O
diálogo já está praticamente impossível, o afastamento acaba se
impondo. Estamos nos atomizando, as festas estão mais vazias.
O
problema é que, em se tratando de várias vozes distintas falando ao
mesmo tempo e sem que um ouça o outro, de um povo restrito a um
único território que não querem dividir com a divergência, o
resultado inevitável, como pontifica Leandro Karnal, é a guerra
civil, o último modo de resolução interna dos conflitos políticos
da sociedade.
Como
se inicia uma guerra civil?
Guerra
civil é o câncer de uma sociedade, seu início é imperceptível.
Se desenvolve enquanto o mundo continua girando, o sol e a lua
continuam os mesmos astros iluminando nossas cabeças, os mercados
abrem regularmente e ainda nos proporcionam comprar o nosso pão de
cada dia.
Mas...
há um incômodo difuso em nossas almas. Começamos a ir menos à
praia. Passamos a evitar alguns amigos. Sentimos menos desejo de
falar com os outros. Esse desconforto, que se instala em nossos
corações, nos leva a sentir raiva e nem sabemos bem explicar de
quem ou contra o quê. Sentindo isso, vez ou outra nos pegamos com
vontade de calar, de preferência para sempre, uma voz dissonante
muito estridente e perturbadora.
Esses
primeiros sintomas se avolumam. Com o acentuamento da intolerância
política e com a falta do debate dialético que, num gradiente de
crescimento, chega ao ponto da ruptura total, chega o dia em que, o
que era pura teoria conspiratória de loucos ensandecidos, dos quais
inclusive ríamos de incredulidade, se transforma num tétrico rio
vermelho que tinge as ruas, fere e mata pessoas indistintamente, sem
levar em conta o que a vítima pensava sobre política ou sobre
qualquer outra coisa, pouco importa. As mesmas ruas onde, antes, se
divergia apenas sobre questões menos importantes, como o uso de
ciclovias ou a redução da velocidade dos carros. Essas ruas
assistem, agora, o desenvolver da única dialética que restou: a da
violência fraterna e do sangue.
A
sopa ainda está longe da fervura, mas já está mais quente do que
jamais esteve.
Não
estou profetizando o caos e nem o desejo. Apenas temo por isso. Ainda
temos tempo para a razão. Parafraseando Lennon, vamos dar uma chance
à paz.
O
caminho: o diálogo honesto e franco entre as pessoas. Fugir do
diálogo, não ouvir o outro, é um modo de agir possível no começo,
desde que se esteja aberto para o que poderá ocorrer no final.
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