Cazuza,
vocês se lembram, cantou "adoro um amor inventado". Porém,
peço perdão ao poeta, que tão precocemente nos deixou, para dele
divergir.
O
amor não se inventa, não, nunca.
Pode
até mesmo nascer da carência de um coração despossuído, mas
jamais se cria de um vazio da mente ou pelo vácuo de um sem-sentido
de existir.
O
verdadeiro amor não é planejado, ele simplesmente acontece. E não
há "disciplina" que o contenha, que o regule.
O
amor é como um golpe de estado em nosso “moinho de corda”
enaltecido por Fernando Pessoa. Uma revolução cardíaca sem ataque,
um levante armado, amado, contra o status quo sentimental.
E
onde há amor não existe promiscuidade. A promiscuidade é filha
rejeitada do desamor e da melancolia; está vinculada simplesmente ao
desejo por sexo, ao desespero por afeição.
O
ser humano pode amar de forma múltipla sem com isso ser promíscuo.
Vinícius gostava de dizer que amou todas as, até onde sei, sete
mulheres que teve. Todas representaram amores infinitos durante o
tempo finito em que foi sentido e que parecia que nunca iria acabar.
E
se promiscuidade significa união desordenada, não será promíscua
uma relação sem amor, ainda que seja uma só e duradoura?
O
amor é mais complexo. Tem o desejo de sexo, é claro, mas também o
desejo de ver, o desejo de ouvir, de tocar, de sentir de corpo
inteiro.
É
o desejo de vislumbrar a alma do ser amado.
Já
disse antes e repito: no amor, antes do desejo de ter alguém, há o
desejo de ser esse alguém, de integrar o corpo e a alma do ser
amado.
Você
se transmigra para o outro espírito e suas necessidades vitais não
se dirigem mais para o seu próprio corpo mas para o corpo do outro.
Há
uma transferência do próprio instinto de sobrevivência pois a
sobrevivência do outro passa a significar sua própria
sobrevivência.
Só
há uma força poderosa o bastante para impedir o avanço do amor: a
falta de amor do ser amado, a não-correspondência.
Nesse
caso, a única solução é dar tempo ao tempo.
Como
um bisturi, ele vai a cada minuto penetrando no coração desdenhado,
seccionando o tecido doloroso, curando-o da doença causada pelo
desprezo. Deixando-o saudável para um novo amor.
Bem-vindos
sejam todos os amores.
Adaptação
de postagem original em 09/04/2007
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