segunda-feira, 17 de junho de 2013

Orgulho da rapaziada



A juventude brasileira está nas ruas, de forma majoritariamente pacífica, exigindo os seus direitos de cidadania. Um orgulho nacional.
A imprensa, perplexa, não entende o que está ocorrendo, pois até ontem o Brasil vivia o seu notório mar de passividade, e assume que há um sentimento difuso de insatisfação, que deve advir da indignação ante a corrupção política, a impunidade, a falta de serviços públicos minimamente eficientes embora os tributos sejam de primeiro mundo.

Tudo isso existe, é fato. Mas há também duas coisas que foram fundamentais para a dimensão que tudo tomou.
Em primeiro lugar, a extrema violência da polícia de Geraldo Alckmin, que barbaramente violentou manifestantes que somente exerciam o seu direito de protestar.
Para as pessoas um pouco mais antigas que nossos jovens manifestantes, a polícia de Alckmin fez lembrar a polícia dos tempos da ditadura, silenciando a população a base de cassetete e bala de verdade. Por conta disso, a segunda onda de protestos, que invadiu o país, se deu em apoio aos primeiros manifestantes e decorre da defesa do direito inalienável do povo de manifestar-se na via pública. Hoje, a principal ágora política brasileira está na Avenida Paulista. Cabe agradecer ao governador Alckmin por essa imensa contribuição à democracia, ainda que pela via inversa.
Em segundo lugar, a percepção disforme da realidade repassada durante os últimos dez anos pela grande imprensa possui grande parte da responsabilidade por esse "sentimento difuso de insatisfação".
O Brasil está longe do ideal de bem-estar da população. Muito longe. Porém, é inegável que houve avanços sociais significativos nos últimos anos, com o surgimento de pobres onde antes estavam os miseráveis e com a ascensão de uma nova classe de trabalhadores munida de maior poder aquisitivo. O desemprego caiu a níveis jamais registrados. Todavia, a imprensa criou um ambiente político raivoso no país, sonegando ao povo qualquer sensação de positividade sobre o país.
A coisa é sutil. Não se nega a informação positiva. Ela é apenas manipulada. Se há um avanço em algum índice educacional, não se fala em melhoria, mas que o índice é o pior dos países do Brics. Se ocorre alguma melhoria no percentual de desemprego, noticia-se que o desemprego é o pior num ranking de determinados países. Se o bolsa-família comprovadamente contribuiu diretamente para um incremento na renda das famílias, ou seja, melhorou suas vidas, e também indiretamente o mercado local das famílias beneficiadas, ante a melhoria da capacidade de aquisição, publica-se que essa ou aquela família que não precisa está se beneficiando de recursos públicos.
Enfim, a partir da entrada do PT no governo federal, já são dez anos de exclusividade nas manchetes ruins. Essa é, sem dúvida, a causa desse sentimento difuso de insatisfação.
Claro, não é papel da imprensa bajular governos, mas tampouco o é o de criar uma realidade virtual, onde, maravilha das alquimias, transforma-se até ouro em merda.
O veneno, entretanto, parece ter se virado contra a víbora peçonhenta. O povo foi pras ruas e, de cara, botou os jornalistas da Globo pra correr.
Esse movimento notável vai mudar, ao menos um pouco, a sanha dos grandes senhores desse país, que são os bilionários, e de seus representantes muito bem pagos, os políticos.
Eles terão que pensar um pouco mais nessa porção do país que eles desprezaram por tanto tempo: o povo.

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