Para
que servem as palavras?
Segundo
Leibniz são duas as suas utilidades. Uma é falar a nós mesmos,
organizando nossos pensamentos e auxiliando nossas memórias. A outra
é comunicar nossos pensamentos para as outras pessoas.
Quando
falamos conosco mesmos as palavras são perfeitas, pois sabemos
exatamente o que quisemos dizer com cada uma delas. Nós entendemos a
nós mesmos perfeitamente.
Contudo,
quando transmitimos nossos pensamentos para as outras pessoas as
palavras são imperfeitas, pois nem sempre conseguimos comunicar
exatamente o que pensamos. Acontece das pessoas interpretarem as
palavras com um significado que a elas não imprimimos em nossas
mensagens.
Não
se trata de um defeito do transmissor ou do receptor mas das próprias
palavras, que são limitadas em relação às infinitas
possibilidades de mensagens diferentes. Essa infinitude conduz as
pessoas a utilizarem a mesma palavra para significados diversos.
Laranja pode ser uma cor, mas também uma fruta. Essa diversidade de
significações é a raiz do problema da comunicação.
Outro
grande problema é a impossibilidade de falar ou escrever exatamente
o que pensamos. Muitos fatores externos impedem a livre manifestação
do pensamento. Sem adentrar no mérito se trata-se de constrangimento
bom ou ruim, o fato é que temos que realizar pensamentos elaborados
para expressar nossas opiniões a fim de evitar problemas com
preconceitos sobre sexo, drogas, aborto, racismo e por aí vai.
Costuma-se chamar isso de hipocrisia ou, hipocritamente, de cautela.
A hipocrisia, um vício, pode ser um mal necessário, mas não é a
mesma coisa que cautela, uma virtude.
Quando
fraudamos o nosso próprio pensamento sobre um determinado campo da
moral, isso é hipocrisia. Por exemplo, considerável parcela dos
homens aprecia ninfetas ou dizem-se heterossexuais quando, na
verdade, possuem inclinações homossexuais, mas não podem admitir
isso socialmente, uma vez que depõe contra a moral vigente. Assim, o
homem moralista, ao observar outro homem, maduro, relacionar-se
amorosamente com uma mulher mais nova ou com outro homem, e
pretendendo emitir uma crítica contra essa relação, será obrigado
a um esforço de maior complexidade mental para elaboração de seu
discurso, porque contrariará o que de verdade pensa e deseja. É
possível, portanto, que sua crítica seja exprimida de forma
truncada e contraditória, ao mesmo tempo desabonadora e favorável
ao objeto criticado.
Quanto
mais elaborado o pensamento, mais as palavras se tornam imperfeitas.
Não é à toa que existem diversas correntes doutrinárias em várias
ciências, como Direito, por exemplo, nas quais cada doutrinador ou
exegeta interpreta as mesmas palavras, oriundas da mesma fonte, de
uma forma diferente. Os sofistas eram craques na utilização de
pensamentos elaborados com aparência de correção cujo propósito
era enganar o interlocutor.
Enfim,
as palavras servem para comunicação interna ou externa, mas somente
podemos confiar inteiramente na comunicação interna. Sempre dizemos
a verdade para nós mesmos, ainda que achemos que não.
Nenhum comentário :
Postar um comentário