Esse
texto decorre dos dois anteriores aqui do blog, cuja repercussão foi
para mim extremamente surpreendente. Talvez fosse útil, para quem
ainda não leu, que os lesse para melhor compreensão deste. Eles
estão aqui:
e
aqui:
O
primeiro recebeu milhares de acessos ao blog, tanto através do
divulgador principal, o blog do jornalista Luis Nassif, a quem
agradeço, como por meio de compartilhamentos do Facebook.
O
segundo ainda está na casa das centenas, mas continua sendo
compartilhado. A maioria dos comentários se alinhou com os
pensamentos que expus. Todavia, como não poderia deixar de ser num
ambiente plural e democrático, muitos discordaram.
Os
pontos que mais chamaram atenção, nessas discordâncias, foram os
ataques ao bolsa-família, visto como elemento de voto de cabresto, e
a menção que fiz ao que chamei de "redação de Facebook",
entendido como demonstração de arrogância e preconceito de minha
parte.
A
primeira questão, relativa ao bolsa-família, foi o mote para o
segundo artigo, cuja leitura recomendo.
Quanto
ao segundo questionamento crítico, respondi diretamente a diversos
comentaristas nos próprios textos, de forma mais superficial,
esclarecendo o meu posicionamento. Agora, de forma um pouco mais
abrangente, farei algumas considerações acerca da aparente redução
que fiz em relação a quem escreve no Facebook.
Antes
de mais nada, reconheço que tais questionamentos foram pertinentes e
que uma leitura dos meus textos, sem o devido enquadramento, é capaz
de conduzir, sim, a uma interpretação de arrogância intelectual de
minha parte, intenção que contudo nunca tive.
Ressalto,
como primeiro aspecto de enfrentamento da crítica, que minha
condição não é similar à do DaMatta, pessoa que possui, para o
bem ou para o mal, uma vasta formação acadêmica e um currículo
admirável, que inclui doutorado em Harvard, uma das universidades
mais conceituadas do mundo.
Embora
apreciador de obras acadêmicas, não sou intelectual, entendido este
como aquele que organiza metodicamente o conhecimento acumulado.
Apenas leio as obras numa leitura só, de forma quase similar a quem
lê um romance. Claro que reflito sobre o lido, mas sem muita
organização, sem muito método.
Então,
minha crítica ao DaMatta precisa ser observada sob uma correta
perspectiva, ou seja, como a análise realizada por um leigo, um
não-acadêmico, sobre o modo a partir do qual um intelectual
produziu sua leitura de determinada realidade.
Também
é imprescindível ressaltar minha condição de usuário do
Facebook, que utilizo para, basicamente, divulgar os textos que
publico em meu blog. Desse modo, coloco-me na mesma condição de
redator de Facebook que utilizei para comparação com a escrita do
DaMatta.
E
justamente por ser usuário e frequentador do Facebook, tenho
condições de afirmar, por empirismo, que a qualidade do que se
escreve lá é, na média, sofrível. Repito: na média. E faço
questão de lembrar que média não é um indicador muito preciso da
realidade. Costumo fazer uma piada comigo mesmo, segundo a qual
quando estou ao lado de alguém com dois metros de altura, na média
passo a ter um metro e oitenta, o que em nada modifica meus parcos um
metro e sessenta.
O
que defendi em meus dois últimos textos é que o DaMatta, como
intelectual, como legítimo acadêmico e, precisamente por ostentar
essa condição pessoal, ser colunista de alguns dos maiores veículos
de imprensa do Brasil, não poderia dissertar, fora do Facebook, com
a mesma qualidade média sofrível verificada na rede.
Há
vida inteligente no Facebook? Claro que há e de muita qualidade.
Porém, esse reconhecimento não altera a minha sensação de que o
nível médio das discussões públicas que existem nessa rede social
é ruim.
Mas,
por que afirmo isso? Quais as experiências a esse respeito? O que
vejo sendo publicado?
Na
média, testemunho compartilhamentos maciços de bordões e memes,
uma grande parte dos quais contêm mentiras absurdas, totalmente
divorciadas da realidade e para cuja desconstituição bastaria um
clique no Google. No entanto, são postadas na mais absoluta
cara-dura, sem um mínimo de cuidado na apuração. É o oba-oba da
torcida fundamentalista.
Certo
dia, alertei uma amiga sobre a escandalosa mentira contida em seu
compartilhamento. Sua resposta foi: "Obrigado, Marcio, por me
alertar, mas vou deixar assim mesmo, porque fulana (a pessoa política
criticada) pode não ter dito isso mas é assim que pensam os
políticos". Já tive experiências semelhantes com outras
pessoas.
Enfim,
pessoas que criticam a mentira denominada corrupção, divulgam a
mentira, agora em sua acepção mais conhecida de alteração dolosa
da verdade, como instrumento de combate no front de seu
posicionamento ideológico. Não cabe outra denominação para isso
senão hipocrisia.
