Após
a disseminação das redes sociais, o senso ético das pessoas parece
ter se dissolvido. De modo geral, comportam-se na internet como
jamais se comportariam pessoalmente ou mesmo através de mensagens
escritas ao modo antigo, enviadas pelos correios com a assinatura do
emissor.
Sem
os freios éticos, não hesitam em expor preconceitos ou ódios, não
somente escrevendo, mas, principalmente, compartilhando mensagens que
carregam esses vícios. Algumas, depois, justificam-se na ignorância prévia sobre o teor da mensagem compartilhada.
Contudo,
existem coisas que são compartilhadas em relação às quais uma
singela clicada no Google revelaria ser mentiras, algumas deslavadas,
sendo exemplos a suposta fazenda adquirida pelo filho do Lula, a
Dilma ter criado o bolsa crack ou ter dito que professores da rede
pública insatisfeitos devem pedir demissão e ir para a rede
privada. Essas e diversas outras "notícias" circulam pelas
redes sociais e, embora não mereçam qualquer credibilidade,
espalham-se como rastilho de pólvora exclusivamente porque, certas
pessoas, talvez preguiçosas, outras ingênuas, algumas ignorante,
muitas por pura e simples má-fé ou tudo isso junto, não cumprem o
seu papel ético de não divulgar ou reproduzir mentiras e fofocas.
Assim agindo, são cúmplices da mentira.
Além
disso, ao disseminar mentiras, permitem-se ser utilizadas como massa
de manobra pela grande mídia e pelos poderosos na divulgação de
uma realidade inexistente, ocultando os reais problemas sociais que
deveriam ser discutidos e compartilhados pela população. O perfil
de quem age assim pode ser definido pela carência de visão crítica
que permite a produção de uma análise racional da realidade
considerada em seu conjunto. São pessoas que analisam os fatos por
unidades de informação, isoladas do conjunto e sem pausa para
investigação e reflexão mínima sobre o dado recebido. Revelam-se
incapazes de perceber que se posicionam contra um governo que, possui
defeitos certamente, porém vem demonstrando estar utilizando como
pode as armas políticas cujo manejo o sistema permite, como meio de
realizar algo de bom em prol da questão social, dos mais pobres.
Afinal,
que outro partido imaginam que poderia estar governando de forma
melhor esse país? O PSDB, o PMDB, o DEM? Será que, honestamente,
acreditam que esses partidos, com o passado registrado que possuem,
são mais puros, mais honestos e mais imunes à possibilidade de
corrupção do que o PT? Será que esses partidos teriam apetite para
realizar projetos direcionados à parcela mais pobre do povo? Aliás,
será que essas pessoas que odeiam o PT estão preocupadas com os mais pobres? Alguns
talvez prefiram a ascensão ao governo de um dos pequenos partidos
ideológicos, como a REDE, o PSTU, o PV ou o PSOL. Não percebem,
porém, que, se eleitos, qualquer um deles será engolido pelo
sistema?
Nesse
momento, o mundo inteiro, em maior ou menor dimensão, sofre os
efeitos do chamado grau zero na política, que vem a ser,
resumidamente, a impossibilidade prática de políticos exercerem
influência efetiva na política real do país. Isso ocorre porque o
comando político real, efetivo, encontra-se nas mãos das corporações, do interesse financeiro dos conglomerados.
A
dominação política pelos que detêm o poder econômico perverte
todo o sistema, que se torna, dentre outras coisas, concentrador de
renda. É isso que, de fato, de alguma forma, precisa ser mudado. A
política deve voltar a ser um instrumento nobre de solução de
conflitos sociais, de direcionamento das demandas públicas,
desvinculando-se do papel servil de mera ferramenta dos interesses do
dinheiro e do lucro.
O real problema do país, o que está errado no Brasil, esse "tudo o
que está aí e que somos contra", não pode ser embrulhado num
pacote único sob o singelo nome de PT ou de qualquer outro partido
político.
Como
perceberam os jovens manifestantes que foram às ruas em junho de
2013, todo o sistema financeiro e político do país necessita de
modificações. Esse é o único caminho. De outro modo, as mazelas
que hoje são atribuídas ao PT, serão amanhã repetidas ou até ampliadas por qualquer outro partido que assuma o poder.
Essa
é a realidade. Ingenuidade é admirável em crianças, não em
adultos.
Difícil
compreender por que motivo as redes sociais são utilizadas para
disseminação de mentiras, se é perfeitamente possível divulgar
defeitos verdadeiros desse mesmo governo que, por si, são
suficientes para causar indignação.
Por
que não direcionar essa enorme energia para exigir uma reforma
política ampla, com prévia submissão e discussão pela população?
A
birra direcionada apenas contra o PT revela-se um comportamento
infantil de pessoas adultas que não conseguem enxergar um pouco mais
longe do que os escândalos estampados, e muitas vezes fabricados,
nas manchetes. Em política, não existe esse maniqueísmo
vislumbrado entre partido absolutamente bom e partido completamente
ruim. Todos possuem, em gradações variadas, os mesmos problemas e
defeitos que são relacionados ao PT. Em alguns esses vícios são
ainda mais ampliados.
Desolador
ver o povo, como gado, indo pro matadouro por vontade própria, sem
ser fustigado a ir nessa direção e, ainda pior, aparentemente
gostando disso.
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