Sr. chefe do clã Roberto Marinho, antes de mais nada, deixe-me esclarecer que, a partir da morte do patriarca Roberto Marinho, não se sabe bem quem manda no conglomerado Globo, se é o Roberto Irineu, o João, o José ou outro qualquer oculto do público (Kamel, Schroder, talvez Bonner? Não, o Bonner do "Homer Simpson" não pode ser...), sendo essa a razão que me conduz a direcionar a presente súplica a um indeterminado "chefe do clã", seja quem for.
Sr. chefe do clã, o
senhor, claro, não me conhece e, provavelmente, jamais conhecerá.
Pertencemos a mundos que jamais se tocam, sequer tangenciam.
Parafraseando o famoso livro, sua classe é de Vênus, a minha é de
Marte. O senhor é um bilionário, um empresário altamente poderoso,
que integra o milésimo superior da população humana e se relaciona
com as pessoas mais poderosas do planeta. Basta o seu simples desejo
e estará apreciando um Macallan, 1946, baforando um Gurkha Black
Dragon ou um Cohiba Behike, enquanto aguarda o prato mais caro pedido
no Restaurant Le Meurice, em Paris. Não se surpreenda, não conheço
nada disso, pesquisei no São Google, o pai dos descerebrados.
Quanto a mim, integro a fatia de 99% da população brasileira que não possui poder algum, sem qualquer condição de interferir no processo político-econômico brasileiro, nos rumos da nação onde nasci e vivo. Quando bebo, vou de cerveja no restaurante quase pé-sujo aqui perto de casa e, quando quero extrapolar, peço um Red Label e olhe lá. Como única distinção, talvez, do comum do povo, tive a sorte de ter acesso a alguma educação e algum conhecimento. Não por merecimento ou destacado esforço individual, foi sorte mesmo, aquela coisa de estar no lugar certo, na hora certa. No mais, nada mais. Sou simplesmente um dentre os milhões de brasileiros mexilhões, amarrados nas pedras da vida, presos, imóveis, sugando o que o mar trás, quando trás, e assistindo, impotente, essa infindável luta entre o rochedo e o mar, embora ciente de que o mar sempre vence no final, transformando a rocha sólida em areia fina. Não é muito difícil perceber onde o verdadeiro poder reside, basta algum tempo e algum conhecimento. Nessa metáfora um tanto infantil, Sr. chefe do clã, sem dúvida alguma o conglomerado Globo representa o mar, sendo o Brasil o rochedo.
Quanto a mim, integro a fatia de 99% da população brasileira que não possui poder algum, sem qualquer condição de interferir no processo político-econômico brasileiro, nos rumos da nação onde nasci e vivo. Quando bebo, vou de cerveja no restaurante quase pé-sujo aqui perto de casa e, quando quero extrapolar, peço um Red Label e olhe lá. Como única distinção, talvez, do comum do povo, tive a sorte de ter acesso a alguma educação e algum conhecimento. Não por merecimento ou destacado esforço individual, foi sorte mesmo, aquela coisa de estar no lugar certo, na hora certa. No mais, nada mais. Sou simplesmente um dentre os milhões de brasileiros mexilhões, amarrados nas pedras da vida, presos, imóveis, sugando o que o mar trás, quando trás, e assistindo, impotente, essa infindável luta entre o rochedo e o mar, embora ciente de que o mar sempre vence no final, transformando a rocha sólida em areia fina. Não é muito difícil perceber onde o verdadeiro poder reside, basta algum tempo e algum conhecimento. Nessa metáfora um tanto infantil, Sr. chefe do clã, sem dúvida alguma o conglomerado Globo representa o mar, sendo o Brasil o rochedo.
A única coisa que nos
resta, a nós desempoderados, de tempos em tempos, é participar
desse estelionato democrático chamado eleição, transformados em
eleitores, como se isso fosse, efetivamente, sinônimo de
democracia... mas, deixemos esse assunto de lado, não é o momento,
e vamos ao que interessa.
