segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Feliz natal, feliz ano novo


Ouço por vez pessoas maldizendo os festejos de datas como o Natal e Ano Novo e pergunto-me por que essas pessoas não gostam dessas datas.
Realmente não sei a resposta, mas preciso admitir que, tempos atrás, também não gostava de Natal e Ano Novo. E qual era mesmo desculpa que utilizava, então, para afirmar meu descontentamento? Ah, claro, era um chavão:
O Natal e o Ano Novo são datas impostas pelos donos do capital internacional como um meio de incrementar o comércio e com isso obter ainda maiores lucros. É um engodo sentimental que somente pode interessar aos lobos capitalistas”.
Era mais ou menos isso. Por essa época, era um menino comunista roxo, com boné de Che Guevera na cabeça e estrela do PT no peito da camisa. Um romântico que aguardava a revolução popular armada que nos conduziria ao nirvana social. Apesar, porém, das boas intenções, deixei de lado uma importante lição do Che: há que endurecer sim, mas sem perder a ternura jamais.
Hoje, faltando pouco para chegar aos cinquenta (ou seja, ainda um meninão), deixei de crer em soluções radicais, armadas ou não, para os conflitos sociais. Acho que ainda posso me enquadrar como inclinado politicamente à esquerda, mas uma esquerda que acredita na ternura e não no endurecimento.
O muro de Berlim desabou sobre mim e transformou-me.
Hoje, acredito no espírito de Natal e na confraternização universal, e tento abstrair dessas importantes datas todo o comércio que delas advém, porque hoje acredito mais nas pessoas que me cercam, na pureza de seus sentimentos, em suas alegrias, em suas tristezas e, principalmente, em sua boa-vontade.
Para mim, agora, o que mais interessa realmente nessa época do ano não é o comércio envolvido, mas toda essa gama de sentimentos e emoções que permeia a maioria das relações entre as pessoas. Se é piegas, viva a pieguice.
E tento pôr de lado esse viés mais vil, mais comercial, dessas festividades. Mais ou menos como procuro fazer quando vou à praia, num dia de muito sol, com meus amigos e minha família: o que interessa ali, naquele momento, é curtir o sol, o mar, minha família, meus amigos, a cerveja gelada, o bate-papo descompromissado; isso é o que representa a vida real naquele momento e não os vendedores ambulantes que zunem à nossa volta, às vezes como mosquitos irritantes (mas lembre-se, se você não levou a cerveja gelada, também eles são importantes).
As datas de confraternização, Natal e Ano Novo, são importantes porque envolvem pessoas que convivem, que se relacionam afetivamente. E nós somos essas pessoas, portanto, todos nós somos os envolvidos.
Vivemos toda a nossa vida ao lado de outras pessoas. Tudo que fazemos, fazemos com outras pessoas. Ainda assim temos receio de demonstrações públicas de emoção e de afeto. Porém, somos humanos e o ser humano é um poço infinito de emoções. E por isso vamos, durante o ano todo, represando emoções, acumulando sensações, administrando frustrações. Não podemos, entretanto, guardá-las para sempre. Precisamos de um momento em que possamos desaguar todo esse manancial de emoções contidas. De um momento em que possamos nos fragilizar perante todos. Precisamos desesperadamente abraçar a pessoa querida, chorar em seu ombro. De felicidade. Para que essa pessoa querida tenha a exata dimensão de sua importância em nossa vida.
Afinal de contas, a felicidade não é uma construção solitária mas... solidária. E, por vezes, essa felicidade é tanta, e é tanta a emoção reprimida, que, à falta da pessoa querida, puxamos o estranho que está ao nosso lado e lhe damos um abraço. Porque nesse momento sentimos necessidade de abraçar toda a humanidade que pelo estranho vai representada.
Então, para mim, essa é a importância do Natal e do Ano Novo. É o momento em que posso dizer, sem nenhum constrangimento, o quanto alguém é importante para mim; em que posso abraçar apertado essas pessoas, seja homem, seja mulher, porque as amo e porque minha vida seria vazia e sem sentido se não fossem essas outras vidas que me cercam.
Feliz Natal. Feliz Ano Novo.


Publicado originalmente em 19/12/2006 e revisado em 30/11/2010

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