Sentia
no ar eleitoral um odor desagradável que vinha incomodando
fortemente, mas cuja origem até agora me escapava. Sei que são
comuns os golpes eleitorais midiáticos.
Situações
de escândalos historicamente vêm sendo reiteradamente criadas pela
imprensa às vésperas das eleições. Até já nos acostumamos a
aguardar a chamada "bala de prata" da imprensa, aquela
capaz de matar o lobisomem petista na boca da urna. "O que será
que a Veja vai publicar no dia anterior à eleição?",
pergunta-se a sociedade antes de toda eleição.
Não
fosse trágica essa atuação da imprensa, a situação seria
ridícula, vergonhosa. Obtiveram sucesso em algumas eleições,
perderam em outras.
Nas
eleições de 1989, para beneficiar Fernando Collor de Mello, o
candidato do PRG (Partido da Rede Globo), inventaram a participação
do PT no sequestro do empresário Abílio Diniz, participação essa
desmentida imediatamente após eleições como demonstração de
existência de uma imprensa livre e isenta, que desmente as notícias
falsas... sempre que o prejuízo causado já atendeu aos seus
interesses. Ainda em 1989, a Globo confessadamente manipulou as
imagens do debate travado entre Lula e Collor para dar a aparência
de vitória collorida.
Em
2002, ante a perspectiva de vitória de Lula e com a crise econômica
nos calcanhares do Brasil, dissemina-se violentamente a ideia de que
a subida do PT ao governo pioraria o quadro econômico, fazendo-se,
ainda, conexões disparatas de ligações petistas com as FARC, com o
marxismo radical. Aliás, é nesse momento que nasce a Veja de
ultra-direita fundamentalista.
Em
2006, criou-se a "crise do mensalão", que arrefeceu logo
após as eleições. Alckmin, candidato tucano, tentou ao máximo
aproveitar-se da onda de escândalos, praticamente chamando Lula de
corrupto e ladrão nos debates. A sensatez do povo, todavia,
prevaleceu.
Em
2010, tivemos a apresentação midiática escandalosa de um escroque
de Campinas, criminoso pobretão de cuja biografia, então, já
constavam duas condenações criminais, uma por interceptação de
carga roubada e outra por posse de moeda falsificada. Ele, que havia
saído dois anos antes da prisão, foi apresentado pela imprensa como
representante de um empreendimento privado no valor de nove bilhões
de reais (à época). Tal criminoso condenado duplamente denunciou um
suposto esquema de corrupção no governo, apresentando, como prova,
e-mails nos quais ele efetuava requerimentos à Casa Civil. Apesar da
absoluta leviandade da acusação, as manchetes produziram os
estragos habituais, inclusive a exoneração da então
secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra. Como sempre, as
denúncias não foram comprovadas. Após o período eleitoral as
manchetes sobre o assunto simplesmente secaram e, no ano seguinte, o
"empresário" se retratou de todas as acusações. Ainda em
2010, passou à história do jornalismo brasileiro as ridículas
manchetes assustadas acerca da "bolinha de papel", fato
apresentado, e obviamente sustentado pelos tucanos, como um atentado
à integridade física do candidato do PSDB, José Serra.
Em
2012, o tema do mensalão foi ressuscitado, pois, por "pura
coincidência", o Supremo Tribunal Federal programou o
julgamento para ocorrer simultaneamente ao período eleitoral, e de
forma televisionada para todo o Brasil, fazendo a festa da imprensa e
atendendo aos interesses tucanos.
Agora,
nessa eleição de 2014, a situação eleitoral aparentava,
estranhamente, ser diferente das anteriores, a começar pela ausência
da bala de prata antes do primeiro turno. Porém, tentou-se criar
esse clima, no segundo turno, com o escândalo da Petrobras,
repetindo a imprensa a velha e gasta tática de basear suas manchetes
em declarações não confirmadas partidas de criminosos confessos.
É
importante destacar que novamente o poder judiciário se presta a
participar de manipulações eleitoreiras, ajustando seu calendário
de inquirições à agenda eleitoral, além de indicar aos depoentes
o que dizer ou não em seus depoimentos, como forma de não perder o
comando do processo criminal, pois caso algum deles mencionasse o
nome de uma autoridade federal com foro privilegiado, e eles iriam
mencionar, o processo deveria ser remetido ao STF.
Mesmo
assim, trata-se da fabricação de um escândalo menor para um
partido já acusado de participar de sequestro de bilionário e de
ser representante de um grupo terrorista armado. A acusação parecia
até leve e, de certa forma, fácil de administrar e de refutar.
