sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A sopa está quase fervendo

O clima político está tenso, muito tenso, mas não se preocupem... pode piorar e provavelmente irá piorar.
O diálogo já está praticamente impossível, o afastamento acaba se impondo. Estamos nos atomizando, as festas estão mais vazias.
O problema é que, em se tratando de várias vozes distintas falando ao mesmo tempo e sem que um ouça o outro, de um povo restrito a um único território que não querem dividir com a divergência, o resultado inevitável, como pontifica Leandro Karnal, é a guerra civil, o último modo de resolução interna dos conflitos políticos da sociedade.
Como se inicia uma guerra civil?
Guerra civil é o câncer de uma sociedade, seu início é imperceptível. Se desenvolve enquanto o mundo continua girando, o sol e a lua continuam os mesmos astros iluminando nossas cabeças, os mercados abrem regularmente e ainda nos proporcionam comprar o nosso pão de cada dia.

Mas... há um incômodo difuso em nossas almas. Começamos a ir menos à praia. Passamos a evitar alguns amigos. Sentimos menos desejo de falar com os outros. Esse desconforto, que se instala em nossos corações, nos leva a sentir raiva e nem sabemos bem explicar de quem ou contra o quê. Sentindo isso, vez ou outra nos pegamos com vontade de calar, de preferência para sempre, uma voz dissonante muito estridente e perturbadora.
Esses primeiros sintomas se avolumam. Com o acentuamento da intolerância política e com a falta do debate dialético que, num gradiente de crescimento, chega ao ponto da ruptura total, chega o dia em que, o que era pura teoria conspiratória de loucos ensandecidos, dos quais inclusive ríamos de incredulidade, se transforma num tétrico rio vermelho que tinge as ruas, fere e mata pessoas indistintamente, sem levar em conta o que a vítima pensava sobre política ou sobre qualquer outra coisa, pouco importa. As mesmas ruas onde, antes, se divergia apenas sobre questões menos importantes, como o uso de ciclovias ou a redução da velocidade dos carros. Essas ruas assistem, agora, o desenvolver da única dialética que restou: a da violência fraterna e do sangue.
A sopa ainda está longe da fervura, mas já está mais quente do que jamais esteve.
Não estou profetizando o caos e nem o desejo. Apenas temo por isso. Ainda temos tempo para a razão. Parafraseando Lennon, vamos dar uma chance à paz.

O caminho: o diálogo honesto e franco entre as pessoas. Fugir do diálogo, não ouvir o outro, é um modo de agir possível no começo, desde que se esteja aberto para o que poderá ocorrer no final.

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