segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Força Fran!


Foi muito comentado o caso da menina Fran, de apenas dezenove anos, que teve um vídeo de uma relação sexual dela com o namorado, casado com outra pessoa, divulgado na internet. A divulgação do vídeo foi supostamente praticada pelo próprio namorado da menina. Na rede, foram muitos os comentários de apoio à Fran e muitos outros de repúdio ao comportamento dela. No vídeo, ela aparece praticando sexo oral no namorado e oferecendo-lhe sexo anal, com um gesto de "ok", que inclusive virou meme nas redes sociais.
Houve críticas ao caráter da menina e muitos consideraram que o comportamento dela é fruto da própria conduta das mulheres que realizam, por exemplo, as "marchas das vadias" ou erguem cartazes em prol da legalização da prostituição, nos quais se lê "sou puta mas sou feliz".

Antes de mais nada, é importante frisar que a prática de sexo oral ou sexo anal não guarda relação com a categorização de mulheres como "direitas" ou "erradas". São meras práticas sexuais bastante comuns mesmo nos quartos de senhoras e senhores absolutamente respeitáveis.
Tampouco possui algo de recriminatório o fato de filmar o ato sexual. Não são poucos os casais que se filmam e fotografam intimamente, tanto como fantasia, como para auto-excitação posterior. Não difere muito, nisso, dos casais que assistem filmes pornográficos antes de praticarem sexo. Entender diferente, ou é conversa fiada, ou hipocrisia.
Analisando-se o caso da menina Fran a partir do que foi divulgado pela imprensa, a única inconveniência, o único erro, de fato, não partiu dela, mas de quem divulgou o vídeo. Essa pessoa é o verdadeiro canalha da história, a única que mereceria repreensão moral da sociedade. A garota estava realizando sexo entre quatro paredes com alguém em quem ela confiava. Confiar em alguém não é, em princípio, um erro, desrespeitar essa confiança é que é.
Em ocasiões como essa, nas quais comportamentos sexuais de indivíduos vêm à tona inadvertidamente, a parcela moralista da sociedade não somente condena o comportamento, como defende com veemência a inibição, o retraimento, de toda conduta sexual que não seja aquela geralmente aceita pela sociedade: o "papai e mamãe" dentro do casamento monogâmico e com fidelidade dos parceiros.
Claro, que a crítica moralista está restrita ao que é escrito e falado e não ao que é amplamente praticado no recôndito das alcovas, inclusive pelos próprios moralistas.
Todo o assunto é permeado pela hipocrisia moral. Tais moralistas, possivelmente pela circunstância de terem nascido no seio de uma cultura amplamente opressora e repressora, possuem dificuldade em compreender o completo sentido da palavra liberdade. Talvez algumas delas até compreendam, só que a compreensão se exaure no âmbito mental, não sendo estabelecida uma ligação real, verdadeira, entre a noção simbólica e o fenômeno material.
É quase inacreditável que a civilização humana, que já alcançou uma tal magnitude no desenvolvimento de vários aspectos culturais, principalmente em sua vertente tecnológica, ainda rasteje nesse estágio primitivo de fuga do real no que concerne ao sexo. Sim, porque o real é o sexo, não a falta dele, e o sexo real jamais vai caber numa caixa. Como é possível negar essa realidade?
Também seria de se esperar, a essa altura de desenvolvimento, que fosse de total percepção e domínio público a noção de que as liberdades individuais somente devem ser restringidas naquilo que puderem ofender física ou moralmente alguém, sendo que, em sua forma apenas moral, a restrição à conduta deve ser limitada a casos de ofensa grave e direta, ou seja, o objeto da ofensa deve ser a própria pessoa em sua identidade, não cabendo punição em sua dimensão meramente reflexa, quando a suposta "violação" atinge algo abstrato não integrativo da personalidade.
Dito mais claramente: ninguém deveria ser proibido de realizar algo somente em virtude de "macular" uma subjetiva, territorial e temporal noção de moral da pessoa ou da coletividade.
