domingo, 18 de outubro de 2015

Eleição de 2018: atenção ao legislativo



O comentarista Weden, em texto de sua autoria publicado no blog do Luis Nassif, ancorado no portal de notícias GGN, cujo link forneço ao final, fala sobre o imenso capital político de Lula, sustentando que talvez não seja na presidência que ele poderá dar sua melhor contribuição em favor do país. Na opinião de Weden, numa conjuntura política em que se tem um legislativo reacionário e a necessidade de um presidencialismo de coalisão para obtenção governabilidade, o presidente eleito, qualquer que seja, se torna apenas um sócio do poder e, às vezes, nem isso.
Weden nos chama a atenção para um fato: “Hoje as esquerdas estão reduzidas a 1/6 do Congresso. Com isso, direitos de cidadania e trabalhistas estão correndo sérios riscos. E outros tantos que precisam ser conquistados estão infelizmente adiados.”
Constatada essa realidade política, Weden sugere que “Lula poderia ser um inestimável puxador de votos para as esquerdas na próxima legislatura.”
Absolutamente perfeita a lógica do Weden.
De fato, talvez a melhor estratégia política a ser adotada pelo PT para as eleições de 2018 fosse colocar a eleição presidencial em segundo plano, um objetivo secundário.
O momento poderia ser adequado para mirar outro alvo, tão importante quanto, que vem sendo negligenciado pelo partido desde as eleições de 2002, quando conquistou o poder federal. Desde então, o foco em manter a presidência custou ao partido perdas muito importantes, não somente no legislativo, como em mandatos municipais e estaduais.
Como partido, o PT se manteve razoavelmente estável na Câmara dos Deputados desde a eleição de Lula, em 2002, embora reduzindo suavemente a bancada em cada eleição. Todavia, sofreu uma redução acentuada em 2014. De fato, foram eleitos 91 deputados federais petistas em 2002, 89 em 2006, 86 em 2010 e 70 em 2014.
No Senado, sua bancada permaneceu mais estável. Em 2002, nas eleições para renovação de dois terços do senado, sendo disputadas, portanto, 54 das 81 vagas, o PT elegeu 10 senadores. Em 2006, para renovação de um terço, 27 das 81 vagas, foram eleitos 2 senadores petistas. E assim sucessivamente, 11 senadores em 2010 (eleição de 2/3) e 2 em 2014 (eleição de 1/3).
No conjunto das forças progressistas, porém, o tombo foi ainda mais retumbante. As eleições passadas para o legislativo, em 2014, produziram o congresso certamente mais obscurantista das últimas décadas e possivelmente o pior da história do Brasil. Congresso que se apresenta com uma tessitura política engendrada a partir de um conservadorismo que se poderia considerar honesto, mas é manchado ao se aliar, por mero oportunismo político, à pior espécie do conservadorismo fundamentalista religioso e à fatia mais abjeta do patriamonialismo político.
A conclusão resulta, primeiro, da observação pura e simples das práticas que, desde então, passou a pautar as ações do Congresso, que, por exemplo, em nada se envergonha de eleger, para presidi-lo, um político que sabidamente representa o mais vil patrimonialismo político. Ou, ainda, que nomeia um pastor evangélico retrógrado, e por isso mesmo contra qualquer avanço nos direitos dos homossexuais, para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, o que representa um insulto a todo e qualquer eleitor que se posicione favoravelmente à supremacia dos direitos humanos.
Segundo, da análise de levantamento realizado pelo Diap logo após as eleições e que já prenunciava o que viria. Numa contagem mínima e otimista, o Diap concluiu que foram eleito 30 deputados federais representantes da bancada da segurança, mais 52 representando os evangélicos e outros 190 pela bancada corporativa.
Tem-se, pois, nada mais, nada menos, do que 272 deputados federais inclinados ao conservadorismo, ao obscurantismo e à redução dos direitos e liberdades individuais. Como são 513 deputados federais que formam a Câmara dos Deputados, isso significa que 53% de sua composição é hoje formada por políticos que atuam na contramão dos avanços civilizatórios.
