E
lá se foi o último debate eleitoral entre Dilma e Aécio.
À
exceção de Aécio logo no início, com a primeira pergunta,
tentando encurralar Dilma com uma espada forjada com a famigerada
capa da Veja que, de forma criminosa, lança suspeitas sobre Dilma e
Lula, o debate foi em geral, como os anteriores, enfadonho e morno,
repetindo-se as mesmas discussões sobre corrupção dos dois
partidos, defesa do governo de FHC e do próprio governo pelo Aécio,
defesa dos programas do governo do PT com Lula e Dilma.
Após
assisti-lo, estou convicto de que, se a eleição seguir o seu curso
natural, daqui a um dia Dilma Roussef será reeleita para dirigir o
país por mais quatro anos. Esse destino não será modificado pela
capa desesperada e criminosa da revista Veja, nem pela atuação dos
candidatos nesse debate.
Dilma,
a meu ver de forma sábia, adotou o tom certo e enérgico para
refutar a "capa de pinóquio" e, como nunca ocorreu em
situações idênticas em outras eleições, dessa vez a Veja ficou
falando sozinha, ao menos até esse momento em que escrevo, antes do
Jornal Nacional de hoje (25).
Sob
a estrita ótica do que ocorreu até aqui, nada é capaz de produzir
alteração no quadro eleitoral que já se desenhou.
O
alcance da revista Veja, sem a intensidade do megafone do Jornal
Nacional, é muito limitado, estando basicamente restrito aos seus
cerca de um milhão de assinantes e a mais uma parcela menor que lê
as pequenas notas que tem saído nos grandes jornais que repercutiram
a matéria.
Nas
bancas a Veja vende pouco, se comparado com o número de assinantes.
Há muito deixou de obter crescimento em vendas diretas por conta das
sucessivas acusações baratas vendidas ao preço de escândalos não
comprovados. Perdeu credibilidade e, na verdade, virou motivo de
piada.
Contudo,
se for considerado que uma imensa parcela dos leitores de Veja já
integram o conjunto de eleitores antipetistas, isso significa que
Aécio pouco ou nada tem a ganhar por conta dessa, hum... vamos
chamar de "matéria". É praticamente certo que os poucos
eleitores e simpatizantes do PT que porventura ainda tenham
assinatura da revista dificilmente serão influenciados por uma
fraude tão evidente.
Dilma
ganhando ou Aécio ganhando, o país sai dividido dessa eleição
como nunca se viu antes. Dividido e extremamente radicalizado. São
três segmentos populacionais muito bem delineados em relação à
opção político-ideológica: o petismo, o antipetismo e os neutros.
É
preciso, porém, destacar que não há uma divisão PT x PSDB. Isso é
um mito. O PSDB está muito longe de possuir um eleitorado militante
como o PT possui. Nesse momento, os tucanos são apenas depositários
de votos oriundos do antipetismo, este sim o movimento que fraciona o
eleitorado.
Para
o antipetismo é irrelevante quem seja o adversário do PT. Estariam
agora maciçamente votando no Eduardo Campos, se não tivesse
morrido, ou na Marina, sua sucessora, que são políticos com uma
trajetória dentro da normalidade política, porém votariam, da
mesma forma, em qualquer pessoa que viabilizasse a derrota eleitoral
do PT.
Votariam
tranquilamente no pastor Silas Malafaia, ou no pastor Feliciano, no
deputado Bolsonaro, no ator Alexandre Frota ou até no cantor Lobão
apenas pelo prazer ilusório e momentâneo de comemorar a saída do
PT do governo federal. Iriam às ruas e festejariam. O custo disso,
ah, depois a gente paga. Vale tudo para, como eles dizem, "extirpar
essa corja petista" do poder, para "acabar com a raça do
PT" na fala de Bornhausen.
Nada
mais importa e os antipetistas estão dispostos inclusive ao
sacrifício pessoal, a bancar a derrota do PT ao custo de perda da
própria renda, ao custo de desviar o Brasil da rota de
desenvolvimento social contínuo que se iniciou em 2003, com Lula.
Tornou-se
uma obsessão e toda obsessão, como se sabe, é doentia e causa
danos em quem a tem e, em muitos casos, às pessoas à sua volta.
São
essas pessoas, que já integram o antipetismo, que a revista Veja irá
convencer. O grande problema, entretanto, é que eles já estavam
convencidos.
A
bala de prata revela-se, assim, inútil para os petistas e também
para os antipetistas.
A
única ambição dessa capa, desse modo, era atingir os eleitores
indecisos e, no último momento, inverter a "boca de jacaré"
que se formou nos gráficos das pesquisas em favor da Dilma.
Tarefa
ingrata pois, eleição após eleição, os eleitores brasileiros vêm
demonstrando reiteradamente que não mais guia o seu voto em função
de discursos moralistas de corrupção, ainda mais quando proferidos
na boca da urna. Esse veneno já foi tantas vezes instilado nas veias
do eleitor que ele se tornou imunizado, cansou.
O
povo sabiamente desconfia daquele que aponta um dedo para o outro e
esquece que os outros quatro apontam para si mesmo.
E
o eleitor mais pobre vê todos os dias, dentro da própria casa, o
resultado prático de uma política governamental que privilegiou
produção, emprego e renda, que levou luz onde só via escuridão,
que fornece as condições para a criança ir à escola, enquanto pai
e mãe, muitas vezes pela primeira vez em toda a história familiar,
conseguem ingressar na faculdade através do Prouni. Essa percepção
concreta o discurso moralista de uma via só não consegue
obscurecer.
Ainda
não sei o resultado das urnas. A eleição será amanhã. Seja quem
for o vitorioso, terá que construir pontes para unir a sociedade
dividida. A divisão e o acirramento são daninhos para todos. Esse é
um imperativo para quem for o eleito.
E
torcerei pelo sucesso do projeto político vitorioso. Afinal, sou
brasileiro, não desisto nunca.
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