A
atmosfera primitiva de nosso planeta era muito diferente da atual.
No
início, tratava-se de uma massa gasosa formada por diversos gases,
como vapor de água, metano, amoníaco e hidrogênio, monóxido de
carbono, dióxido de carbono e azoto.
Não
havia oxigênio, de modo que, se uma máquina do tempo nos
transportasse até aquele tempo, morreríamos em minutos ao respirar
aquele ar super-tóxico.
Isso,
contudo, não impediu que a vida se impusesse. Dentre as diversas
espécies de microvidas que então surgiram, capazes de respirar
naquela nuvem venenosa, houve uma que aspirava os gases tóxicos e
expirava oxigênio. E, para nossa sorte, esse micro-organismo foi bem
sucedido na batalha da sobrevivência e prevaleceu, continuando a
excretar oxigênio durante milhões e milhões de anos. A minúscula
criatura tanto pôs oxigênio para fora que encheu a atmosfera
terrestre desse gás tão precioso para nós.
Essas
pequenas criaturas mudaram por completo a composição de nossa
atmosfera, que passou a possuir uma imensa parcela de oxigênio. Não
demorou, surgiram seres que se aproveitaram do excesso de oxigênio e
passaram a respirar esse gás. Dentre eles, nós.
Esse
talvez seja o maior exemplo e ao mesmo tempo prova cabal da interação
que há entre os seres vivos e os não-vivos que habitam o nosso
planetinha azul. Uma interação através da qual a vida produz o
milagre de criar as condições ambientais de permanência dela
própria.
Tal
interação é o fundamento da Hipótese de Gaia, proposta pelo
cientista James Lovelock, um renomado cientista ambiental, membro da
Royal Society, do Reino Unido.
Na
verdade já alçada à condição de teoria por diversos cientistas,
a Hipótese de Gaia propõe que o planeta Terra se comporta como um
todo orgânico vivo, organismo esse do qual os demais seres vivos,
inclusive nós, fariam parte, não como indivíduos propriamente
ditos, mas como elementos orgânicos do todo, como, por exemplo,
nossas células em relação a nós mesmos.
Gaia,
como organismo, seria capaz de reagir a toda e qualquer atividade dos
seres vivos, como no exemplo da troca gasosa de nossa atmosfera, e de
repelir, de alguma forma, as agressões percebidas como ameaça ao
equilíbrio ambiental, direcionando a defesa com o objetivo de
proteção global da vida e não à proteção dessa ou daquela
espécie viva. Num exemplo radical, Gaia poderia causar uma era
glacial que eliminasse todas as formas superiores de vida, com
permanência somente de pequenas criaturas, o que seria suficiente
para iniciar um novo ciclo evolutivo.
As
agressões podem ser de qualquer tipo, podendo provir de um
determinado ser vivo, como o ser humano, ou tratar-se de um fenômeno
do próprio planeta, como a erupção de um vulcão, por exemplo.
Contudo, independentemente da origem da agressão, sempre que
detectada como ameaça ao sistema natural, Gaia adotaria as
providências necessárias para corrigir o problema, ainda que disso
possa resultar a extinção de uma ou outra espécie.
Contudo,
Lovelock, em seu livro "A Vingança de Gaia", chega a uma
conclusão trágica para todos nós ao afirmar que o nível de
desequilíbrio natural atual é de tal magnitude que já ultrapassou
o ponto de não-retorno. O cientista crê que não há mais
escapatória. Poderíamos no máximo agir de forma a adiar um pouco a
inevitável extinção em massa da humanidade que ocorrerá e
eliminará, segundo ele, cerca de 80% da população humana ainda
nesse século XXI.
Lovelock
afirma, porém, que a poluição não é o maior vilão dessa
história. A pior agressão natural é o desmatamento provocado em
função da necessidade humana de ampliação dos terrenos destinados
à agricultura e às pastagens, o que estaria provocando um
super-aquecimento global.
Projetando
um número ideal de seres humanos habitando a Terra, considerando a
necessidade de alimentar todos e de fabricação de objetos de
consumo, Lovelock estima que a população humana que Gaia poderia
sustentar confortavelmente seria da ordem de um bilhão de seres
humanos.
Há
muito ultrapassamos a casa dos seis bilhões e há gente séria que
prevê que chegaremos a doze ou treze bilhões de pessoas até o
ponto de inflexão, no final desse século, quando passaria a
população passaria a regredir, estabilizando-se em cerca de nove
bilhões.
Se
as projeções de James Lovelock estiverem corretas, isso não
ocorrerá. Gaia não permitirá.
O
mundo precisa urgentemente refletir sobra a questão do
decrescimento, seja populacional, seja econômico.
Não
por mera ideologia ambiental, mas como tábua de salvação, para
escapar da forca ecológica na qual estivemos enfiando alegremente os
nossos pescoços.
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