Se a pessoa é pudica e, por isso, suscetível a rubores e estremecimentos pela exposição a assuntos relacionados a sexo, o problema é dessa pessoa e não de quem pratica a ação que ela repudia. Que saia do recinto, não leia o texto feio, não veja a cena pornográfica e não pratique o ato indesejado, mas não pretenda impor seus valores morais a terceiros. Recolha-se à sua casa ou à sua igreja e viva de forma ascética se assim achar melhor.
Num enfoque absolutamente racional e lógico, desprovido de valores morais altamente subjetivos e temporais, as pessoas deveriam ser livres para praticarem sexo com quem, na forma e no local que desejassem. E quando falo no local estou, sim, me referindo inclusive a locais públicos. Sexo não deveria ser considerado algo a esconder da vida social ou das crianças. Sexo faz parte da vida. Nudez faz parte de toda existência. Todos sabemos o que outro carrega entre suas pernas. Que há de importante em esconder pelos, dimensões e profundidades?
No fundo, no fundo, assuntos como esse indicam que estamos todos nus, mesmo trajando nossas roupas. A propósito, as melhores roupas são chamadas "trajes de gala", cuja origem é a mesma de "licença de gala". Ambas provêm de galar, ou seja, fazer sexo. Portanto, o ser humano pensa em tirar a roupa mesmo enquanto a veste.
Algumas tribos indígenas possuem o costume, entre seus indivíduos, de praticar sexo no mesmo local onde as crianças dormem e não consta registro de pedofilia propriamente dita em tais comunidades ou de qualquer outro desvio sexual relevante por conta disso.
Se alguém, livremente, desejar se prostituir, o problema é dela, homem ou mulher. Por que não seria possível ser "puta e ser feliz" como diz o cartaz? E qual o problema se alguma mulher, sentido-se fogosa, resolve ter uma vida sexual intensa? Até os dias de hoje, um comportamento idêntico é considerado normal em relação aos homens, que são contumazes em relacionar-se sexualmente em toda oportunidade e com a maior variedade possível de parceiras. Não somente o fazem, como vangloriam-se disso e dificilmente se consideram promíscuos.
Esse é o propósito da chamada "Marcha das Vadias": lembrar à sociedade que as mulheres são senhoras de si mesmas e livres para decidir o que estarão vestindo na hora que escolherem para quem irão se despir.
E o fato do parceiro da menina ser casado é absolutamente irrelevante. Primeiro, porque as pessoas devem ser livres também para decidir os modelos que adotarão para, digamos assim, oficializar a prática costumeira de sexo com a mesma pessoa. Pode ser sem casamento, com casamento monogâmico fechado, monogâmico aberto, poligâmico ou qualquer um que venha a cabeça e os parceiros aceitem. Hoje, os jovens "ficam". Ademais, se alguém possui o dever de fidelidade é a parte casada. Os casados e casadas é quem devem se preocupar, e recusar o sexo se for o caso, com a possibilidade de magoar os respectivos cônjuges.
O comportamento sexual de um casal hétero ou homossexual jamais deveria ser capaz de ferir o outro, seja no físico, seja na honra, tampouco sendo capaz de induzi-lo a adotar o mesmo comportamento se não for por ele desejado.
A palavra aqui é respeito. Respeito às liberdades do outro, inclusive a de fazer sexo consentido adulto com qualquer pessoa pela qual se sentir atraído.
Força, Fran, você não fez absolutamente nada de errado e não deve satisfação a ninguém.
Erga a cabeça e siga em frente.

2 comentários :

  1. O fato do homem com quem ela estava se relacionando ser casado e ela saber disso não faz dela uma pessoa errada???
    Pra mim ela é tão errada quanto ele e só está pagando pelo erro que cometeu.
    Coisas desse tipo deveriam ocorrer mais vezes para as mulheres se darem o valor e não saírem com homens casados.

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  2. Sr. Anônimo, é impressionante como, na sua lógica, apesar de o cara ser casado, a errada é - apenas - a moça em transar com ele???? Que modo de pensar mais lamentável!!!
    A questão não é quem está errado por transar, mas na traição à confiança e exposição de algo que, errado ou não, estava amparado pelo comum acordo deles, e que um deles traiu ao expor a todo mundo... isso é muito mais grave do que a infidelidade dele em si.. um problema que ela, por não ser casada, nem teve!

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