Dirijo-me à Vossa
Senhoria..., não, perdoe-me duplamente. "Vossa Senhoria" é
uma forma de tratamento ordinária, dirigível a qualquer pessoa
comum, até mesmo, ora, bolas, a mim. Se posso ser tratado por Vossa
Senhoria, de forma nenhuma é correto que eu, simples marciano,
dirija esse mesmo tratamento aos imensamente poderosos e excelentes
venusianos. É como se um membro da ralé ousasse tratar o Rei Sol
francês por um informal "você"... o calabouço e a forca
certamente o esperariam. É, no mínimo, descortesia equipará-lo a
mim. Coloco-me no meu lugar, novamente peço perdão pelo deslize e
passo a utilizar o tratamento justo e merecido, inclusive grafando a
palavra "chefe" com inicial maiúscula, como deve ser e
recomenda o bom senso.
Dirijo-me, agora de
forma correta, à Vossa Excelência porque é Vossa Alteza, na
condição de dirigente máximo do Grupo O Globo, quem, de fato,
domina a política nacional, na condição de empresa de informação
mais poderosa do país e uma das mais poderosas do mundo.
É Vossa Decidicência,
ao fim e ao cabo, manobrando a puta do seu jornal, quer dizer,
perdoe-me, a pauta do seu jornal, que determina os assuntos que os
brasileiros discutirão no café da manhã, no almoço, no jantar, na
roda de cerveja, no trabalho, na praia, no clube, no puteiro e na
igreja.
Claro que as empresas
coirmãs possuem uma fatia desse poder, mas não é tão relevante
quanto a da Globo, sejamos honestos. Uma reportagem no Jornal
Nacional de três minutos põe por terra uma reportagem de dez página
na publicação de qualquer uma delas, seja Abril, Estadão, Folha ou
qualquer outra. Se a Globo deixar de repercutir, nenhuma notícia
ganha dimensão pública nacional ou ingressa na pauta dos assuntos
coletivos.
É por isso que me
dirijo a Vossa Majestosíssima pessoa: por reconhecer o poder onde
ele repousa de fato, submetendo meu rogo a quem pode efetivamente
resolver o problema. Trata-se de simples aplicação prática de
velha sabedoria popular: para bom entendedor um pingo é letra e
manda quem pode, obedece quem tem juízo.
E o que venho
humildemente suplicar? Suplico pelos brasileiros, Exmo. Sr. Chefe do
clã, esse amontoado indistinto de pessoas que vem consolidando uma
identidade nacional há quinhentos anos, um trabalho ainda inacabado
e que poucos dirigentes políticos nacionais se deram ao trabalho de
incentivar. Talvez um Pedro II, quem sabe um Getúlio ou um JK,
certamente Lula. O restante? Governaram estritamente para os ricos e
se algum ganho houve para os pobres, foi pouco e acidental.
O povo brasileiro não
foge à regra mundial histórica de se constituir majoritariamente
por pobres e miseráveis, despossuídos, ignorantes e desempoderados.
E de que forma o poderoso conglomerado Globo pode ajudar esse povo?
Na verdade não precisa muito. Não há nem necessidade de meter a
mão no bolso e reduzir em um centavo sequer a fortuna bilionária do
clã Marinho. É sensacional: o clã pode ajudar, e muito, o povo
brasileiro e ainda assim permanecer com sua imensa fortuna, com ampla
possibilidade até mesmo de ampliá-la.
Mas, como
exatamente? A resposta chega a ser engraçada, Exmo. Sr. Chefe do
clã, e creio que Vossa Bemhumoricência se rirá muito disso na
verdade, se algum senso de humor residir nesse espírito atormentado
pelas agruras da riqueza quase sem fim: basta seguir os princípios
editoriais do Grupo Globo que se encontram publicados em seu próprio
endereço na internet, aqui:
http://g1.globo.com/principios-editoriais-do-grupo-globo.html.
Não é cômico, Exmo.
Sr. Chefe do Clã? Basta ao Grupo Globo seguir rigorosamente as
próprias regras para auxiliar, e muito, os brasileiros.
Então...
