terça-feira, 30 de novembro de 2010

Amor: derivação por extensão de sentido


Costumamos pensar que o amor significa muito. E é verdade, significa mesmo.
A consulta a um dicionário revela que a palavra amor significa muito mais do que se imagina. São mais de trinta significados diferentes para um mesmo sentimento. E deve-se admitir que nenhum deles pode estar correto. Afinal, amar, por ser infinito sentimento de bem-querer, não pode estar preso a um signo de simbologia limitada; é necessariamente difuso, universal.
Amar é livre expressão de sentimento. Amar não é prender-se a um determinado conceito; é libertar-se de qualquer amarra. É por isso que afirmamos amar o ser que desejamos sexualmente, mas não desejamos sexualmente o filho que amamos. É porque amor não é sexo, embora o sexo possa estar no amor.
As pessoas adoram todos os deuses que cultuam. Embora a adoração eventualmente possa ser considerada uma forma de amor extremado, esse amor não é semelhante ao que nutrimos pela pessoa desejada ou pelo filho também adorado.
Porém, todos são exemplos desse mesmo sentimento; tudo é amor.
E o amor não é sempre algo etéreo, imaterial, cuja existência não se possa visualmente testemunhar. Não! O amor pode se tornar palpável, visível; tanto que, por vezes, para ser plenamente exercido, necessita ser escondido de olhos alheios. Pois ele pode também, além do sentimento, ser encarnado em ato; é o amor em movimento. E continua sendo amor passado mesmo que, depois do ato consumado, cigarro na boca, o amor se esvaneça na fumaça soprada e somente exista numa lembrança apertada.
Para Descartes, filósofo da razão que falou sobre as diversas paixões, existe o amor de benevolência, que pretende apenas o bem de quem se ama, e o amor de concupiscência, este que deseja para si o objeto amado.
Mas, cuidado! Sartre, outro filósofo, dizia que a liberdade provoca a angústia no ser humano e essa angústia o faz refugiar-se na má-fé. Entendia ele por má-fé a recusa da própria liberdade e a busca pelos valores exteriores, sociais. A pessoa séria é, assim, aquela conformista, que vive respeitavelmente, aceitando como seus os valores impostos pela tradição social. Para Sartre, a pessoa séria, conformista, age de má-fé.
Existem os que dizem amar mas, na verdade, unem-se ao outro, não para amar, mas para serem amados.
Há ainda os que confundem amor com segurança. Sentem-se seguros com a pessoa que supõe amar, embora experimentem um certo desconforto, íntimo e profundo, que não conseguem ao certo relatar. Não enxergam que não existe amor seguro. Pois se algo é certo em relação ao amor é que ele não possui cláusulas que o regulem, nem rede que nos proteja de quedas.
Amar é entregar-se livremente ao sentimento, sem planejamento de futuro. Sem medo da solidão, sem medo de ser infeliz.
O verdadeiro amor, portanto, é incompatível com as pessoas sérias. Pois amar é sentimento de leveza.
Combina com o riso, não com tristeza.


Publicado originalmente em 24/11/2006, revisado em 30/11/2010

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