Mas
aquele cheiro no ar... aquele odor desagradável persistia. Por quê?
O
que primeiramente chamou minha atenção foram as denúncias de
problemas em urnas eletrônicas. Foram além do normal, inclusive eu
mesmo tendo presenciado, o que nunca ocorreu, relatos de problemas na
seção eleitoral onde voto. Foi um tal de dizerem que a urna não
indicava, com o sinal sonoro, a conclusão do voto, ou de que não
aceitava o número desse ou daquele candidato, ou, ainda, de que o
eleitor, ao chegar para votar, era noticiado de que já havia notado.
Depois
disso, veio a espantosa, na verdade inacreditável, ascensão do
Aécio Neves, somente detectada após a contagem dos votos. Quando
escrevo inacreditável estou utilizando a palavra em sua real acepção
de "não acredito". Nem mesmo a boca de urna, pesquisa
levada a efeito após o voto do eleitor, conseguiu captar essa
ascensão.
Por
fim, apresentam-se algumas pesquisas eleitorais recentes indicando
uma situação absolutamente inédita na história das legítimas
democracias que observam o estado de direito. Sinalizam elas que os
eleitores de todos os demais candidatos resolveram, misteriosamente,
votar em peso no Aécio Neves, contrariando a lógica tradicional de
repartição dos votos, ainda que com preponderância de um dos
contendores.
Bom,
agora o fedor tornou-se insuportável.
Após
refletir por longo tempo sobre essa conjuntura, cheguei a uma
conclusão que vou compartilhar, previamente alertanto de que é um
tanto conspiratória. Creio, contudo, ser verossímil, algo a pensar.
Temo
que esteja pavimentado o caminho para um golpe branco, produzido
através da manipulação das urnas eletrônicas.
E,
por que, estariam tentando fazer isso? Por puro desespero. Explico.
Felizmente
o eleitor brasileiro tem demonstrado uma relativa imunidade aos
escândalos midiáticos. Há uma percepção de que eles sempre são
produzidos no período eleitoral, o que evidencia a sua natureza
manipulatória. O povo vem demonstrando não ter nada de ignorante,
como sugere nosso ex-presidente sociólogo, FHC.
Em
outras palavras, nada garante que o povo escolherá Aécio Neves,
pelo contrário, é mais provável sua derrota.
Numa
situação de normalidade, a elite midiática continuaria a sua sanha
manipulatória, imaginando que, um dia, isso acabaria por resultar no
"defenestramento" do PT pelo voto. E isso, de fato, é
possível, pois é notório que o sentimento antipetista vem ganhando
intensidade, alcançando inclusive setores beneficiados pelo governo
do PT.
Há
também o inevitável cansaço eleitoral. Um dia o PT sairá do
governo.
Ocorre
que essa não é mais uma situação de eleição normal. Talvez seja
a última na qual o PSDB possui reais chances de ascender ao governo
federal. Explico novamente.
Há
um fato que está ocorrendo à vista de todos, mas cuja percepção é
extremamente mitigada, contida, em função da atuação parcial da
imprensa. Esse fato é capaz de produzir, torço para que não, a
maior tragédia já ocorrida na história do Brasil, capaz de
prejudicar severamente a vida de vários milhões de brasileiros
inocentes, talvez até de provocar uma convulsão social de
proporções ainda desconhecidas.
Esse
enorme problema vai estourar em nossas caras muito, mas muito em
breve, provavelmente dias ou semanas após a contagem dos votos.
Trata-se
da crise hídrica de São Paulo.
Se
não houver uma solução rápida para esse problema gigantesco, e
pelo que tenho lido ainda não há, a água simplesmente vai acabar
em São Paulo. O cenário de uma megalópole, como São Paulo, sem
água... bom, vocês podem imaginar. Serão milhões de pessoas
desabastecidas do segundo elemento mais importante para a vida
humana, depois do ar para respirar.
Caso
esse cenário de tragédia ocorra, ainda que parcialmente, é muito
possível que o PSDB nunca mais obtenha sucesso eleitoral no estado
mais importante do país, o único de fato importante no cenário
político que ainda lhe resta, depois da derrocada tucana em Minas
Gerais.
Isso
tornaria o partido escolhido pela imprensa, imediatamente, um nanico
eleitoral que carregará a pecha de ter produzido, depois de um
inédito apagão elétrico, um ainda pior apagão hídrico. Suas
chances de disputar a presidência estariam definitivamente
sepultadas.
