domingo, 23 de junho de 2013

Mentiras na rede


Após a disseminação das redes sociais, o senso ético das pessoas parece ter se dissolvido. De modo geral, comportam-se na internet como jamais se comportariam pessoalmente ou mesmo através de mensagens escritas ao modo antigo, enviadas pelos correios com a assinatura do emissor.
Sem os freios éticos, não hesitam em expor preconceitos ou ódios, não somente escrevendo, mas, principalmente, compartilhando mensagens que carregam esses vícios. Algumas, depois, justificam-se na ignorância prévia sobre o teor da mensagem compartilhada.
Contudo, existem coisas que são compartilhadas em relação às quais uma singela clicada no Google revelaria ser mentiras, algumas deslavadas, sendo exemplos a suposta fazenda adquirida pelo filho do Lula, a Dilma ter criado o bolsa crack ou ter dito que professores da rede pública insatisfeitos devem pedir demissão e ir para a rede privada. Essas e diversas outras "notícias" circulam pelas redes sociais e, embora não mereçam qualquer credibilidade, espalham-se como rastilho de pólvora exclusivamente porque, certas pessoas, talvez preguiçosas, outras ingênuas, algumas ignorante, muitas por pura e simples má-fé ou tudo isso junto, não cumprem o seu papel ético de não divulgar ou reproduzir mentiras e fofocas. Assim agindo, são cúmplices da mentira.

Além disso, ao disseminar mentiras, permitem-se ser utilizadas como massa de manobra pela grande mídia e pelos poderosos na divulgação de uma realidade inexistente, ocultando os reais problemas sociais que deveriam ser discutidos e compartilhados pela população. O perfil de quem age assim pode ser definido pela carência de visão crítica que permite a produção de uma análise racional da realidade considerada em seu conjunto. São pessoas que analisam os fatos por unidades de informação, isoladas do conjunto e sem pausa para investigação e reflexão mínima sobre o dado recebido. Revelam-se incapazes de perceber que se posicionam contra um governo que, possui defeitos certamente, porém vem demonstrando estar utilizando como pode as armas políticas cujo manejo o sistema permite, como meio de realizar algo de bom em prol da questão social, dos mais pobres.
Afinal, que outro partido imaginam que poderia estar governando de forma melhor esse país? O PSDB, o PMDB, o DEM? Será que, honestamente, acreditam que esses partidos, com o passado registrado que possuem, são mais puros, mais honestos e mais imunes à possibilidade de corrupção do que o PT? Será que esses partidos teriam apetite para realizar projetos direcionados à parcela mais pobre do povo? Aliás, será que essas pessoas que odeiam o PT estão preocupadas com os mais pobres? Alguns talvez prefiram a ascensão ao governo de um dos pequenos partidos ideológicos, como a REDE, o PSTU, o PV ou o PSOL. Não percebem, porém, que, se eleitos, qualquer um deles será engolido pelo sistema?
Nesse momento, o mundo inteiro, em maior ou menor dimensão, sofre os efeitos do chamado grau zero na política, que vem a ser, resumidamente, a impossibilidade prática de políticos exercerem influência efetiva na política real do país. Isso ocorre porque o comando político real, efetivo, encontra-se nas mãos das corporações, do interesse financeiro dos conglomerados.
A dominação política pelos que detêm o poder econômico perverte todo o sistema, que se torna, dentre outras coisas, concentrador de renda. É isso que, de fato, de alguma forma, precisa ser mudado. A política deve voltar a ser um instrumento nobre de solução de conflitos sociais, de direcionamento das demandas públicas, desvinculando-se do papel servil de mera ferramenta dos interesses do dinheiro e do lucro.
O real problema do país, o que está errado no Brasil, esse "tudo o que está aí e que somos contra", não pode ser embrulhado num pacote único sob o singelo nome de PT ou de qualquer outro partido político.
Como perceberam os jovens manifestantes que foram às ruas em junho de 2013, todo o sistema financeiro e político do país necessita de modificações. Esse é o único caminho. De outro modo, as mazelas que hoje são atribuídas ao PT, serão amanhã repetidas ou até ampliadas por qualquer outro partido que assuma o poder.
Essa é a realidade. Ingenuidade é admirável em crianças, não em adultos.
Difícil compreender por que motivo as redes sociais são utilizadas para disseminação de mentiras, se é perfeitamente possível divulgar defeitos verdadeiros desse mesmo governo que, por si, são suficientes para causar indignação.
Por que não direcionar essa enorme energia para exigir uma reforma política ampla, com prévia submissão e discussão pela população?
A birra direcionada apenas contra o PT revela-se um comportamento infantil de pessoas adultas que não conseguem enxergar um pouco mais longe do que os escândalos estampados, e muitas vezes fabricados, nas manchetes. Em política, não existe esse maniqueísmo vislumbrado entre partido absolutamente bom e partido completamente ruim. Todos possuem, em gradações variadas, os mesmos problemas e defeitos que são relacionados ao PT. Em alguns esses vícios são ainda mais ampliados.
Desolador ver o povo, como gado, indo pro matadouro por vontade própria, sem ser fustigado a ir nessa direção e, ainda pior, aparentemente gostando disso.

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