A principal regra,
Excelentíssimo, é aquela que vem inscrita, nos Princípios
Editoriais do Grupo Globo no Item 1 da "Seção I - Os atributos
da informação de qualidade", que é a isenção, caracterizada
principalmente pelo apartidarismo e ausência de uso de frases na
condicional, que vocês exemplificam com o seguinte ensinamento:
'Será dito que “a autoridade disse isso e aquilo”, em vez de
“a autoridade teria dito isso e aquilo”'. Num exemplo
prático, deveria ser evitada uma manchete assim: "OAS confirma
ter realizado obra em apartamento triplex que seria de Lula" ou
ainda "Odebrecht teria bancado reforma em sítio utilizado por
Lula". São afirmações que violam o código de ética do
próprio O Globo.
Meritíssimo Chefe, há
isenção plena em manchete que planta, na cabeça do leitor, sem
prova concreta, a minhoca de uma suspeita sobre uma figura pública,
ainda mais em se tratando de um ex-presidente da República e,
principalmente, sobre atos supostamente realizados após sair da
presidência? Há um problema de credibilidade que pode pesar contra
O Globo: algumas pessoas podem supor que isso não tem a nada a ver
com ética e moral, mas sim com evitar a recondução de Lula à
presidência em 2018.
Aliás, Malemolente
Chefia, vamos e convenhamos, essa coisa do sítio, isso é mesmo
notícia? Vamos falar sério um pouquinho? Quantas pessoas comuns
possuem amigos que tem sítio ou casa de praia e, assim, usam esses
bens por conta de amizade? Sou pessoa comum, ainda assim tenho amigos
com propriedades de veraneio em Búzios, em Angra, em Lumiar, em
Macaé e outros lugares, sempre a me convidar a utilizá-las,
inclusive para arejá-las, porque pouco usadas. Imagine pessoas como
Lula ou, sei lá, Fernando Henrique Cardoso, quantos amigos ricos e
poderosos fizeram ao longo de seus anos públicos? E outra,
Excrescente Pontífice, não sou rico e posso tranquilamente comprar
um barco de alumínio de quatro mil reais, ainda que em dez vezes sem
juros nas Casas Sergipe, no Conto Trio Sonzão ou nas Lojas
Amerdilhanas. Imagine uma pessoa como Lula, que de forma lícita,
primeiro, economizou muito dinheiro durante o tempo de presidência,
como todo presidente da República (somente idiotas desconhecem que
presidentes praticamente não possuem gasto algum). Só aí, no
barato, juntou bons dois milhões e meio de reais. Segundo, ganhou
muito dinheiro, após sair da presidência, com palestras. Como essa
carta é dirigida a V.Exa., pessoa culta e informada, não preciso
explicar, como seria imperioso em relação aos ignorantes, que o
público é sedento por palestras de pessoas públicas e famosas,
sendo comum que ex-presidentes, como FHC, Clinton e até um idiota
como Bush, virem palestrantes e ganhem muito dinheiro com isso, o
mesmo ocorrendo com ex-atletas famosos, como Bernardinho, empresários
de sucesso, BBB's da própria Globo e mesmo ex-camelôs vitoriosos. Dizem as línguas afiadas que o ex-camelô ganha até cem
mil reais mensais com palestras, Invejência, veja só. Aliás,
quanto um empresário de sucesso como o senhor cobra ou cobraria,
Palestrência? 500 mil? Um milhão? Vossa Perfeicência certamente
merece. Ainda por baixo, com quatro palestras por mês a cinquenta
mil reais cada, que um ex-presidente de um país como o Brasil
consegue fácil, fácil, tanto no país, como no exterior (pergunte,
Vossa Indagacência, ao FHC quanto ele cobra por palestra) dá mais
outro tanto e já chegamos a cinco milhões absolutamente limpos. Não
pesquisei isso em nada, estou chutando e muito por baixo,
Incredulentíssimo Chefe.
A história do barco
de alumínio faz recordar a falácia ridícula de Collor, na eleição
de 1989, dizendo que Lula tinha um aparelho "três em um"
que elle não tinha, mera empulhação manipulativa da opinião
pública. Afinal, se não me falta dinheiro e um amigo me empresta
regularmente seu sítio, não terei problema algum em comprar um
barquinho para colocar no lago do sítio, onde eu mesmo irei pescar.
