Não
posso me afirmar um grande fã de sua carreira, que na verdade
conheço pouco, mais dos tempos de criança, quando ainda assitia
novelas em função do apreço dos meus pais por esse tipo de
entretenimento. Naquele tempo as casas em geral somente tinham uma televisão, o que já era um luxo para poucos. Então, não havia escolha, quando o pai chegava a gente assistia o que ele queria.
Contudo, o sentimento de perda é real, pois o nome da Yoná é um dos muitos que
me acompanharam por toda a vida, como Tonia Carreiro, Rede Globo, Silvio Santos e tantos outros. Esses últimos ainda continuam a existir como constituintes, células externas, da pessoa que sou, de minha própria existência.
me acompanharam por toda a vida, como Tonia Carreiro, Rede Globo, Silvio Santos e tantos outros. Esses últimos ainda continuam a existir como constituintes, células externas, da pessoa que sou, de minha própria existência.
Sim,
porque tudo que tangencia a nossa vida torna-se, ela própria, um
pedaço do que somos. E vejo, cada vez mais, alguns desses pedaços
indo embora. Casas da Banha, Tv Tupi, Chacrinha, Cazuza, Michael
Jackson, datilografia, telefone discado...
Tudo
coisas, marcas e pessoas que, em algum momento, foram comuns aos meus
sentidos. Eu os via, os ouvia, os tocava, enfim, os sentia. Onde
estão? Foram-se, atropelados pelo tempo, pela modernidade, pelas
doenças, pela incessante necessidade de novidades, enfim, pela
inexorável finitude da existência. Quanto às coisas, e jamais
pensei que diria isso um dia, estou ficando cansado da
obrigatoriedade da renovação, do culto extremado à inovação.
Qual
o grande problema em permanecer um pouco mais com aquilo que ainda
nos serve tão bem? Por que essa corrida pelo deslumbramento da última novidade?
Nem sou tão velho assim, mas já pertenço a uma espécie semi-extinta,
pois sou um dos últimos exemplares do homo conservandis,
aquele que aproveitava, consertava e reaproveitava quase tudo que um
dia lhe fora útil. Hoje, troca-se, joga-se fora e coloca-se outro no
lugar.
Sou
do tempo em que o platinado da moto era consertado e não meramente trocado.
Hoje, nem existe mais moto com platinado e quando alguma peça dá
problema, coloca-se outra no lugar. À peça defeituosa, o lixo.
Tudo
é fugaz, desimportante.
Em
relação às empresas de antigamente, a voracidade do capital as
foram tornando inviáveis, antiquadas, não lucrativas. O antigo
brilho de suas lojas foi-se, aos poucos, sendo apagado pela opacidade
da ambição pelo lucro a qualquer preço, e sempre cada vez maior. E
aqui estamos nós, sem a Mesbla, sem a Ultralar e sem tantas outras
empresas que, no meu tempo de juventude, eram as senhoras cintilantes das
calçadas.
Aliás,
lojas de calçada também se tornaram demodê num mundo onde cada vez
mais os shoppings impõem o modelo de consumo brilhante e iluminado.
Por
fim, também algumas pessoas se foram e continuam indo, cada vez em
maior número. Quanto a essas, não há solução. O tempo as
vai levando, as vai retirando de nossas vidas, levando-as para algum
lugar intangível e deixando, aos que ficam, somente lembranças,
saudades, nostalgia. Um dia, nós mesmos iremos, em busca delas.
Este ano, em junho, meu pai também se foi, aos 82 anos, componente importantíssimo de minha vida.
Este ano, em junho, meu pai também se foi, aos 82 anos, componente importantíssimo de minha vida.
Cada
uma dessas coisas e pessoas que vão deixando de fazer parte do
cotidiano rol das causas de nossas sensações, sentimentos e
percepções, são parte de nós mesmos que vão deixando de existir.
Como
se a morte, afinal, não ocorresse num ato único e formidável momento, mas
se desenvolvesse um pouco a cada dia.
Como
se a vida de nós fosse sendo levada a cada coisa a que deixamos de
ter acesso, a cada porta que se fecha na calçada, a cada marca que é
varrida do mercado e, principalmente, a cada rosto que jamais
voltaremos a ver, a cada voz que nunca mais ouviremos, a cada mão
que nunca mais nos tocará.
A
morte, portanto, não é um ato único, uma cena nesse peça em que atuamos, mas um processo que se desenrola
ainda enquanto vivemos.
Fatídico,
amedrontador, inevitável.
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