Uma
outra pessoa próxima, que já escreveu livro e, portanto, possui
pleno domínio da língua, é contumaz em compartilhar panfletos
alheios sobre casos escabrosos da política, sempre em um só sentido
(sobre o outro lado, o silêncio), sendo, entretanto, incapaz de
escrever uma só linha, uma só palavra de sua própria autoria, para
fundamentar essas opiniões ou para refutar as minhas, mesmo após eu
insistentemente solicitar maior detalhamento argumentativo sobre o
conteúdo dessa espécie de compartilhamento. Depois de várias
ausências de respostas, inclusive diretamente, por e-mail, eu o
bloqueei no Face. Reconheço ser desagradável, porém não vi
alternativa. Entendo ser deselegante e grosseiro ignorar quem lhe
dirige a palavra em busca do diálogo, tanto no mundo real, como no
virtual. Qual a razão em manter uma relação desprovida de troca?
Quem foge do diálogo, está fugindo de uma relação saudável, seja
amizade ou outra coisa.
Uma
outra pessoa conhecida, passou-me um sermão sobre não interferência
em sua página com opiniões contrárias às suas. A partir daí,
ante a imprescindibilidade de agradá-la em eventuais comentários, e
não sabendo como fazê-lo, pois afortunadamente sou movido por
opinião própria da qual somente recuo ante a racionalidade
dialética e jamais por receio de chiliques decorrentes de
suscetibilidades exacerbadas, deixei de comentar em sua página, com
receio de irritá-la, pois apesar de tudo ainda prezo
sentimentalmente sua amizade (a real).
Enfim,
meu testemunho é no sentido de que, em geral, as opiniões que
encontro nas páginas do Face são apenas o eco de palavras de ordem
ou o último escândalo da manchete à guisa de argumentos (não, não
são), sempre repletas de erros factuais ou de interpretação e
quase sempre de forma acrítica.
Ainda
assim, o elemento que mais trava, por enquanto (acredito no futuro da
ferramenta), a possibilidade de o Facebook (ou outra rede de
relacionamento com tal amplitude) se transformar na nova Ágora
universal, um perfeito ambiente para o exercicío da dialética
através de discussões fundadas na razão, na lógica e na
tolerância é a rejeição da opinião contrária. Aparentemente,
uma grande parcela dos usuários sonha (ou delira) em alcançar a
unanimidade.
A
interpretação da opinião divergente como ofensa pessoal e violação
do direito à própria opinião é demonstração de intolerância,
por um lado, e de contradição, pelo outro, pois nisso é esquecido
que a crítica não ofensiva é, também, uma opinião pessoal
protegida pelo mesmo direito.
Quem
considera o próprio raciocínio perfeito e indiscutível demonstra
apenas a própria ingenuidade e excesso de vaidade.
Pode-se,
sobre o assunto, adotar a moda dos cães correndo atrás do rabo em
uma discussão sem fim. Contudo, isso não modifica a percepção que
tenho quanto a péssima qualidade média dos pensamentos que encontro
no Facebook.
Posso
estar equivocado, é claro, mas não vejo isso como preconceito,
pois, como disse, também sou um "redator de Facebook", nem
de desqualificação como meio de divulgação, pois também o uso
para divulgar.
Existem
as exceções? Claro que existem e muitas. Inclusive, após a
divulgação massiva do meu texto, passei a conhecer com um pouco
mais de profundidade esse lado do Face, digamos, mais “cabeça”,
mais plural, a partir das diversas intervenções que recebi. Porém,
embora tais exceções sejam um excelente indicativo do possível
futuro das redes de relacionamento virtual, penso que ainda não são
representativas da média do que se escreve. Por enquanto, são isso:
honrosas exceções que, ainda bem, estão se multiplicando.
O
futuro é realmente promissor, porém, atualmente, e sempre
considerando a média, inexiste no Facebook, propriamente, debate
público, mas milhares de monólogos à espera de aplausos e de
concordância.
Apesar
de tudo o que escrevi até aqui, e quase parafraseando FHC (esqueçam
o que eu disse), ressalto que tudo isso é aceitável num ambiente de
absoluta despreocupação, como o Facebook, praticamente um “jogar
conversa fora”. Participa quem quer, comenta quem quer, posta quem
quer. Participo muito pouco, mas participo. Então, no ambiente do
Facebook, as regras são as do Facebook, embora, pessoalmente,
considere que seria saudável para todos que esse ambiente virtual
observasse as mesmas regras de cortesia e de discussões inteligentes
que utilizamos no real. Em debates frente-a-frente, mesmo os mais
ácidos, as opiniões divergentes em geral são escutadas, sendo
respeitado o direito ao contraditório. Isso nem sempre ocorre quando
se está oculto atrás de um teclado nas redes.
Agora,
meus textos não criticavam um redator de Facebook, mas um
intelectual de renome no país que divulga as suas "análises"
nos maiores jornais do Brasil, como O Globo ou o Estadão. Nessa
condição de intelectual e de escritor com profunda penetração na
ordem das ideias que são estabelecidas no imaginário popular, ele
não tinha o direito de utilizar redação similar à dos redatores
de Facebook. Há uma responsabilidade conceitual acadêmica nas
declarações públicas dos intelectuais e muito mais em relação
àqueles cuja audição é ampliada pela mídia. São formadores de
opinião e, nessa condição, proibidos de serem levianos.
Peço
profundas desculpas a quem se sentiu ofendido pela expressão
"redação de Facebook", porém a crítica não era a uma
redação despreocupada como praticada no Facebook, mas à
utilização, desse mesmo estilo descompromissado, por alguém que
possui responsabilidade intelectual perante a sociedade.
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