O horror, o horror!
Um congresso dessa qualidade precisa ser urgentemente defenestrado e renovado.Impõe-se ampliar o número de parlamentares com ideias arejadas sobre a questão social, não somente em relação à mitigação da desigualdade de renda e riqueza, importante por óbvio, mas também quanto a questões sensíveis envolvendo direitos das minorias, como os preconceitos em geral e notadamente o racial, direitos homoafetivos, a questão do aborto e outros. São assuntos que, com essa composição congressual, somente serão colocados em pauta com o objetivo de cassar conquistas, jamais para avançar.
Com um congresso abjeto, como o atual, de pouco ou nada adianta conquistar a presidência. Fica-se amarrado à lógica fisiologista de produzir governabilidade a qualquer custo, com a única alternativa de lutar contra a sanha oposicionista e sucumbir, pois, sem maioria no Congresso e sem o apoio da imprensa, não há chance de vitória.
O segundo governo Dilma, sob a coação desse Congresso obscurantista, é um exemplo perfeito de como é possível à oposição paralisar por completo a materialização do projeto político eleito pelo povo.
Vive-se um momento paradoxal da política nacional. Dilma foi obrigada a se render ao inimigo. Doravante, e até o final de seu mandato, qualquer conquista social, se houver, será mínima. O que deveria ser o ministério de um partido, o PT, é hoje, em essência, o ministério de um segundo partido, o PMDB, que por sua vez põe em prática uma cópia suavizada da proposta de poder de um terceiro partido, o PSDB.
Trata-se de uma insanidade política e uma violação ao direito democrático de opção popular. O povo escolheu o PT, não foi o PMDM e nem o PSDB.
O momento, assim, é de olhar para a eleição legislativa com mais carinho. A esquerda precisa ser reforçada.
Muito melhor para o povo a existência de um legislativo progressista fiscalizando um eventual executivo conservador, do que um executivo progressista manietado por um legislativo reacionário.
E não é impossível que o PT, mesmo sem Lula candidato, ganhe a eleição presidencial. Mesmo a derrota talvez seja positiva. Nada como a comparação para dissipar mentiras e possíveis dúvidas. Deixe o conservadorismo desmiolado mostrar o seu trabalho e ele se derrotará sozinho.
Lula, em São Paulo, se candidato a deputado federal, por exemplo, levaria com ele para Brasília, talvez, mais uns quinze deputados. Tiririca, com pouco mais de um milhão, elegeu outros cinco. Liberado da eleição presidencial, seria capaz, ainda, de auxiliar na conquista de cadeiras no senado e ajudar a eleição de deputados federais em outros estados.
A guerra política pode ser vencida de muitas maneiras. Talvez a batalha direta pela presidência não seja assim tão importante nessa guerra que se trava no país entre progressistas e reacionários.
É hora de pensar o legislativo.

Link para o texto do Weden: http://jornalggn.com.br/blog/weden/o-capital-lula

2 comentários :

  1. Entendendo o que está acontecendo na Câmara Federal.

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  2. A princípio concordo mas vem os poréns. Se abrirmos mãos da cargo maior, quem nos garante que o ocupantes irá manter nosso patrimônio? Sabemos muito bem que quando o eleito toma posse, há uma debandada de oportunistas para o partido vencedor, tal qual foi no primeiro mandato de Lula. Depois, com o desgaste natural do poder, começa-se a chantagear para aprovar qualquer decreto enviado ao Legislativo. Isto sem falar nas pressões dos llobys "BBBB", (Biblia;Boi;Bala e por último, mas o mais importante BANCO!
    Assim meus caros amigos, esta sugestão de se abandonar o executivo e se voltar ao legislativo poderia ser uma opção válida, sd não fosse o perfil, infelizmente diga-se, de bandidagem de nossos presentes e futuros politicos.
    Finalizando diria - nossos inimigos agradecem estas e outras traições, e as remunera generosamente !!!

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