quinta-feira, 3 de maio de 2012

James Lovelock e a hipótese de Gaia


A atmosfera primitiva de nosso planeta era muito diferente da atual.
No início, tratava-se de uma massa gasosa formada por diversos gases, como vapor de água, metano, amoníaco e hidrogênio, monóxido de carbono, dióxido de carbono e azoto.
Não havia oxigênio, de modo que, se uma máquina do tempo nos transportasse até aquele tempo, morreríamos em minutos ao respirar aquele ar super-tóxico.
Isso, contudo, não impediu que a vida se impusesse. Dentre as diversas espécies de microvidas que então surgiram, capazes de respirar naquela nuvem venenosa, houve uma que aspirava os gases tóxicos e expirava oxigênio. E, para nossa sorte, esse micro-organismo foi bem sucedido na batalha da sobrevivência e prevaleceu, continuando a excretar oxigênio durante milhões e milhões de anos. A minúscula criatura tanto pôs oxigênio para fora que encheu a atmosfera terrestre desse gás tão precioso para nós.
Essas pequenas criaturas mudaram por completo a composição de nossa atmosfera, que passou a possuir uma imensa parcela de oxigênio. Não demorou, surgiram seres que se aproveitaram do excesso de oxigênio e passaram a respirar esse gás. Dentre eles, nós.
Esse talvez seja o maior exemplo e ao mesmo tempo prova cabal da interação que há entre os seres vivos e os não-vivos que habitam o nosso planetinha azul. Uma interação através da qual a vida produz o milagre de criar as condições ambientais de permanência dela própria.
Tal interação é o fundamento da Hipótese de Gaia, proposta pelo cientista James Lovelock, um renomado cientista ambiental, membro da Royal Society, do Reino Unido.
Na verdade já alçada à condição de teoria por diversos cientistas, a Hipótese de Gaia propõe que o planeta Terra se comporta como um todo orgânico vivo, organismo esse do qual os demais seres vivos, inclusive nós, fariam parte, não como indivíduos propriamente ditos, mas como elementos orgânicos do todo, como, por exemplo, nossas células em relação a nós mesmos.
Gaia, como organismo, seria capaz de reagir a toda e qualquer atividade dos seres vivos, como no exemplo da troca gasosa de nossa atmosfera, e de repelir, de alguma forma, as agressões percebidas como ameaça ao equilíbrio ambiental, direcionando a defesa com o objetivo de proteção global da vida e não à proteção dessa ou daquela espécie viva. Num exemplo radical, Gaia poderia causar uma era glacial que eliminasse todas as formas superiores de vida, com permanência somente de pequenas criaturas, o que seria suficiente para iniciar um novo ciclo evolutivo.
As agressões podem ser de qualquer tipo, podendo provir de um determinado ser vivo, como o ser humano, ou tratar-se de um fenômeno do próprio planeta, como a erupção de um vulcão, por exemplo. Contudo, independentemente da origem da agressão, sempre que detectada como ameaça ao sistema natural, Gaia adotaria as providências necessárias para corrigir o problema, ainda que disso possa resultar a extinção de uma ou outra espécie.
Contudo, Lovelock, em seu livro "A Vingança de Gaia", chega a uma conclusão trágica para todos nós ao afirmar que o nível de desequilíbrio natural atual é de tal magnitude que já ultrapassou o ponto de não-retorno. O cientista crê que não há mais escapatória. Poderíamos no máximo agir de forma a adiar um pouco a inevitável extinção em massa da humanidade que ocorrerá e eliminará, segundo ele, cerca de 80% da população humana ainda nesse século XXI.
Lovelock afirma, porém, que a poluição não é o maior vilão dessa história. A pior agressão natural é o desmatamento provocado em função da necessidade humana de ampliação dos terrenos destinados à agricultura e às pastagens, o que estaria provocando um super-aquecimento global.
Projetando um número ideal de seres humanos habitando a Terra, considerando a necessidade de alimentar todos e de fabricação de objetos de consumo, Lovelock estima que a população humana que Gaia poderia sustentar confortavelmente seria da ordem de um bilhão de seres humanos.
Há muito ultrapassamos a casa dos seis bilhões e há gente séria que prevê que chegaremos a doze ou treze bilhões de pessoas até o ponto de inflexão, no final desse século, quando passaria a população passaria a regredir, estabilizando-se em cerca de nove bilhões.
Se as projeções de James Lovelock estiverem corretas, isso não ocorrerá. Gaia não permitirá.
O mundo precisa urgentemente refletir sobra a questão do decrescimento, seja populacional, seja econômico.
Não por mera ideologia ambiental, mas como tábua de salvação, para escapar da forca ecológica na qual estivemos enfiando alegremente os nossos pescoços.

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