Costumamos
pensar que o amor significa muito. E é verdade, significa mesmo.
A
consulta a um dicionário revela que a palavra amor significa muito
mais do que se imagina. São mais de trinta significados diferentes
para um mesmo sentimento. E deve-se admitir que nenhum deles pode
estar correto. Afinal, amar, por ser infinito sentimento de
bem-querer, não pode estar preso a um signo de simbologia limitada;
é necessariamente difuso, universal.
Amar
é livre expressão de sentimento. Amar não é prender-se a um
determinado conceito; é libertar-se de qualquer amarra. É por isso
que afirmamos amar o ser que desejamos sexualmente, mas não
desejamos sexualmente o filho que amamos. É porque amor não é
sexo, embora o sexo possa estar no amor.
As
pessoas adoram todos os deuses que cultuam. Embora a adoração
eventualmente possa ser considerada uma forma de amor extremado, esse
amor não é semelhante ao que nutrimos pela pessoa desejada ou pelo
filho também adorado.
Porém,
todos são exemplos desse mesmo sentimento; tudo é amor.
E
o amor não é sempre algo etéreo, imaterial, cuja existência não
se possa visualmente testemunhar. Não! O amor pode se tornar
palpável, visível; tanto que, por vezes, para ser plenamente
exercido, necessita ser escondido de olhos alheios. Pois ele pode
também, além do sentimento, ser encarnado em ato; é o amor em
movimento. E continua sendo amor passado mesmo que, depois do ato
consumado, cigarro na boca, o amor se esvaneça na fumaça soprada e
somente exista numa lembrança apertada.
Para
Descartes, filósofo da razão que falou sobre as diversas paixões,
existe o amor de benevolência, que pretende apenas o bem de quem se
ama, e o amor de concupiscência, este que deseja para si o objeto
amado.
Mas,
cuidado! Sartre, outro filósofo, dizia que a liberdade provoca a
angústia no ser humano e essa angústia o faz refugiar-se na má-fé.
Entendia ele por má-fé a recusa da própria liberdade e a busca
pelos valores exteriores, sociais. A pessoa séria é, assim, aquela
conformista, que vive respeitavelmente, aceitando como seus os
valores impostos pela tradição social. Para Sartre, a pessoa séria,
conformista, age de má-fé.
Existem
os que dizem amar mas, na verdade, unem-se ao outro, não para amar,
mas para serem amados.
Há
ainda os que confundem amor com segurança. Sentem-se seguros com a
pessoa que supõe amar, embora experimentem um certo desconforto,
íntimo e profundo, que não conseguem ao certo relatar. Não
enxergam que não existe amor seguro. Pois se algo é certo em
relação ao amor é que ele não possui cláusulas que o regulem,
nem rede que nos proteja de quedas.
Amar
é entregar-se livremente ao sentimento, sem planejamento de futuro.
Sem medo da solidão, sem medo de ser infeliz.
O
verdadeiro amor, portanto, é incompatível com as pessoas sérias.
Pois amar é sentimento de leveza.
Combina
com o riso, não com tristeza.
Publicado
originalmente em 24/11/2006, revisado em 30/11/2010
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