Posso resgatar o barquinho a hora que eu quiser e posso, em sinal de
gratidão, presenteá-lo ao dono do sítio. O resto é má-fé e
conversa fiada.
Ainda no tema "assunto
tabu" e já resvalando para o apartidarismo afirmado nos
Princípios, uma suspeita de que Lula seja o dono oculto de um sítio
mediano ou de um apartamento de tamanho e valor também medianos gera
imensa polêmica. Por que razão, Parcialentíssimo Chefe, o mesmo
não ocorre com o o também ex-presidente FHC, dono confesso de um
apartamento em Paris, esse sim, um bem de alto valor, e que, até
ontem, dizia que era de um amigo? Até onde se saiba, FHC era um mero
professor universitário. De onde vem o dinheiro para aquisição
desse bem valioso? Não caberia a O Globo investigar isso com mais
vigor, em nome do interesse público?
Também não foi algo
estranha, Dormitente Chefe, a ausência de investigação aprofundada
de O Globo sobre o helicóptero carregado com 500 quilos de cocaína?
Uma apreensão feita em flagrante e sem nenhum culpado? Um
helicóptero que pode ser diretamente ligado a um deputado de certo
partido e, pelo exercício da mesma suposição condicional comumente
utilizada em relação aos políticos do PT, a um senador desse mesmo
partido? Não caberia uma machete "Carregado de cocaína, foi
apreendido helicóptero do deputado fulano, que seria amigo íntimo
do senador sicrano, ambos do partido Tal e qual"? Lembro-me que
a expressão "empresário amigo de Lula" foi utilizado um
sem-número de vezes em manchetes de primeira página, como se o fato
de ser amigo de alguém incriminado fosse, por isso só, uma infração
ética ou mesmo um delito.
E mais: o escândalo
do Metrô em São Paulo, nas gestões José Serra e Geraldo Alckmin,
possivelmente vinculado aos desvios investigados pela Lava-Jato, não
teve cobertura e investigação decente, Bicudência, se me permite
dizê-lo assim, tão despudoradamente para um fracote como eu. Isso
não pode dar a entender, para desonra de O Globo, uma tentativa de
acobertar todo e qualquer desvio ético que não tenha alguma
vinculação com o PT? Não poderia sugerir, e já me penitencio por
sugerir esse despautério, que O Globo objetiva, em última análise,
não alavancar o combate à corrupção, mas simplesmente retirar o
PT do poder? Escusência, alguém pode acabar dizendo que O Globo
possui compromisso com algum partido, digamos, o PSDB, o que
ofenderia o que estatuí seus próprios Princípios Editoriais.
Apenas como mais um
exemplo de isenção e apartidarismo, Alienência, O Globo, ao
publicar reportagens sobre o risco acentuado de faltar água numa das
maiores cidades do mundo, São Paulo, com perigo concreto para
milhões de vidas, repetidamente atribuiu a culpa a um evento
climático, a falta de chuvas num determinado ano, sem relacionar
esse risco hídrico à inação do governo estadual realizado por um
determinado partido durante décadas e que deixou de realizar um
planejamento hídrico prévio apesar de continuamente avisado sobre o
perigo. Afinal, Estiagência, como seria possível que um
reservatório imenso, como o Sistema Cantareira, com água suficiente
para vários anos, tenha esgotado subitamente por uma simples
estiagem? Nos anos anteriores não se viu manchete denunciando
estiagens e comprometimento do reservatório. Em Nova Iorque, tempos
atrás, bastou os reservatórios chegarem à metade para obras
imensas serem feitas. Em São Paulo, o nível começou a baixar há uma
década, passaram-se anos, o nível chegou à metade e nada, nenhuma
obra, apesar dos avisos. Mais alguns anos, baixou para um terço e
nada, o tempo passou, baixou ainda mais e nada, chegando
ridiculamente ao volume morto e, ainda assim, nada. Mas, para O
Globo, a culpa é... da chuva. Pega mal, Esfarrapência... Ainda mais
porque, depois, quando os órgãos fiscalizadores, inclusive o
Tribunal de Contas do Estado, finalmente culparam a falta de
planejamento e inação dos sucessivos governos tucanos, nenhuma
grande manchete até agora denunciou isso, o que pode passar a
impressão que o eterno governo do PSDB em São Paulo é perfeito.