Ao
meu ver, esse é o desespero atual que pode conduzir à tentativa
extrema de obter o poder a qualquer preço, ainda que ao preço de
conspurcar a democracia e sujar para sempre esse bom sistema de
apuração de votos em urnas eletrônicas (seria melhor se fornecesse
a confirmação do voto em papel para ser colocado em uma urna
física, o que coibiria fraudes, mas ainda assim é bom).
E
o pior é que, se isso ocorrer, dificilmente será objeto de
investigação. Experts sérios irão às tevês debater sobre o
incrível sucesso de Aécio, sempre lembrando que as pesquisas
eleitorais... ah, as pesquisas eleitorais, já indicavam um ascensão
do tucano do primeiro para o segundo turno.
Pode
parecer uma "teoria da conspiração", mas sempre me lembro
de que a maior artimanha do demônio é nos convencer de que ele não
existe.
Pode
não ser nada, mas, em certos casos, todo atenção é pouca.
Muito bom texto, parabéns.
ResponderExcluirMas uma dúvida: como seguir o blog via Facebook?
Obrigado, Anônimo. Peça para ser adicionado à minha página do Face "Marcio Valley". Abçs.
ExcluirSeu texto seria menos cansativo e mais atrativo se você fosse mais objetivo e menos pormenorizado.
ResponderExcluirObrigado, Mayre, pela crítica. Tenho, de fato, uma ligeira tendência a ser prolixo, ainda mais se considerarmos que estamos na era dos 140 caracteres do Twiter. As pessoas desejam textos breves, concordo contigo. Trata-se de uma batalha entre o conteúdo e a ansiedade. Acredite, estou sempre tentando ser breve. É que, no mais das vezes, temo que a concisidade prejudique a interpretação da informação. Repito, obrigado pelo toque. Abçs.
ExcluirA propósito, Mayre, te convido a ingressar no grupo Valências e Referências do Facebook, através de minha página pessoal "Marcio Valley". Seria um prazer. Tem muita gente "cabeça" lá. Se estiver interessada, basta pedir para ser adicionada. Abçs.
ExcluirMarcio, li dois textos seus criticando a atitude do Roberto DaMatta lá no Nassif e gostei muito da sua argumentação. Estou visitando seu blogue pela primeira vez. A propósito, gostei do texto de hoje. Também tenho a tendência de ser prolixo. Tento, na medida do possível, seguir o ensinamento do mestre José Paulo Paes:
ExcluirProlixo: pro lixo
Conciso: com ciso
Se me permitir, gostaria de sugerir uma correção ao seu comentário do dia 14/10 às 15h06. Em vez de dizer "... temo que a concisidade prejudique a interpretação da informação." ficaria melhor dizer "... temo que a concisão prejudique o entendimento da informação."
[ ]s,
Ninguém
Obrigado, Ninguém, pela sugestão. Creio que as duas palavras podem ser usadas. Sabemos, que no processo de formação de palavras, os dois sufixos, "ão" e "idade" dão a ideia de ação, movimento. Reconheço, porém, que concisão é mais utilizada. Abraços.
ResponderExcluirLendo teu texto, senti arrepios...Não que isso não me ocorra em nenhum pensamento sinistro, mas sempre que ele aparece, varro a neura com a vassoura: estamos vivendo uma democracia, mesmo que não plena no sentido da manipulação da informação, mas concreta ao ponto de muitos dos crimes condenados no show do julgamento do mensalão, que conseguiu inverter o principio básico do direto para: Todos são culpados, ate que provem o contrário!!! Porem esses estranhos eventos de falha nas urnas, que inicialmente pareciam isolados, e que percebe-se agora ocorreram e maior numero do que foram noticiados, são de fato motivos de preocupação e mais do que nunca alerta... Rezo para que esteja sendo vitima de minha própria paranóia, mas lendo seu texto lembrei da estranha sensação que senti pela manha ao ver a placa do jornal O Sul (sou gaucha) estampando virada Aecio 51% e Dilma 49%..A pergunta que fica é ? Caso ocorra, o que poderíamos fazer de eficaz, que não seja passar pelo menos 4 anos escrevendo sobre isso e sendo taxados de dementes? Abraços
ResponderExcluirBom, podemos ir pras ruas exigir uma perícia nas urnas... Não sei se adiantaria, mas...
ResponderExcluirParabéns por tais argumentos utilizados de uma forma quase que impecável.
ResponderExcluirAchei perfeito como foi colocada sua visão do assunto.
ResponderExcluirGostaria que desenvolvesse sua visão sobre o assunto abaixo.
Embora faltar ao Decreto como formar as comissões, o mesmo foi rejeitado pelos deputados esta semana.
´Penso que a derrota foi dos deputados, que não apresentaram um substitutivo e deixando claro o receio que têm da opinião pública.