quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O dia do não



                          publicado no WhatsApp em 29/09/2018, por Marcio Valley

Hoje, sábado, 29 de setembro de 2018, é um dia histórico para o Brasil.
Talvez pela primeira vez na história nacional, uma eleição é caracterizada pelo engajamento suprapartidário contra apenas uma das diversas candidaturas.
Centenas de milhares de cidadãos do mundo, em grande parte brasileiros, saíram às ruas para dizer “não!”, em várias dezenas de cidades no país e espalhadas pelo mundo.
Apesar da enorme adesão e das imagens de milhares de pessoas nas ruas do Brasil e do mundo, a repercussão pela imprensa majoritária nacional foi tímida, para dizer o mínimo.
Possivelmente, temem apresentar ao povo o poder que o povo tem. Em tempos de redes sociais, o comportamento é ridículo.
Porém, somente na aparência foi um não a um determinado candidato a presidência da república. Esse não é mais profundo, com maior densidade de significados.

O candidato alvo desse não massificado apenas personificou o objeto oculto da ojeriza coletiva. Ele, como individualidade, não era importante há dois anos e, caso o maravilhoso movimento das mulheres do mundo seja bem sucedido, como se espera seja, voltará à mesma insignificância logo após o período eleitoral.
Hoje, as pessoas não foram às ruas rejeitar uma pessoa, mas algumas ideias que pareciam já ter sido ultrapassadas pela inteligência humana.
Hoje, as pessoas disseram não à homofobia. Não ao racismo. Não à misoginia. Não à prevalência dos interesses financeiros sobre as necessidades mais básicas das pessoas.
Há, entretanto, um não mais contundente que foi gritado hoje pelas multidões: um sonoro não à tentativa de resolver discordâncias sociais pelo uso da violência com abuso do direito.
A violência já foi testada e reprovada em diversas experiências históricas. As grandes guerras, o nazismo, o fascismo, os comunismos soviético e chinês, a luta pelo sufrágio feminino, pelos direitos civis dos negros e outros. Em todos esses momentos o Estado lançou mão da violência como solução miraculosa de supostos graves problemas. Em todos eles, a violência não somente nada solucionou como, pelo contrário, causou danos ainda maiores.
O “não” dito hoje pela população em alto e bom som representa também, a contrario sensu, um estrondoso “sim”. Sim ao respeito pelos princípios democráticos que orientam a nossa Constituição e que vêm sendo violentados pelas instituições públicas e privadas.
Sim ao direito dos eleitores de verem atendidas as políticas públicas que escolheram no voto.
E, principalmente, sim ao espírito de humanidade e altruísmo social que deve pautar as ações individuais com repercussões públicas.
O povo, hoje, principalmente as mulheres, disseram um rimbombante “não” ao egoísmo.

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