Será esse o seu desejo, Tomatenência? Novamente chamo a atenção:
pode dar a entender que O Globo está protegendo o PSDB.
E já que adentrei em
tema arriscado, Escorpiência, vou prosseguir. O princípio de
isenção de O Globo, que também desautoriza a existência de
assuntos tabus, devendo tudo aquilo que for de interesse público,
ser publicado, analisado e discutido, também alcança a relação um
tanto obscura da Receita Federal com O Globo ou seria, Elevadíssima
Chefência, uma exceção à regra? Afinal, trata-se de verdade
processual penal que o acusado não é obrigado a produzir prova
contra si. Mas, sem querer ofender e sempre ressalvando que O Globo
merece a presunção de inocência que a lei dedica a todos (mas que
não vem sendo muito respeitada nas manchetes do jornal em relação,
exclusivamente, aos políticos de partidos do governo), não é, no
mínimo, do interesse do público ser informado sobre um procedimento
fiscal que investiga e, no final, responsabiliza a maior empresa de
informação do país por sonegação tributária em valor
gigantesco? E cujo procedimento fiscal desaparece da Receita Federal
pelas mãos de uma Auditora Fiscal? Afinal, por quais motivos uma
pessoa que exerce o maior cargo da estrutura fiscal, que teve que
estudar exaustivamente para passar num dos concursos públicos mais
severos da Administração Pública, iria arriscar o seu emprego? De
fato, a servidora acabou sendo exonerada por essa razão. Por que
essa pessoa manteria um completo e fiel silêncio a respeito do
sumiço do procedimento? Num jornalismo investigativo de verdade, as
perguntas a serem feitas seriam: a servidora lucrou ao ser condenada
e ao perder um emprego cobiçado?; a quem interessa o seu silêncio?
Outro ponto importante
dos Princípios Editoriais de O Globo, quanto à isenção, e que
deve ser estritamente cumprido em prol do povo brasileiro,
Soberbíssima Cheficência: denúncias feitas em entrevistas por
pessoas sem credibilidade, como criminosos, por exemplo, mesmo se
identificadas, devem ser exaustivamente investigadas, antes de ser
publicadas. Eu não inventei isso... está lá nos Princípio de O
Globo.
Exmo. Sr. Chefe,
lembro-me perfeitamente das denúncias que estamparam as manchetes do
Globo, realizadas por um criminoso condenado, inclusive por calúnia,
vindo de Campinas, um tal de Rubnei Quícoli, que depois desdisse
tudo em sede judicial. Seria fácil, à época, investigar o
meliante, mas O Globo descumpriu seus próprios mandamentos e lançou
a suspeita sobre o governo sem qualquer investigação decente.
Aliás, todas as
denúncias feitas no âmbito da Operação Lava-Jato estão
enquadradas nesse critério impeditivo. Tratam-se de criminosos
confessos que delatam para angariar redução da pena e, de quebra,
ainda permanecer com parte considerável do butim. Ainda assim, vemos
um infindável mar de manchetes contendo "delator disse isso"
e "delator disse aquilo", sem qualquer comprovação
investigativa e sem que o desdobramento do processo penal, que
supostamente deveria apresentar prova concreta do fato delatado, seja
publicado pelo O Globo. E, Senhor Superlativíssimo Cheféssimo, um
erro não é capaz de desculpar outro. Assim, o fato de um
irresponsável divulgar ilicitamente trechos de delações sigilosas,
feitas por criminosas, não justifica que O Globo rompa com suas
autodeterminações e ponha em perigo a reputação alheia sem
realizar um mínimo de investigação.
