quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Vale a pena acreditar


                                publicado no WhatsApp em 27/09/2018, por Marcio Valley


Vale a pena acreditar no ideal de justiça, mesmo quando impossível crer na lei produzida e interpretada para o deleite dos poderosos, pois é ele que torna coletivas, contra abusos de poder, as vontades individuais.
Vale a pena acreditar no espírito da humanidade, ainda que se discorde do caráter dos seres humanos que a comandam, uma vez que ele é o criador do altruísmo que agrega e do amor que constrói.
Vale a pena acreditar na inteligência, soterrada intencionalmente que esteja pela indigência intelectual generalizada, posto que, sem ela, a vida não seria contemplativa, senão mera sobrevivência.
Vale a pena acreditar na dignidade do próximo, inclusive para aqueles que o sistema decide arbitrariamente que são criminosos ou empurra em direção ao que tipifica como delito; do contrário, cada um seria digno apenas para si mesmo, perdendo sentido a existência social.

Vale a pena acreditar que as diferenças entre os humanos produz valiosa riqueza cultural, pois o contrário disso, no extremo, seria admitir que melhor é a uniformidade dos insetos.
Vale a pena acreditar na utopia civilizatória, vivenciando, diuturnamente que seja, a barbárie social caracterizada pela desigualdade extrema de riqueza e de cultura, pois, se há um sentido de bem e de bondade, ele não admite seres humanos que buscam seu alimento nas lixeiras dos abastados.
Vale a pena acreditar na racionalidade, ainda que sofrendo o caos diário engendrado pela irracionalidade humana, uma vez que é a razão, temperada pela emoção, que nos qualifica como seres pensantes.
Vale a pena acreditar na bondade, mesmo sendo testemunha do que é capaz a maldade de poucos, posto que, se de um lado é o bem que irradia amor e amizade entre as pessoas, do outro não se verifica exemplo de ação má que tenha engendrado algo bom.
Vale a pena acreditar que o império do mal decorre, não do árduo trabalho da maldade de poucos, mas em vista da fácil omissão dos muitos que são bondosos, sendo certo que um somente domina milhares quando, dentre estes milhares, existem uns poucos que se identificam com o mal e muitos temerosos ou ingênuos.
Vale a pena acreditar no direito de escolher, alijados que sejamos da produção do cardápio das opções, uma vez que não escolher de jeito nenhum é como estar morto em vida.
Vale a pena acreditar numa rarefeita democracia, mais do que optar por uma sólida ditadura, uma vez que escolher não escolher é, ao mesmo tempo, paradoxo, contrassenso e egoísmo.
Vale a pena acreditar na política, único contraponto civilizado ao sangue do sectarismo cego que adviria do confronto entre facções de pensamento distinto sempre que uma escolha difícil precisasse ser feita.
Vale a pena acreditar que, de conquista em conquista, construiremos um mundo melhor, pois pensar diferente disso é crer que estamos nos precipitando no inferno.
Vale a pena acreditar em acreditar, pois, se creio, existo e existo melhor.

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