
No
inverno, a Alemanha fornece ao seu cidadão o auxílio-calefação.
Em resumo, um casal alemão necessitado recebe mensalmente do governo
aproximadamente 1.400 euros, além de benefícios para os filhos que
vão de 210 a 500 euros por mês, sendo possível que o casal com
dois filhos receba até 2.400 euros mensais.
A
comparação com o bolsa-família é simplesmente ridícula.
Vai
ver é por isso que a seleção alemã venceu tão facilmente a
seleção brasileira. Trata-se de um selecionado oriundo de um país
onde o cidadão se sente protegido socialmente pelo seu governo.
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