Dignicentíssimo
Senhor Chefe do Clã, ambos sabemos que, historicamente, desde a
Grécia clássica, passando por Roma, atravessando a Idade Média e
chegando aos nossos dias, os interesses da elite e os da ralé sempre
foram antagônicos. Escravidão, servidão feudal, liberalismo
contratual pleno da Revolução Industrial e contratos de trabalho
modernos, fundados numa disparidade abissal entre os ganhos de
capital e os do trabalho, são expressões temporais de uma realidade
que se perpetua no tempo e à salvo de qualquer iniciativa política
em sentido contrário, a saber, a riqueza extremada e sem sentido de uma parcela
absolutamente inexpressiva da população depende da pobreza e da
miséria da quase totalidade dos seres humanos. Foi assim no Egito
dos farós e continua a ser assim atualmente, momento em que um número extremamente ridículo de tão pequeno, 85
pessoas (em minhas modestas festas reúno mais gente que isso), as mais ricas do mundo (Bill Gates, Carlos Slim et
caterva), detêm riqueza superior a de 3,5 bilhões de pessoas,
metade do mundo, enquanto que o centésimo superior da população
mundial (1%) possui tanta ou mesmo mais riqueza que os 99% restantes.
A vontade e o desejo
da elite é, primeiro e acima de tudo, manter o poder a qualquer
custo, mesmo se disso depender alguma redução de seu próprio
patrimônio. A opção é óbvia e sábia (para ela): mantido o
poder, ele próprio será o instrumento de reconstituição do
patrimônio em curto prazo, não se esquecendo que dinheiro, em
princípio, é apenas um modo de acesso ao poder. Segundo, enriquecer
mais e mais, infinitamente se possível. Já a ralé deseja viver com
um mínimo de dignidade; basicamente, quer moradia, alimentação,
vestuário, saúde e educação. Não é muito, não é mesmo, Vossa
Voracidade?
De fato, a ralé quer
pouco, quer o mínimo, mas, ainda assim, isso incomoda o desejo de
poder e de riqueza ilimitada. A elite fez no passado histórico, faz
no presente e tudo fará no futuro para impedir o acesso à dignidade
da ralé.
O motivo,
Exploracência, nós dois o sabemos bem: uma ralé ignorante e
desesperada por sobreviver se submete com mais facilidade; aceita o
subemprego e o subssalário ("é o que tem, melhor pegar");
torna-se incapaz de produzir a crítica de distinção entre os
interesses públicos em jogo ("se fulano, belo, rico e mais
instruído do que eu, diz na televisão e no jornal que isso é
melhor para o pobre, então deve ser melhor para mim mesmo");
culpa-se individualmente pelo fracasso pessoal nascido de um modelo
coletivo equivocado (o capitalismo com regras especialmente criadas
para desregulamentá-lo, ou seja, torná-lo sem regras); adota um
visão conformista do mundo, resignando-se com as condições
materiais miseráveis que se perpetuam geração após geração ("as
coisas são assim mesmo", dizia o escravo e diz, agora, o
favelado); não se revolta ao ter ciência de que o salário anual de
um colega de trabalho, o superexecutivo, é mil vezes superior ao do
operário da mesma empresa e bovinamente enxerga nisso o império de
uma falsa meritocracia, sem se dar conta de que isso implica uma
degeneração axiológica, qual seja, conferir validade à
circunstância de que a vida de um ser humano (pois é disso que se
trata - condições de sobrevivência caracterizam e qualificam a
vida vivida) seja valorada mil vezes mais do que a de outro ser
humano (mesmo pessoas com razoável nível de instrução caem nesse
conto do vigário que é legitimar uma meritocracia fundada em pontos
de partida desiguais).
Dito isso,
Golpecência, deixemos a hipocrisia de lado: ambos sabemos que seus
interesses não comungam com os interesses do povo, nunca comungaram
e jamais comungarão. Já houve até aquele episódio de pedir
desculpas pelo apoio ao golpe militar, coisa de aparências, para
historiador ver (e acreditar se for imbecil).
