A
deputada federal Iriny Lopes publicou no Facebook um excelente texto
sobre a questão da corrupção na Petrobras. O texto é público e
vale a pena lê-lo para refletir sobre os processos que conduzem à
derrota das oportunidades de combater a corrupção e evitar que isso
se repita no caso da Operação Lava Jato, sobre a Petrobrás.
No
texto, a deputada Iriny faz uma interessante ligação entre o atual
problema da Petrobras e o caso do Banestado, Banco do Estado do
Paraná, cujo enredo possui idênticos personagens: o mesmo juiz, o
mesmo doleiro e o mesmo Estado do Paraná como origem.
O
caso Banestado, ocorrido em meados da década de 1990, foi
possivelmente o maior caso de desvio de dinheiro na história do
país. Poderosíssimas forças políticas ergueram um muro de
contenção para paralisar o andamento das investigações. Ao final,
somente peixes miúdos foram responsabilizados. O caso está relatado
no livro do Amaury Jr, "A privataria tucana".
A
impunidade no caso Banestado incentivou o mesmo sistema criminoso a
prosseguir na roubalheira. A história que surge agora, na Petrobras,
em menor escala que o do Banestado, é certamente só uma das pontas
desse nó até agora inextricável de corrupção. Somente foi
evidenciado em decorrência de uma "bobeira" da mídia em
sua cruzada contra o governo do PT. A capa da arma chamada Veja, com
o famoso "Eles sabiam" que pretendia ser a "bala de
prata" contra o PT, voltou-se contra o sistema que operava a
arma. Os delegados federais da oposição criaram um monstro que
dificilmente poderá ser contido sem a denúncia da blogosfera.
À
medida que as investigações avançarem, se avançarem, outros casos
surgirão em todos os níveis de governo, federal, estadual e
municipal. É muito possível que surjam ligações com o caso
Alstom, de São Paulo, e, talvez, com a participação de uma ou
outra empresa de comunicação importante.
Esse
momento é histórico, podemos estar no limiar de uma mudança ética
na política, que depende dos próximos capítulos dessa novela. Como
sempre, interesses poderosíssimos, que atuam dentro e fora da
estrutura oficial do poder político estatal, estão envolvidas
nessas falcatruas. Essas forças certamente estão se movimentando
com vigor e farão o possível para impedir o prosseguimento das
investigações. No bojo dessas forças, além dos maiores
interessados, também estão integrados políticos da oposição e
pessoas comuns que se apropriam do discurso da "ética na
política contra o PT”.
Tudo
será feito sob a fantasia da moralidade e com o apoio da mídia, que
continuará a carregar o seu pesado “fardo” de ser propagadora da
histeria coletiva ilusória que cega para a verdade. Com esse
objetivo em mente, tentarão manipular os fatos para imputar à Dilma
os desvios e, quem sabe com isso, alcançar um processo de
impeachment que desfocará completamente os objetivos da
investigação, livrando pescoços importantes da guilhotina da
justiça.
Uma
das retóricas prediletas desse grupo é relembrar os casos de
corrupção no governo do PT, principalmente nas estatais como a
Petrobras, os Correios ou o Banco do Brasil. Claro que não há
aprofundamento da questão, pois isso evidenciaria a ausência de
sentido dessa grita moralista.
A
Presidência de qualquer país exige a descentralização da
administração. Não é possível que uma só pessoas gerencie todas
as demandas de um país inteiro. Se isso é verdadeiro para um
pequeno país, como o Uruguai, muito mais o será para um que possua
a complexidade do Brasil, um dos maiores do mundo tanto em território
como na economia.
