Foi
muito comentado o caso da menina Fran, de apenas dezenove anos, que
teve um vídeo de uma relação sexual dela com o namorado, casado
com outra pessoa, divulgado na internet. A divulgação do vídeo foi
supostamente praticada pelo próprio namorado da menina. Na rede,
foram muitos os comentários de apoio à Fran e muitos outros de
repúdio ao comportamento dela. No vídeo, ela aparece praticando
sexo oral no namorado e oferecendo-lhe sexo anal, com um gesto de
"ok", que inclusive virou meme nas redes sociais.
Houve
críticas ao caráter da menina e muitos consideraram que o
comportamento dela é fruto da própria conduta das mulheres que
realizam, por exemplo, as "marchas das vadias" ou erguem
cartazes em prol da legalização da prostituição, nos quais se lê
"sou puta mas sou feliz".
Antes
de mais nada, é importante frisar que a prática de sexo oral ou
sexo anal não guarda relação com a categorização de mulheres
como "direitas" ou "erradas". São meras práticas
sexuais bastante comuns mesmo nos quartos de senhoras e senhores
absolutamente respeitáveis.
Tampouco
possui algo de recriminatório o fato de filmar o ato sexual. Não
são poucos os casais que se filmam e fotografam intimamente, tanto
como fantasia, como para auto-excitação posterior. Não difere
muito, nisso, dos casais que assistem filmes pornográficos antes de
praticarem sexo. Entender diferente, ou é conversa fiada, ou
hipocrisia.
Analisando-se
o caso da menina Fran a partir do que foi divulgado pela imprensa, a
única inconveniência, o único erro, de fato, não partiu dela, mas
de quem divulgou o vídeo. Essa pessoa é o verdadeiro canalha da
história, a única que mereceria repreensão moral da sociedade. A
garota estava realizando sexo entre quatro paredes com alguém em
quem ela confiava. Confiar em alguém não é, em princípio, um
erro, desrespeitar essa confiança é que é.
Em
ocasiões como essa, nas quais comportamentos sexuais de indivíduos
vêm à tona inadvertidamente, a parcela moralista da sociedade não
somente condena o comportamento, como defende com veemência a
inibição, o retraimento, de toda conduta sexual que não seja
aquela geralmente aceita pela sociedade: o "papai e mamãe"
dentro do casamento monogâmico e com fidelidade dos parceiros.
Claro,
que a crítica moralista está restrita ao que é escrito e falado e
não ao que é amplamente praticado no recôndito das alcovas,
inclusive pelos próprios moralistas.
Todo
o assunto é permeado pela hipocrisia moral. Tais moralistas,
possivelmente pela circunstância de terem nascido no seio de uma
cultura amplamente opressora e repressora, possuem dificuldade em
compreender o completo sentido da palavra liberdade. Talvez algumas
delas até compreendam, só que a compreensão se exaure no âmbito
mental, não sendo estabelecida uma ligação real, verdadeira, entre
a noção simbólica e o fenômeno material.
É
quase inacreditável que a civilização humana, que já alcançou
uma tal magnitude no desenvolvimento de vários aspectos culturais,
principalmente em sua vertente tecnológica, ainda rasteje nesse
estágio primitivo de fuga do real no que concerne ao sexo. Sim,
porque o real é o sexo, não a falta dele, e o sexo real jamais vai
caber numa caixa. Como é possível negar essa realidade?
Também
seria de se esperar, a essa altura de desenvolvimento, que fosse de
total percepção e domínio público a noção de que as liberdades
individuais somente devem ser restringidas naquilo que puderem
ofender física ou moralmente alguém, sendo que, em sua forma apenas
moral, a restrição à conduta deve ser limitada a casos de ofensa
grave e direta, ou seja, o objeto da ofensa deve ser a própria
pessoa em sua identidade, não cabendo punição em sua dimensão
meramente reflexa, quando a suposta "violação" atinge
algo abstrato não integrativo da personalidade.
Dito
mais claramente: ninguém deveria ser proibido de realizar algo
somente em virtude de "macular" uma subjetiva, territorial
e temporal noção de moral da pessoa ou da coletividade.