Os interesses de Vossa
Riquecência são aqueles que descrevi acima, inerentes a todo e
qualquer bilionário: manter o poder e a riqueza. O povo não tem
nada a ver com isso e, na verdade, às vezes até atrapalha esse
objetivo, como vem atrapalhando nesse momento. Isso não chega a ser
um grande problema, pois, como já salientei, trata-se de um povo
cuja grande maioria possui pouca instrução e, consequentemente,
pouca capacidade crítica. Inocentemente, acreditam que O Globo os
defende, que possui jornalistas isentos e independentes de uma linha
editorial predefinida por Vossa Engabelocência, que sabe utilizar
tal ingenuidade contra o povo, como sempre fizeram os grandes da
história.
Ainda que assim seja,
suplico a Vossa Santidade, e eis que finalmente surge o motivo dessa
súplica aberta, que refreie apenas um pouco essa sua sede insaciável
de poder e de riqueza, coisa até natural e previsível em pessoas de
sua estirpe e genealogia, deve ser reconhecido. Aqui dou uma de
conformista: sempre foi assim, desde Nabucodonosor ou até antes.
Peço de joelhos e em
público, se for necessário, que Vossa Superiorência deixe o
governo trabalhar em paz; que cesse de estimular golpes; que deixe de
se dedicar a futricas e boatos de uma ou duas linhas, especialmente
desenvolvidas para acirrar discórdias; que se envolva na construção
de uma paz política que permita ao país prosseguir; que pare de
criar escândalos sucessivos a partir de quinquilharias como um barco
de alumínio ou uma opção não realizada de compra de um
apartamento classe média; que pare de repercutir escândalos de
revistas já com o nome sujo na praça, envolvida com criminosos de
verdade, do tipo que usa um "três oitão" (Vossa
Sabessência sabe qual); que deixe de dar alento a pessoas públicas
frustradas, invejosas, mal-intencionadas e partidárias, como alguns
perdedores de eleição e um ou outro integrante sem ética do Poder
Judiciário (Vossa Repetecência também sabe de quem estou falando);
que deixe de contar meias verdades, que se tornam mentiras inteiras,
como a do valor da ação da Petrobras, apenas para ficar nesse
exemplo, que o jornal não se preocupa em vincular à extraordinária
queda do preço internacional do petróleo; enfim, que cumpra o
princípios editoriais criados por Vossa Criacência mesmos.
Não haverá perda
nisso, salvo algum orgulho ferido de não ter logrado extirpar o PT
do governo, o que Vossa Extirpência considera, claro, uma ofensa ao
seu poder. Mas, sua riqueza tenderá a aumentar, como vem ocorrendo
ao longo dos anos, fora esse pequena fenda na rocha de seu poder, de
não ter podido, nos governos petistas, entrar no Palácio do
Planalto e desandar a dar ordens ao presidente, como fazia
regularmente Roberto Marinho até o governo de Fernando Henrique
Cardoso, sendo sempre cordeiramente obedecido. Enfim, salvo essa
pequena ranhura, Tiranência, o seu poder continua imenso e sua
riqueza tende a aumentar.
Deixe esse governo
trabalhar e dar um pouquinho só de dignidade ao povo. Vossa
Iracundecência sabe, e até se irrita bastante com isso, eu sei, que
esse foi o primeiro governo que, sem desatenção às exigências
desse leviatã chamado "mercado", deu um pouquinho aos
pobres, uma migalha.
Sacrilência, embora
seja ateu, imploro em nome de Cristo (se V. Informacência for
cristão), de Alá (se muçulmano), de Jeová (se judeu) ou de Satã
(vai que Vossa Diabência possui um lado mais obscuro?), por sua
magnanimidade. Deixe o povo receber só mais um pouquinho. Não irá
te fazer falta. Só faltam três anos para Vossa Salivência tentar
emplacar novamente um presidente. Pode ser até que esse altruísmo
seja bem visto, por Deus ou pelo diabo que o carregue, e acabe
ajudando o seu candidato (tenho que ser sincero e confessar que torço
por um novo fracasso seu).
Sinceramente, ansiando
por Vossa Duvidosíssima sensibilidade e sensatez, desse brasileiro
sem poder e sem riqueza,
Marcio Valley.
Tira os joelhos do chāo,com estes monstros nāo tem conversa,muito menos súplicas!!
ResponderExcluirRealmente abominável a capacidade da Globo em distorcer a realidade.
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