quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Deus e o ateu

Morto e sepultado, ao chegando ao céu o ateu ficou absolutamente chocado ao constatar que Deus, de fato, existia. Décadas de descrença e ali estava ele, no céu, próximo ao divino. Ainda mais desorientado ficou por não entender por que, mesmo sendo ateu, tinha ido parar no céu. Será que ainda seria punido pela falta de fé? Seria lançado às chamas eternas do inferno?
Resolveu indagar isso diretamente a Deus, pois soube que qualquer alma poderia a Ele se dirigir.
Deus riu-se da pergunta e disse que não, ele não seria jogado no inferno. Ficaria no céu mesmo, que era o lugar de todas as almas.

O ateu, sem compreender muito bem por que era assim, insistiu e perguntou a Deus por que, então, as pessoas tinham que exibir demonstrações de fé. Não seria mais fácil se todos nascessem já cientes da existência Dele e de que iriam sem exceção retornar ao céu, após a morte? Afinal, Ele, sendo Todo Poderoso, poderia fazê-lo, se assim o desejasse.
E Deus então respondeu:
- Filho, não exijo de ninguém que tenha fé em minha existência. Não me encontro preso a essa egolatria ridícula que atribuíram a mim. As religiões, inventadas pelos seres humanos inseguros, é que categorizaram as pessoas em fiéis e infiéis. As religiões é que criaram as dimensões do céu e do inferno. As religiões é que pariram o demônio e tipificaram os pecados, simplesmente porque jamais puderam compreender a natureza, que representa, essa sim, minha real vontade. Se minha presença é mais forte em algum lugar, é na natureza, nunca em templos. As religiões é que edificaram os templos pretensamente para minha consagração, mas na verdade como exibição de poder dos sacerdotes, e, como os desejavam repletos, pecadizaram a ausência aos cultos, o que sequer faz sentido, pois estou em todos os lugares do universo, inclusive no interior de toda pessoa, cada uma delas o seu próprio templo.
Nesse ponto, Deus fez uma pequena pausa, suspirou e, sorrindo, prosseguiu:
- Para mim, todas as criaturas, vivas ou não, são minhas filhas amadas. Você, por exemplo, sempre foi ateu e está sendo recebido aqui, junto a mim, porque eu te amo. Mesmo o pior criminoso é amado filho meu e será por mim recebido aqui no céu, pois o livre-arbítrio não mitiga minha onisciência e onipotência e o que chamam de mal eu entendo como ensinamento, ainda que seja difícil compreender essa equação.
Olhando com ternura para o ateu, finalizou:
- A lição que desejo que vocês aprendam não é a que consta dos livros sagrados escritos pelos homens, mas a que emana do coração de cada um e que foi escrita por mim com tinta eterna: sejam bons em relação às demais criaturas, vivas ou não, pois elas são todas minhas criaturas, assim como vocês. Não desejem mais do que exige a dignidade de viver. O inferno que vocês supõem estar além da vida, nela está, crescendo pegajosa como um sofrimento que pesa mais no espírito a cada ação vil cometida. O inferno é uma vida vivida com a alma pesada.
O ateu chorou.

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