Se
a pessoa é pudica e, por isso, suscetível a rubores e
estremecimentos pela exposição a assuntos relacionados a sexo, o
problema é dessa pessoa e não de quem pratica a ação que ela
repudia. Que saia do recinto, não leia o texto feio, não veja a
cena pornográfica e não pratique o ato indesejado, mas não
pretenda impor seus valores morais a terceiros. Recolha-se à sua
casa ou à sua igreja e viva de forma ascética se assim achar
melhor.
Num
enfoque absolutamente racional e lógico, desprovido de valores
morais altamente subjetivos e temporais, as pessoas deveriam ser
livres para praticarem sexo com quem, na forma e no local que
desejassem. E quando falo no local estou, sim, me referindo inclusive
a locais públicos. Sexo não deveria ser considerado algo a esconder
da vida social ou das crianças. Sexo faz parte da vida. Nudez faz
parte de toda existência. Todos sabemos o que outro carrega entre
suas pernas. Que há de importante em esconder pelos, dimensões e
profundidades?
No
fundo, no fundo, assuntos como esse indicam que estamos todos nus,
mesmo trajando nossas roupas. A propósito, as melhores roupas são
chamadas "trajes de gala", cuja origem é a mesma de
"licença de gala". Ambas provêm de galar, ou seja, fazer
sexo. Portanto, o ser humano pensa em tirar a roupa mesmo enquanto a
veste.
Algumas
tribos indígenas possuem o costume, entre seus indivíduos, de
praticar sexo no mesmo local onde as crianças dormem e não consta
registro de pedofilia propriamente dita em tais comunidades ou de
qualquer outro desvio sexual relevante por conta disso.
Se
alguém, livremente, desejar se prostituir, o problema é dela, homem
ou mulher. Por que não seria possível ser "puta e ser feliz"
como diz o cartaz? E qual o problema se alguma mulher, sentido-se
fogosa, resolve ter uma vida sexual intensa? Até os dias de hoje, um
comportamento idêntico é considerado normal em relação aos
homens, que são contumazes em relacionar-se sexualmente em toda
oportunidade e com a maior variedade possível de parceiras. Não
somente o fazem, como vangloriam-se disso e dificilmente se
consideram promíscuos.
Esse
é o propósito da chamada "Marcha das Vadias": lembrar à
sociedade que as mulheres são senhoras de si mesmas e livres para
decidir o que estarão vestindo na hora que escolherem para quem irão
se despir.
E
o fato do parceiro da menina ser casado é absolutamente irrelevante.
Primeiro, porque as pessoas devem ser livres também para decidir os
modelos que adotarão para, digamos assim, oficializar a prática
costumeira de sexo com a mesma pessoa. Pode ser sem casamento, com
casamento monogâmico fechado, monogâmico aberto, poligâmico ou
qualquer um que venha a cabeça e os parceiros aceitem. Hoje, os
jovens "ficam". Ademais, se alguém possui o dever de
fidelidade é a parte casada. Os casados e casadas é quem devem se
preocupar, e recusar o sexo se for o caso, com a possibilidade de
magoar os respectivos cônjuges.
O
comportamento sexual de um casal hétero ou homossexual jamais
deveria ser capaz de ferir o outro, seja no físico, seja na honra,
tampouco sendo capaz de induzi-lo a adotar o mesmo comportamento se
não for por ele desejado.
A
palavra aqui é respeito. Respeito às liberdades do outro, inclusive
a de fazer sexo consentido adulto com qualquer pessoa pela qual se
sentir atraído.
Força,
Fran, você não fez absolutamente nada de errado e não deve
satisfação a ninguém.
Erga
a cabeça e siga em frente.
O fato do homem com quem ela estava se relacionando ser casado e ela saber disso não faz dela uma pessoa errada???
ResponderExcluirPra mim ela é tão errada quanto ele e só está pagando pelo erro que cometeu.
Coisas desse tipo deveriam ocorrer mais vezes para as mulheres se darem o valor e não saírem com homens casados.
Sr. Anônimo, é impressionante como, na sua lógica, apesar de o cara ser casado, a errada é - apenas - a moça em transar com ele???? Que modo de pensar mais lamentável!!!
ResponderExcluirA questão não é quem está errado por transar, mas na traição à confiança e exposição de algo que, errado ou não, estava amparado pelo comum acordo deles, e que um deles traiu ao expor a todo mundo... isso é muito mais grave do que a infidelidade dele em si.. um problema que ela, por não ser casada, nem teve!