Não
é à toa que as estatais integram a chamada Administração Pública
Indireta. É indireta porque só reflexamente recebe ingerência do
Poder Executivo, que basicamente se limita à nomeação dos
presidentes dessas entidades e um ou outro diretor. Após a nomeação,
no máximo tais dirigentes recebem diretrizes gerais a seguir, nada
mais. Mesmo na Administração Pública Direta, a complexidade da
gestão obriga a Presidência a transferir aos ministros e
secretários-executivos praticamente a responsabilidade total pela
pasta, com encaminhamento de projetos e fiscalização exercidos em
reuniões ministeriais.
Por
outro lado, a práxis política brasileira exige a repartição do
poder através da distribuição de cargos públicos, o famoso e
antipático fisiologismo. Dessa prática escusa se beneficiam os
partidos que são chamados a compor a base parlamentar, tanto os
grandes partidos, como o indefectível PMDB, como os médios e
pequenos, como o PTB de Roberto Jefferson que, aliás, foi o partido
responsável pela indicação do diretor dos Correios cuja notícia
de corrupção deu origem ao processo do mensalão.
Somente
uma reforma política que elimine o financiamento privado das
campanhas eleitorais, principalmente o que é realizado pelas
empresas, porá fim a essa promiscuidade. Com as empresas podendo
financiar campanhas, fulmina-se o voto democrático e privilegia-se o
voto censitário. Hoje o voto de um empresário vale milhões de
vezes mais do que o de um favelado.
É
mera ingenuidade ou ferina má-fé atribuir a responsabilidade pela
corrupção a quem nomeia o corrupto. Isso é possível, mas não
necessário. A distinção entre um bom administrador e um mau
administrador se faz notadamente a partir de sua atitude perante a
constatação do ilícito praticado pelo inferior hierárquico. O que
se via, até o ano de 2002, era o completo acobertamento dos casos. A
partir de 2003, percebe-se que as forças institucionais, Polícia,
MP e Judiciário, passam a exercer o seu papel constitucional sem
amarras.
É
fácil, hoje, afirmar que a Polícia Federal apenas cumpre o seu
papel e que o PT não é responsável por isso. Todavia, a mudança
na conduta desse papel institucional é fácil: bastaria ao dono da
caneta exonerar todo e qualquer Ministro da Justiça ou diretor da
Polícia Federal que ousasse incomodar. Isso, que sempre foi feito,
deixou de representar a normalidade a partir de 2003. O dono da
caneta foi Lula é hoje é Dilma. Nenhum dos dois a utilizou para
conveniências junto ao Ministério da Justiça, à Polícia Federal
ou nas nomeações para o Ministério Público e para o Supremo
Tribunal Federal.
Nos
piores momentos do mensalão, o que se viu foi a inação do PT em
tentar proteger seus dirigentes, ainda que muitos discordassem das
conclusões do Procurador Geral e do relator do processo. Por
republicanismo, o PT assistiu ícones do partido serem atropelados
pela “legalidade”. Havia um projeto maior por detrás dessa
atitude. Hoje estamos testemunhando um dos resultados desse projeto.
O
problema é que a corrupção é gigantesca, pois nunca foi combatida
como deveria ser. Agora que se inicia uma luta mais dura, é claro
que se tentará impedir à todo custo a continuidade, inclusive
através da repetição da retórica vazia de que "a corrupção
é do PT", mantra fulanizadora que serve como uma luva ao
propósito de manter tudo como está a partir da criação de uma
Geni que sirva de alvo para a indignação popular. Os ingênuos
embarcarão facilmente nesse discurso.
A
esperança é que Dilma esteja bem amparada por setores
institucionais importantes, como as forças armadas e parcela
relevante do Congresso e do STF.
O
contraponto à grande mídia será absolutamente indispensável a
partir de agora, momento em que percebemos que a habitual trégua
pós-eleitoral não foi concedida.
Esse
contraponto é missão da blogosfera, ou seja, de todos nós na
prática da política underground. A divulgação de análises como a
da deputada Iriny, e de outras pessoas que realizem o contraponto, é
relevante nesse contexto.
A
continuidade desse processo de depuração está fundamentalmente em
nossas mãos.
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