A juventude brasileira está nas ruas, de forma
majoritariamente pacífica, exigindo os seus direitos de cidadania. Um orgulho nacional.
A
imprensa, perplexa, não entende o que está ocorrendo, pois até
ontem o Brasil vivia o seu notório mar de passividade, e assume que
há um sentimento difuso de insatisfação, que deve advir da
indignação ante a corrupção política, a impunidade, a falta de
serviços públicos minimamente eficientes embora os tributos sejam
de primeiro mundo.
Tudo
isso existe, é fato. Mas há também duas coisas que foram fundamentais para a dimensão que tudo tomou.
Em
primeiro lugar, a extrema violência da polícia de Geraldo Alckmin,
que barbaramente violentou manifestantes que somente exerciam o seu
direito de protestar.
Para as pessoas um pouco mais antigas que nossos jovens manifestantes, a polícia
de Alckmin fez lembrar a polícia dos tempos da ditadura, silenciando a
população a base de cassetete e bala de verdade. Por conta disso, a
segunda onda de protestos, que invadiu o país, se deu em apoio aos
primeiros manifestantes e decorre da defesa do direito inalienável
do povo de manifestar-se na via pública. Hoje, a principal ágora
política brasileira está na Avenida Paulista. Cabe agradecer ao governador Alckmin por essa imensa contribuição à democracia, ainda que pela via
inversa.
Em
segundo lugar, a percepção disforme da realidade repassada durante
os últimos dez anos pela grande imprensa possui grande parte da
responsabilidade por esse "sentimento difuso de insatisfação".
O
Brasil está longe do ideal de bem-estar da população. Muito longe.
Porém, é inegável que houve avanços sociais significativos nos
últimos anos, com o surgimento de pobres onde antes estavam os
miseráveis e com a ascensão de uma nova classe de trabalhadores munida de maior poder aquisitivo. O desemprego
caiu a níveis jamais registrados. Todavia, a imprensa criou um
ambiente político raivoso no país, sonegando ao povo qualquer
sensação de positividade sobre o país.
A
coisa é sutil. Não se nega a informação positiva. Ela é apenas
manipulada. Se há um avanço em algum índice educacional, não se
fala em melhoria, mas que o índice é o pior dos países do Brics.
Se ocorre alguma melhoria no percentual de desemprego, noticia-se que
o desemprego é o pior num ranking de determinados países. Se o
bolsa-família comprovadamente contribuiu diretamente para um
incremento na renda das famílias, ou seja, melhorou suas vidas, e
também indiretamente o mercado local das famílias beneficiadas,
ante a melhoria da capacidade de aquisição, publica-se que essa ou
aquela família que não precisa está se beneficiando de recursos
públicos.
Enfim,
a partir da entrada do PT no governo federal, já são dez anos de
exclusividade nas manchetes ruins. Essa é, sem dúvida, a causa
desse sentimento difuso de insatisfação.
Claro,
não é papel da imprensa bajular governos, mas tampouco o é o de
criar uma realidade virtual, onde, maravilha das alquimias,
transforma-se até ouro em merda.
O veneno, entretanto, parece ter se virado contra a víbora
peçonhenta. O povo foi pras ruas e, de cara, botou os
jornalistas da Globo pra correr.
Esse
movimento notável vai mudar, ao menos um pouco, a sanha dos grandes
senhores desse país, que são os bilionários, e de seus
representantes muito bem pagos, os políticos.
Eles
terão que pensar um pouco mais nessa porção do país que eles
desprezaram por tanto tempo: o povo.
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